«Não compreendo como é que alguém consegue gostar de um "espectáculo" que nos mostra imagens destas», queixa-se, amargamente, o JCD.
A imagem é a que se segue:
Eu, para ser franco, além dessas tais (que, por regra, não vejo), também não compreendo como é que alguém consegue gostar de um "espectáculo" que nos mostra imagens destoutras ( às quais igualmente, com fervor ainda mais religioso, não assisto):
Provavelmente, nestas, o digníssimo JCD garantirá que não há mistério nenhum. Que é apenas o Mercado a funcionar. Eu é que tenho a mania que sou elitista e não respeito os gostos do vulgo. Milhares, milhões de vulgo. E, além disso, não tem qualquer comparação: a tortura sanguinária e brutal do pobre cornúpeto e a exibição destes programas verdadeiramente educativos para as massas. De resto, são touradas modernas. Não são touradas obsoletas, anacrónicas, tradicionaleiras. E tudo o que é moderno é bom. Ou, pelo menos, não é mau, não é cruel, não é horrível. Não andam a espetar farpas nos lombos dum pobre bovino gladiador. E ainda têm o patrocínio do BES ou da Coca-Cola. É verdade. De facto, apenas toureiam os nossos filhos; apenas torturam a nossa própria espécie; apenas estupidificam e ajavardam os nossos vizinhos e semelhantes. No entanto, dado que se trata duma tortura psicológica, não conta. É subjectivo. E as vítimas até gostam, juram que sim, pelam-se por cada novo episódio. Vociferariam se lhes retirassem a dose. Não, compenetremo-nos: A tortura física, a espirrar sangue, é que é. O touro sangra, muge de dor (e raiva, presumo); os alarves só dão gargalhadas, casquinam como macacos ou ululam em manada. A tortura física magoa a besta; a psicológica apenas bestializa o humano. Não se fala mais nisso.
O touro, portanto, coitadinho... Chacinam-no, aqueles grandessíssimos sádicos, e a TV, não raras vezes, ainda transmite em directo. E o pior, não sei se o caro senhor reparou, é que neste último sarau torcionário, a lotação estava esgotada. Esgotadíssima. Ora, isto é terrível. Quer dizer que há público, que há clientela, que pululam, salivam e reclamam consumidores. Alguns até, conforme sugere no seu pungente postal, amigos seus, gente usualmente meiga e de bom coração. Que -estimo - esquiam consigo pela Serra Nevada abaixo. Ou o acompanham, de cachecol e buzina, às tragédias da Alvaláxia. Mas que uma vez abivacados no redondel sinistro, basbaques daquela barbárie arcaica, desatam aos olés, a atirar flores, chapéus e algumas, sobrexcitadas, segundo me contou um amigo meu que foi forcado, até as cuequinhas.
Mas público é público. Consumidor é consumidor. Estamos, como deve calcular, a entrar em território santo; largamos o profano e embrenhamo-nos destemidamente no sagrado. É o Mercado a funcionar, pois claro. Um catecúmeno da sua categoria não precisa, com certeza, que eu, um ignóbil herege, lhe faça o croquis da coisa, ou, ainda menos, lhe recapitule a cartilha, pois não? Seria bonito!... Em todo o caso, mesmo que o devaste amnésia súbita, estou certo que o seu confrade João Miranda saberá socorrê-lo a rigor.
Aqui há tempos a cantadeira Ágata brindava a nação com o seguinte desabafo: "Sou pimba, mas tenho um Mercedes". "Esta gaja é uma puta duma liberal, caralhos a fodam!", fumeguei eu para com os meus botões, mas isso agora não vem ao caso. O que importa é reconhecer que os torturadores-de-bois, que tanto o desgostam, em fogozo tandem com a flausina, podem dizer o mesmo: "Somos cruéis, mas temos público". O que resulta que também têm quintas, casas nas quintas, Mercedes, BMWs, Volvos, Jipes, em suma: são pessoas de sucesso, cidadãos eméritos, vedetas do showbiz, cometas do jet-set, estrelas da "Caras", da "Lux", comendadores condecorados e, não tenha dúvidas, se abrissem um blogue, davam-lhe dez a zero com uma perna às costas e um braço ao peito. Pronto, não são americanos, não falam inglês, não massacram árabes por esse mundo fora, ou torturam comunas na américa latina, mas não se pode ter sempre tudo, não é?
E tem outra coisa, estimado JCD: chacinar o infeliz ruminante cria riqueza, gera emprego, promove turismo. Não me diga que quer torpedear o melhor dos mundos com essa erupção destrambelhada de escrúpulos morais?! Não me diga que os valores cristãos -tais como a compaixão- são péssimos para as pessoas, mas indispensáveis para os bovinos!... Ainda para mais quando milita num blogue cujo lema emblemático é "acabar com a bovinidade". Lamento, mas a coerência cobra tributo. Ou devia cobrar. Não gosta de ver, tapa os olhos. Faz como eu, não compra bilhete, não assiste. O touro em causa, porventura, é propriedade sua? Se o matam à missionário, no açougue municipal, ou com preliminares e requintes, na arena, em que é que isso são contabilidades do seu rosário? É o seu direito à indignação? Sem dúvida, Deus, digo, o Mercado lho guarde. Permita até que me indigne consigo. Indignemo-nos juntos! Podemos também indignar-nos por causa daqueles míudos nos teares paquistaneses, indonésios et al, que produzem aquele belo calçado Reebok com que fazemos jogging (bem, eu não, eu é mais putedo, mas também se percorrem grandes distâncias, verdadeiras maratonas atrás das putas, ou em cima delas, tanto faz, o Caguinchas é testemunha)?... Não? Porque isso é indústria, não é "espectáculo", ou seja, não se vê, está escondido, longe da vista, longe do coração?... Ah, pois, que cabeça a minha. Sim e não são animais do primeiro mundo, são apenas pessoas -ainda por cima monhés, chinocas ou escarumbas - do terceiro, cujo dever essencial é trabalhar e sacrificar-se para que nós, abençoadinhos, predestinados, liberdadeiros, consumamos produtos cada vez mais baratos. Poderá parecer uma tortura, mas não é. Ou melhor: não é uma tortura gratuita, frívola, com lentejoulas. Pelo contrário, é uma tortura útil, fundamental, filantrópica e necessária. Um sacrifício que uns fazem pela felicidade dos outros. Puro amor ao próximo, se bem que longínquo, convenhamos. Cristianismo aplicado, há que reconhecê-lo (no calvário deles repousa a nossa salvação). Por isso mesmo nem se lhe chama tortura: chama-se-lhe trabalho. Há lá coisa melhor que o trabalho deles e o nosso emprego e respectivas férias?! E de pequenino é que se torce o destino. Além disso, entre estarem ali bem arrecadadinhos e concentrados horas a fio, a treinarem e adestrarem-se para o desemprego, ganhando o seu dinheirinho, se bem que diminuto, ou andarem a prostituir-se a pedófilos, a serem esquartejados para tráfico de órgãos, ou a darem tiros como aprendizes numa qualquer milícia de bandidos muçulmanos ou animistas, só temos que agradecer à globalização que permite estes notáveis progressos. Verdadeiros milagres, sou forçado a concordar.
A imagem é a que se segue:
Eu, para ser franco, além dessas tais (que, por regra, não vejo), também não compreendo como é que alguém consegue gostar de um "espectáculo" que nos mostra imagens destoutras ( às quais igualmente, com fervor ainda mais religioso, não assisto):
Provavelmente, nestas, o digníssimo JCD garantirá que não há mistério nenhum. Que é apenas o Mercado a funcionar. Eu é que tenho a mania que sou elitista e não respeito os gostos do vulgo. Milhares, milhões de vulgo. E, além disso, não tem qualquer comparação: a tortura sanguinária e brutal do pobre cornúpeto e a exibição destes programas verdadeiramente educativos para as massas. De resto, são touradas modernas. Não são touradas obsoletas, anacrónicas, tradicionaleiras. E tudo o que é moderno é bom. Ou, pelo menos, não é mau, não é cruel, não é horrível. Não andam a espetar farpas nos lombos dum pobre bovino gladiador. E ainda têm o patrocínio do BES ou da Coca-Cola. É verdade. De facto, apenas toureiam os nossos filhos; apenas torturam a nossa própria espécie; apenas estupidificam e ajavardam os nossos vizinhos e semelhantes. No entanto, dado que se trata duma tortura psicológica, não conta. É subjectivo. E as vítimas até gostam, juram que sim, pelam-se por cada novo episódio. Vociferariam se lhes retirassem a dose. Não, compenetremo-nos: A tortura física, a espirrar sangue, é que é. O touro sangra, muge de dor (e raiva, presumo); os alarves só dão gargalhadas, casquinam como macacos ou ululam em manada. A tortura física magoa a besta; a psicológica apenas bestializa o humano. Não se fala mais nisso.
O touro, portanto, coitadinho... Chacinam-no, aqueles grandessíssimos sádicos, e a TV, não raras vezes, ainda transmite em directo. E o pior, não sei se o caro senhor reparou, é que neste último sarau torcionário, a lotação estava esgotada. Esgotadíssima. Ora, isto é terrível. Quer dizer que há público, que há clientela, que pululam, salivam e reclamam consumidores. Alguns até, conforme sugere no seu pungente postal, amigos seus, gente usualmente meiga e de bom coração. Que -estimo - esquiam consigo pela Serra Nevada abaixo. Ou o acompanham, de cachecol e buzina, às tragédias da Alvaláxia. Mas que uma vez abivacados no redondel sinistro, basbaques daquela barbárie arcaica, desatam aos olés, a atirar flores, chapéus e algumas, sobrexcitadas, segundo me contou um amigo meu que foi forcado, até as cuequinhas.
Mas público é público. Consumidor é consumidor. Estamos, como deve calcular, a entrar em território santo; largamos o profano e embrenhamo-nos destemidamente no sagrado. É o Mercado a funcionar, pois claro. Um catecúmeno da sua categoria não precisa, com certeza, que eu, um ignóbil herege, lhe faça o croquis da coisa, ou, ainda menos, lhe recapitule a cartilha, pois não? Seria bonito!... Em todo o caso, mesmo que o devaste amnésia súbita, estou certo que o seu confrade João Miranda saberá socorrê-lo a rigor.
Aqui há tempos a cantadeira Ágata brindava a nação com o seguinte desabafo: "Sou pimba, mas tenho um Mercedes". "Esta gaja é uma puta duma liberal, caralhos a fodam!", fumeguei eu para com os meus botões, mas isso agora não vem ao caso. O que importa é reconhecer que os torturadores-de-bois, que tanto o desgostam, em fogozo tandem com a flausina, podem dizer o mesmo: "Somos cruéis, mas temos público". O que resulta que também têm quintas, casas nas quintas, Mercedes, BMWs, Volvos, Jipes, em suma: são pessoas de sucesso, cidadãos eméritos, vedetas do showbiz, cometas do jet-set, estrelas da "Caras", da "Lux", comendadores condecorados e, não tenha dúvidas, se abrissem um blogue, davam-lhe dez a zero com uma perna às costas e um braço ao peito. Pronto, não são americanos, não falam inglês, não massacram árabes por esse mundo fora, ou torturam comunas na américa latina, mas não se pode ter sempre tudo, não é?
E tem outra coisa, estimado JCD: chacinar o infeliz ruminante cria riqueza, gera emprego, promove turismo. Não me diga que quer torpedear o melhor dos mundos com essa erupção destrambelhada de escrúpulos morais?! Não me diga que os valores cristãos -tais como a compaixão- são péssimos para as pessoas, mas indispensáveis para os bovinos!... Ainda para mais quando milita num blogue cujo lema emblemático é "acabar com a bovinidade". Lamento, mas a coerência cobra tributo. Ou devia cobrar. Não gosta de ver, tapa os olhos. Faz como eu, não compra bilhete, não assiste. O touro em causa, porventura, é propriedade sua? Se o matam à missionário, no açougue municipal, ou com preliminares e requintes, na arena, em que é que isso são contabilidades do seu rosário? É o seu direito à indignação? Sem dúvida, Deus, digo, o Mercado lho guarde. Permita até que me indigne consigo. Indignemo-nos juntos! Podemos também indignar-nos por causa daqueles míudos nos teares paquistaneses, indonésios et al, que produzem aquele belo calçado Reebok com que fazemos jogging (bem, eu não, eu é mais putedo, mas também se percorrem grandes distâncias, verdadeiras maratonas atrás das putas, ou em cima delas, tanto faz, o Caguinchas é testemunha)?... Não? Porque isso é indústria, não é "espectáculo", ou seja, não se vê, está escondido, longe da vista, longe do coração?... Ah, pois, que cabeça a minha. Sim e não são animais do primeiro mundo, são apenas pessoas -ainda por cima monhés, chinocas ou escarumbas - do terceiro, cujo dever essencial é trabalhar e sacrificar-se para que nós, abençoadinhos, predestinados, liberdadeiros, consumamos produtos cada vez mais baratos. Poderá parecer uma tortura, mas não é. Ou melhor: não é uma tortura gratuita, frívola, com lentejoulas. Pelo contrário, é uma tortura útil, fundamental, filantrópica e necessária. Um sacrifício que uns fazem pela felicidade dos outros. Puro amor ao próximo, se bem que longínquo, convenhamos. Cristianismo aplicado, há que reconhecê-lo (no calvário deles repousa a nossa salvação). Por isso mesmo nem se lhe chama tortura: chama-se-lhe trabalho. Há lá coisa melhor que o trabalho deles e o nosso emprego e respectivas férias?! E de pequenino é que se torce o destino. Além disso, entre estarem ali bem arrecadadinhos e concentrados horas a fio, a treinarem e adestrarem-se para o desemprego, ganhando o seu dinheirinho, se bem que diminuto, ou andarem a prostituir-se a pedófilos, a serem esquartejados para tráfico de órgãos, ou a darem tiros como aprendizes numa qualquer milícia de bandidos muçulmanos ou animistas, só temos que agradecer à globalização que permite estes notáveis progressos. Verdadeiros milagres, sou forçado a concordar.
Isto, todavia, transporta-me a uma segunda suspeita. A saber: temo bem que a sua sensível pessoa também não considere tortura aquilo que se passa nos aviários industriais, sobretudo norte-americanos (aí, Jesus, nem pensar), bem como nas explorações pecuárias intensivas de bovinos, suínos e outros hinos. Lá está: é indústria. Acontece todos os dias, todas as horas, aos milhões, mas é para nosso bem. E, pormenor crucial, não se vê. Não é forma de espectáculo e entretenimento. Bem, para ser franco, até se vê, como o caro senhor poderá comprovar neste vídeo à solta na Net. Mas, claramente, deve tratar-se duma fabricação, dum activismo de mau gosto (não como o seu, que é de extremo bom gosto), manigância de gente retrógrada, hipócrita, liberais americanos (que como todos sabemos são a única coisa que os Estados Unidos têm de mau) ou vegetarianos. Do que esta gente é capaz para denegrir o melhor dos mundos! Basta atentar neste site vegetariano para orçarmos do rol inaudito de despautérios e calúnias. As coisas que eles inventam!... Como se os nossos suculentos bifes e churrascos não fossem provenientes de hotéis de cinco estrelas, onde os gentis animaizinhos dadores aguardam, confortavelmente, a sua vez. Dos nutritivos hamburgueres Mcdonald's ou dos estaladiços fritos KFC, então, é melhor nem falarmos. São bichinhos que experimentam inexcedíveis mordomias e apaparicanços prévios.
Não nos extraviemos, pois, com minudências e coisas que, de tão óbvias, até se tornam obtusas.A tourada, maldita seja, ou não fosse ela portuguesa, é que é digna do nosso horror. Ao menos que convertessem aquilo em "rodeo", mas não, cismam de martirizar freneticamente o desvalido cornúpeto. Repare-se no contra-senso: já não se pode fumar em locais públicos, mas ainda se pode farpejar bois. Isto é claramente um sintoma de país subdesenvolvido. O progresso ainda não chegou às touradas à portuguesa.
Aposto que o JCD, que não é comuna nenhum e muito menos um activista desencabrestado, não defende que se acabe com a tourada. Estimaria apenas que se acabasse com a selvajaria e a barbárie na tourada, estou em crer. E eu, note bem, não o critico por isso, nem discordo sequer. Digo-lhe até como o outro dizia ao tal: "Vá em frente, JCD! estou consigo." Sim, já é mais que tempo de se fazer a "tourada-light". Aliás, os espanhóis, um caralho os foda, já acusam a nossa tourada de ser "light", porque não matamos o touro na arena, à espadeirada, como convém (dizem eles, os cabranaços). Pelo que o mais correcto é cognominar-se a "tourada como o JCD gostaria" como "tourada ultra-light". Não só não o matamos, ao bovídeo, como não lhe fazemos paliteiro dos lombos. Elucubremos, então, sobre as putativas reformas que se imporiam (com carácter de urgência):
Para começar, arrelvava-se a arena. Aquilo assim faz muito pó e o pó, como é bem sabido, constitui um veículo temível de germes. Depois, retiravam-se as esporas ao cavaleiro, para não magoar os flancos sensíveis da sua nobre montada. Finalmente, em vez dos ferros nefastos e dilaceradores, o ginete, todo galhardo, galopava armado duma arma de paintball, com a qual alvejava o touro (tendo este, naturalmente, as vistas devidamente protegidas com óculos adequados). Aliás, esta "tourada ultra-light", para efeitos de marketing internacional, até podia ter um nome mais apelativo, modernaço, em suma: anglofónico. Para tão vantajoso efeito, passava a chamar-se ao desporto tauromáquico, à festa doravante mansa, Paintbull!
Que tal lhe parece, caro JCD? Catita, não ?!... E a cores.
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