quinta-feira, janeiro 15, 2009

Introdução à teoria dos conflitos

Recomendado pelo sempre inefável João Miranda, dei com o maradona (com minúscula) nestes escantados propósitos:

Digamos, para começar, que o "entender dele" não é apenas dele: é dele e da Helena Matos, do Pacheco Coiso, e de mais uma vastíssima série de peritos militares ultra-sofisticados. Digamos, para fim de começo, que está na fase do entendimento colectivo.
Todavia, extraem-se prodígios duma pérola destas. E nem é preciso ir à realidade, basta ir à lógica. Se a IDF faz a guerra e o Hamas faz o terrorismo, e o terrorismo nada tem a ver com a guerra bem como vice-versa, batatis butantis e coiso e tal, podemos subentender que jamais se cruzam. Lembram até aquela banda fabulosa da minha juventude - "Os Paralelos do Ritmo": por mais que tocassem, jamais se encontravam. Quer dizer, a IDF, no conceito maradónico, faz a guerra não certamente ao Hamas, porque nesse caso o Hamas ver-se-ia forçado a participar no higiénico acontecimento, mas a terceiros ou incertos; e o Hamas faz o terrorismo, não à IDF, essa beldade fogosa, mas a quaisquer outros. Ora, não sendo muito plausível que a IDF faça a guerra sozinha (o que indiciaria uma espécie de onanismo bélico particularmente alucinado), a quem é que a IDF faz a guerra? E a quem, exactamente, além do maradoninha, da Helena Matos, do Pacheco Coiso e de mais não sei quantos papagaios louros, é que o Hamas faz o terrorismo?
Bem, assim à vista desarmada, tudo indica que o Hamas faça terrorismo, no mínimo, aos civis israelitas. Imbuída do mesmo espírito, a IDF faz guerra aos civis palestinianos. Mais ou menos segundo a máxima: "ai é, estão a atirar pedras e foguetes aos nossos? Então vamos atirar mísseis e bombas aos vossos!" Cada qual atira aquilo que tem e mais não é obrigado. A IDF tem mais e melhor e por isso exerce uma guerra nas condignas e industriais condições de higiene, devidamente autorizada pela ASAE global; o Hamas, impossibilitado de aceder à indústria por falta de meios e de equipamento de ultra-pasteurização da violência, dedica-se à venda ambulante e ao artesanato, enfim, faz terrorismo. Mata ilegalmente; estropia por contrafacção.
Está a acompanhar-me?...
Então agora leia um pequeno trecho de prosa ainda mais sugestiva, pedagógica e edificante:

«3.h. Quando se tenha em vista a actuação em território nacional que possa vir a ser ocupado pelo inimigo, as actividades irregulares devem assentar numa estrutura estabelecida desde o tempo de paz, destinada fundamentalmente a orientar, enquadrar e organizar a população, de modo a:
1) Impedir a sua colaboração com o inimigo.
2) Convencer a população a continuar a obedecer ao governo nacional, mesmo no exílio, muito especialmente quando se previr a rápida reconquista do território nacional.
3) Conseguir a organização de guerrilhas e de redes de agitação, espionagem e terrorismo, a criar e treinar com base em quadros ou forças preparadas para tal e que foram previamente deixadas nas áreas de interesse ou posteriormente nelas infiltradas.»

E mais adiante, um delicioso pormenor, que decerto o locupletará de contentamento:

«4.b. Em termos clássicos, o potencial de combate das guerrilhas é desvantajoso para estas, quando em confronto directo com forças regulares inimigas, pelo que as guerrilhas procuram evitar o combate em modalidades que não sejam as suas. Fazem emboscadas e flagelações para causar o maior número de baixas possível ao inimigo e empregam explosivos para efectuar destruições. Em áreas urbanas e suburbanas recorrem ao tiro de precisão (nota: snipers, como agora está na moda chamar-se) para abater determinadas entidades. Com o aparecimento dos mísseis ligeiros, as viaturas e aeronaves em voo baixo passaram também a constituir alvos possíveis para as guerrilhas. Além de atacarem objectivos, as guerrilhas podem levar a efeito acções de resistência passiva e activa, espionagem, subversão, diversão, terrorismo e propaganda

Agora, se julga que isto é da minha lavra retórica, está, vossência e os seus amiguinhos mais simpatizantes da cona da tia que da cona da prima, muito enganado. Isto tem já uns quase trinta anos. Intitula-se assim:
«Regulamento de Campanha - Operações - Vol.II, Cap XX, da 3ª Repartição do Estado-Maior do Exército (Português, imaginem só), 1979.»

As porcarias que eu tenho lido ao longo desta minha conturbada existência, meu Deus!...

Já agora, mais informo que o capítulo XX deste Regulamento tem como título: "Emprego de Forças Irregulares".
Entretanto, ouso supor, o que o maradona minusculado quis dizer com "a IDF faz a guerra e o Hamas faz terrorismo" seria, provavelmente, "a IDF faz amor, mas o Hamas só quer sexo!"; ou "a IDF pretende constituir família, mas o Hamas só toca punheta"; ou "a IDF joga futebol, mas o Hamas só dá sarrafada.";ou ainda "a IDF joga um ténis de finíssimo recorte, mas o Hamas responde com raquetes de badmington", etc, etc. Tem um certa desculpa. Meteu-se à boleia duma ideia qualquer que viu a passar. O português vai para as ideias como para os restaurantes: onde vê ajuntamento, embarca. Achou também que devia chatear os chacais melífluos do estilo Danielzinho Dandoca ou Miguel Portas em turismo de massacre. O problema é que para chatear os chacais e os abutres-da-onça, travestiu-se de hiena - de hiena malhada. E vê-lo assim, todo fardado de Henrique Raposo, para mim, que ia a passar, foi irresistível. Já não falando em mais esta oportunidade para ridicularizar o Miranda.
(Ou então, convém salvaguardar, estava a ser irónico, genialmente irónico, o maradona. E eu, que sou bestialmente estúpido, que nunca li o Seinfeld, Deus me perdoe, não percebi.)

Quanto aos restantes, os falcoisinhos de aviário e demais onanistas de açougue (a Leninha, o Pacheco e demais peritos militares de vão de escada) nem sequer sois caso para dizer "quando um gajo não sabe foder, até os colhões estorvam". No vosso caso, nem isso, nem esse pequeno embaraço ocorre. Pura e simplesmente, não estorvam. Não é por estorvo que vos impedem: é por simples ausência. Os tomates e a coluna.

E se este clister mental preliminar, como bem calculo, não vos satisfaz cabalmente, não desesperem: o empalamento é já a seguir. Em regime de floresta.




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