Os demagogos não são os únicos nem mesmo os mais eficientes exploradores da sugestionabilidade humana. Os proprietários dos jornais levaram a arte dos cavalheiros de indústria a um grau ainda mais alto. O alargamento da educação elementar foi acompanhado por um grande aumento da influência da imprensa. Quem lê pode correr - na mesma direcção em que corre o seu jornal. Isto é um facto do qual os ricos não foram lentos em tirar vantagem. Praticamente falando, toda a imprensa inglesa está agora nas mãos de quatro ou cinco homens ricos. Oligarcas plutocráticos, aspiram a governar sob a capa das instituições democráticas, impessoalmente e sem responsabilidade. Explorar a democracia, viram eles, é mais fácil e mais rendoso do que opor-se a ela. Deixem que os muitos votem, mas conforme lhe disserem os poucos opulentos que são donos dos jornais. (...)
A terceira objecção principal à democracia política é a de que fomenta a corrupção. A prova da corrupção democrática está tão largamente descrita na história americana e europeia recentes, que se torna desnecessário para mim inventariar casos específicos. (...) Tem havido corrupção sob todo o sistema de governo. A corrupção sob o sistema democrático não é pior, nos casos individuais, do que a corrupção sob autocracia. Há meramente mais, pela simples razão de que onde o governo é popular, mais gente tem oportunidade para agir corruptamente à custa do Estado do que nos países onde o governo é autocrático. (...) A experiência demonstrou que o governo democrático é geralmente muito mais dispendioso do que o governo por poucos. (...)»
- Aldous Huxley, "Proper Studies"
Em resumo, as três principais objecções à democracia, segundo Huxley: 1. Demagogia; 2. Manipulação plutocrática; 3. Corrupção.
É difícil não concordar com este gajo. Não obstante, duas breves notas, que o tempo e o local não dão para mais:
a) Se o governo democrático é mais dispendioso que o governo autocrático (e parece que, quanto a isso, não restam dúvidas), então os nossos "liberais" de serviço deveriam repensar as suas teses e converter-se o quanto antes à autocracia;
b) Não está provado, penso eu, que poucos roubem menos que muitos. Depende da quantidade que cada qual pilhe. Aliás, socorro-me de dois casos lapidares para melhor documentar esta minha tese: O presidente Mobutu (cuja fortuna pesssoal era exactamente gémea da dívida externa do Zaire, azarada região do globo que era suposto ele governar); e o presidente José Eduardo dos Santos, cujas proezas espoliadoras me dispenso de reproduzir, pois acredito que são do conhecimento universal.
De resto, assim de chofre, e às pressas, parece-me que, mais que a oportunidade, é a impunidade que funciona como catalizador-mor do gamanço. Quer dizer, se além da ocasião, ao ladrão, lhe proporcionarem o trono imperial e o ceptro celeste...
Ou seja, ao contrário dos micro-tiranetes -governamentais, autarcas, etc -, os macro-tiranos não precisam de fazer a coisa às escondidas.
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