terça-feira, julho 12, 2005

O plebeismo-mor da paróquia

«Depois, além dum plebeismo, a celebridade é uma contradição. Parecendo que dá valor e força às criaturas, apenas as desvaloriza e as enfraquece. Um homem de génio desconhecido pode gozar a volúpia suave do contraste entre a sua obscuridade e o seu génio; e pode, pensando que seria célebre se quisesse, medir o seu valor com a sua melhor medida, que é ele próprio. Mas, uma vez conhecido, não está mais na sua mão reverter à obscuridade. A celebridade é irreparável. Dela como do tempo, ninguém torna atrás ou se desdiz.
E é por isto que a celebridade é uma fraqueza também. Todo o homem que merece ser célebre sabe que não vale a pena sê-lo. Deixar-se ser célebre é uma fraqueza, uma concessão ao baixo-instinto, feminino ou selvagem, de querer dar nas vistas e nos ouvidos. »

- Fernando Pessoa, "Crónica"; 1915.

Serve - o pedaço de génio em epígrafe - de preâmbulo a uma consideração breve e muito simpes: Nesta Idade das Trevas que vivemos, o anonimato é um dos derradeiros redutos da verdadeira aristocracia. Fora isso, regra geral, é o buliçio chocalheiro, feirante, saloio, das pegas intelectuais que, à laia de pretexto caniche para o ataque, vêm perambular no jardim público os respectivos nomes pela trela.

8 comentários:

timshel disse...

que prazer ver de novo as tuas chamas ó grande dragão! voltas em grande força e com o brilho característico


sejas bem-vindo!

josé disse...

Pois também concordo e subscrevo. E ainda acrescento: há celebridades que só em quintas o chegam a ser! E gostam tanto que reincidem nas revistas da especialidade e nos jornais que as apoiam. Costumo ver estes fenómenos escarrapachados nos escaparates das caixas do supermercado.
Hoje vi numa dessas revistas que uma mocita gira dizia na capa que não podia ter filhos e tinha pena. Isto é a mistura completa da realidade com a ficção! Explico: a realidade é fácil de compreender e entender, pois para uma rapariga em idade fértil, não ter filhos, querendo-o, é um drama. Porém, esse drama deveria ser íntimo ou reservado aos próximos e ultrapassado com a mestria das habituais sublimações.
Aqui, não! TOca a pôr em capa de revista o drama pessoal da rapariga e a mostrar ao povoléu ávido de voyeurismo quem é aquela que não pode ter filhos, coitadinha! É disto que o meu povo gosta! Ripa lá na rapaqueca! ( paz á alma do gajo que não tem culpa de o citar).
A ficção é apenas a pena publicada de quem não tem pena alguma, mas apenas tem penas de pato agarradas à tiragem da revista...

zazie disse...

e viva o regresso do Dragão!

Anónimo disse...

Pelo sim, pelo não...Nada de comentários.


Felizmente, na blogosfera, existem umas espécies de diques primários onde a porcaria mais grosseira encalha. Vagalhões de merda alucinantes, ameaçadores, que de outro modo ficariam por aí à solta, levando o fedor e a ignóbil matéria - de enxurrada - por caixas de mails e de comentários, são assim confinados a tranquilas albufeiras, onde a placidez, a concórdia e o cheiro nauseabundo se concentram...e imperam.
Nunca agradeceremos o suficiente aos "abruptos", "murcões", "ene merdas", "carapaus de corrida" e "queridinhos", todos da paróquia. O serviço que prestam à comunidade, estes paredões altivos, estes filtros colossais, é merecedor de público reconhecimento e justo louvor. Que as câmaras municipais, além de rotundas, mandassem erigir estátuas em sua homenagem não seria de depreciar. E que mesmo o PR lhes distribuísse comendas e o governo subsídios, só teríamos que saudar e aplaudir. De pé! Pedindo bis!...
Sei que podemos confiar neles. Que nunca esmorecerão na atracção fatal que exercem sobre esses exércitos de vil substância. Possuem um je ne sais quoi de irresistível que polariza toda uma providencial convergência desse imenso e inexaurível esgoto sideral (sideral porque sidera). Talvez uma força magnética única, escatotrípeta, sinal duma nova revolução destronadora do velho Copérnico: são, quiçá, a prova viva (ou melhor: zombie), de que afinal nem o sol gira à volta da terra, nem a terra de roda do sol, mas ambos, e tudo, gravitam em redor e adoração da trampa. Deus os abençoe e guarde pois, àqueles beneméritos, assim, utilíssimos, guichés da paloncice e da mentecapção apinocada, por muitos e longos anos!...
Mas não arrisco. Já sou capaz de conviver amenamente com massacres e envenenamentos a conta gotas, com presídios globais e paneleiros infestantes, com vampiragens e roubalheiras instituídas, mas há coisas para as quais ainda me falta estômago. Há náuseas para as quais ainda não me treinei. Nem acho, no tempo que me resta de vida, ter espaço remanescente para me adestrar. A possibilidade (absolutamente remota, eu sei – mas remoto não é impossível) de um belo dia abrir uma caixa de comentários deste blogue e dar de caras (as minhas, claro está) com as fuças (as deles) absolutamente toinas, asquerosas, em nojenta fermentação de cretinices, em bajuladouro desinsofrido, dum tal "Lobices" ou doutro não menos seboso "portocroft", ou a puta que pariu qualquer desses ciber-cucos que se instalam a verter bosta em ninho alheio, confesso: deparar-se-me uma tromba dessas e não a poder partir logo ali, materialmente, com patadas justiceiras, topar com um cabrão desses a fazer-me uma carantonha daquelas e não poder, no mesmo instante, corrê-lo a pontapés no fundo daquilo que não tem, era, proclamo-o sem quaisquer dúvidas, uma violência absolutamente insuportável contra mim e os meus legítimos direitos de ser vivo, erecto e pensante! Instauraria em mim um trauma, uma fúria arrepelante para o resto da vida. Escavacaria eu, em fruste sucedâneo, a mobília, deitaria fogo ao computador, atiraria cadeiras pela janela, dispararia às cegas sobre transeuntes, mas a honra continuaria suja, ignobilmente emporcalhada. Não haveria detergente ao cimo da terra capaz de extrair tão infamante nódoa. É daquelas coisas que não podem deixar de fazer-se, sob pena de perder-se a alma.
Por isso, repito, não estou disposto a correr riscos. Nunca se sabe. Se as limitações são tais e de tal modo cerceadoras da justiça, só me resta uma medida: aqui, no "dragoscópio", acabaram-se as caixas de comentários. Se tiveram alguma emergência, usem o mail. É drástico, mas é assim.
Digam-me que exagero. Digam-me que jamais essa choldra desaguará por aqui (precisamente pelas razões por mim inicialmente apontadas). Sim, sim... Digam-me, até filosoficamente, que a escumalha adora, sobretudo, espelhos. Mesmo assim.
Se bandalhos desses me irrompessem aqui no blogue, a gralhar em bandos, a guinchar em lianas, seria eu que nunca mais conseguiria olhar-me num espelho.
Foda-se!...

josé disse...

Caro dragão:

como isto está para a cabar, faço então o meu testamento de comentador acidental ( salvo seja, porque o nome recende-me a um tipo de personagem que me provoca uma careta).

Quando comento, pego no mote e acrescento-lhe um toque. Os comentários em caixa são lugar de exercício de escrita automática ou de débito rápidos de ideias momentâneas. São, por isso, repositório de disparates e por vezes de dislates e baques.
O exercício, aqui, revela-se alatamente divertido por causa da ampla liberdade de expressão, sem medo de à esquina da caixa aparecer o censor na pessoa de outro comentador ou do dono da casa que assome à porta.
Um gajo aqui, escreve "foda-se" com a mesma facilidade com que tecla prosopopeias improváveis- sem medo de ser apodado de pedante, porque este pedantismo faz parte do género dos que gozam com ele.

Para dizer a verdade, passo bem sem vir aqui. Mas também é verdade que é um prazer ler e comentar aqui.
O teu sítio é obviamente um dos melhores da blogosfera nacional, em razão dos escritos, mas é um lugar de culto, como não poderia deixar de ser.
Nunca será, com este estilo, um local de frequência múltipla, com sensibilidades estereotipadas ou mesmo de alto gabarito mediático.
Também não interessa muito, parece-me bem, embora detecte, em algumas intervenções, que aprecias, como toda a gente aliás, o reconhecimento público da qualidade do produto. É um orgulho legítimo e que não desmerece. Mas apouca um pouco, porque a preocupação com a audiência reprime a liberdade. Por isso, uma vez escrevi que no meu blog de estimação pessoal e que animo anonimamente, não tenho comentários, nem links nem nada de nada. Só escritos que nem me intertessa que alguém leia. Não me interessará mesmo e estarei a ser hipócrita?
Pensando bem, não me interessa mesmo. É um blog de prazer pessoal e intransmissível. Mas se alguém ler e comentar noutro lado, sinto gozo por isso. Porque é natural. No outro dia, por acaso, vi uma referência noutro sítio ao blog, sobre um assunto que me é caro ( a música) e fiquei satisfeito pelo reconhecimento.
Só que esse gozo não me prende ao vício de querer mais e mais...far-me-ei entender?!

Assim, perante esta tua hesitação sazonal, como passar por esta provação de ler sem comentar? Difícil, meu caro dragão.
No meu caso, o ideal seria comentar por impulso de momento, para exprimir a ideia da ocasião.
E então, parece-me que há uma solução:

Deixas as caixas a mercê dos comentadores. Não as abres para tua leitura e apagas os comentários periodicamente. Sei lá, a um ritmo semanal. Ou diário se quiseres.
Mas deixa ficar esta merda destas caixas que fazem um jeito do carago para lembrar que é possível mandar uns bitaites a um texto que por vezes atinge os píncaros da excelência.
Só por isso. E o resto que se foda.

Anónimo disse...

jos&eacte
Subscrevo e aplaudo,mas venero SR. Dragão.

zazie disse...

ora aqui está uma atitude muito filosófica a do nosso José. Estou de acordo.

A única alternativa radical a tudo isso é a do maradona. Não a aconselho porque é demasiado drástica mas acho-lhe piada. De vez em quando apaga aquela treta toda ":O)))

zazie disse...

mas isto está a acabar? essa agora é que não sabia. também vivo bem sem cá vir mas acho que não blogaria da mesma forma sem este dragoscópio.