terça-feira, janeiro 27, 2009

Primeiras impressões

Consta que o país está de respiração contida e à beira dum ataque de hemorroidal sanguinolento não tanto por causa desta mais recente proctopalha descoberta nas imediações do primeiro Ministro da nacinha, mas por via do meu - prolongado, enigmático, soturno!-, silêncio acerca de tão catapungente fenómeno. Bem, de modo a não causar mais embaraços ao trânsito e à economia, tenho a dizer, sucinta mas peremptoriamente, o seguinte:
Eu, no lugar do tal Primeiro Ministro (que, não por simples acaso, é o vosso), em querendo ganhar apenas as próximas eleições, dava corda e deixava andar. Todavia, em desejando alcançar nova, e quiçá mais retumbante, maioria absoluta, fazia ainda mais simples: propiciava a que me constituíssem arguido (não era decerto difícil, aqueles rapazes da PJ são óptimos a tratar de encomendas) e fugia para o Brasil logo de seguida, com todo o estardalhaço possível . A nacinha é só uma mega-Felgueiras. Ou imenso Felgueiras-shopping, se preferirem.
Isto é tão lógico, evidente e fatal quanto a sina do outro bando laranja da hidra cleptocrata ser o de só voltar a ganhar eleições quando aquele energúmeno que fugiu para a Europa de lá retornar.
Aliás, esta retornofilia compulsiva constitui "modus-reinandi" sufraginoso cá na paróquia desde, pelo menos, o 25 de Abril de 1974. Relembro que logo no primeiro acto desse nebuloso jaez, Soares e Cunhal foram os grandes triunfadores, um porque, já nessa altura, tinha fugido para a Europa, e o outro porque tinha andado desalvorado sabe-se lá por onde (era vastíssima a União Soviética).
Ah, mas lembra-me agora, já em 1820, ou coisa que o valha, para efeito da primeira constituinte, a malta correu a vitoriar uns que tinham fugido para Inglaterra.
Penso que não é necessário acrescentar mais nada. Por estas bandas, já constitui tradição política hegemonizante: quem mais foge, é quem mais ganha. O português admira - direi mais, baba-se de enlevo - com todo aquele que se escafede em grande aflição, para depois regressar em fulgurante triunfo. O retornado glorificado é só o final feliz do emigrante típico e endémico. Seja no que for, já se tornou dogma nesta terra: os melhores vão lá para fora. A partir do momento que saia daqui, e quanto mais depressa (e sob maior dose de riscos e tribulações) melhor, qualquer um, e ainda mais sendo figura pública ou escaparateada, ganha de imediato faculdades a rondar o semideus instantâneo e portador de uma reputação não apenas ultrapasteurizada como, sem exagero, de aço inoxidável. Através do martírio turístico, por desobra e desgraça, qualquer São Sebastião à partida metamorfoseia-se maravilhosamente em Dom Sebastião à reentrada.
Para já, é o que me ocorre dizer.

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