Em relação à putativa "liberdade de expressão" podemos assim estabelecer o critério diferencial entre os chamados regimes autoritários e os auto-intitulados democráticos: naqueles pretende-se condicionar previamente o seu exercício; nestes procura-se corrigi-lo e puni-lo à posteriori. É a diferença que vai da repressão profiláctica à repressão vindicativa. Ou da instituição da censura ao império da denúncia. Ali tapam-te a boca; aqui arrastam-te e prendem-te o corpo por inteiro.
Aliás, não é por acaso que, nas sociedades protestantes, onde a palração constitui a essência da fézada (e o parlamentarismo o fetiche da governação) a principal volúpia consiste na "volúpia do castigo". À sua imodesta dimensão, são todos replicazinhas rastejantes do beleguim primordial no éden bíblico, segundo um certo maniqueu caiado: "toma lá o livre-arbítrio, ó criatura! Usaste-o? beleza!, agora fodo-te o canastro! Ou, por outras palavras: "esta é a lei. Mas a malta vem-se mesmo é quando toca ao castigo... Dos outros."
Resumindo: enquanto as sociedades tradicionais são, tendencialmente, intimidatórias; as auto-proclamadas modernas são, por vocação e cultura compulsiva, persecutórias. Não é por acaso que da guerra tradicional, em que as coisas ficavam resolvidas e derimidas no campo de batalha, se passou, hoje em dia, para a guerra humanitária; em que o inimigo, depois de massacrado no terreno, é levado ainda a tribunal, onde , após um calvário de sevícias legais e prepotências forenses, padece também pelourinho, cadafalso e anátema post-mortem.
Ou não fosse esse o móbil capital e principal do frenesim protestante: fazer de todo o Adão um perfeito Cristo. Expulsão sabe sempre a pouco: suplício, flagelação, cuspinhanço público e crucificação são imprescindíveis e fundamentais. De resto, não é por acaso que os maiores fundamentalistas do planeta são igualmente os mais desvairadamente exclusivistas. Só o seu fundamentalismo é autorizado.
Ou não fosse esse o móbil capital e principal do frenesim protestante: fazer de todo o Adão um perfeito Cristo. Expulsão sabe sempre a pouco: suplício, flagelação, cuspinhanço público e crucificação são imprescindíveis e fundamentais. De resto, não é por acaso que os maiores fundamentalistas do planeta são igualmente os mais desvairadamente exclusivistas. Só o seu fundamentalismo é autorizado.
27 comentários:
ehehehe
E eu, lá na tasca do Brigolino, a falar do livre-arbítrio como forma de criar culpados.
Claro que é mesmo isso- é perversidade prot
A "Civitas Dei" do Agostinho é plenamente sugestiva e padroeira dessa malta: o paraíso serve de miradouro aos eternamente gratificados para contemplarem os eternamente danados a arderem no Inferno. E a felicidade eterna consiste nisso: nesse regozijo com a suma desgraça alheia. A recompensa espelha-se abissalmente no castigo. Em meu entender, Agostinho nunca deixou de ser maniqueu.
ehehehe
Eles gostam muito do Santo Agostinho.
Mas o cabrão do Lutero fez pior. Lá achou que quem nos monta é o demo mas, no que toca a livre arbítrio terreno- o burguês rico tem meio caminho andado.
Mas olha que este é um aspecto que me encanita a sério. Porque esta tara da flagelação dos culpados transitou intacta da religião para o jacobinismo.
Isso será assim se nós quisermos aceitar.
Em termos bem mais terrenos que os de Agostinho, cabe então dizer que ser rico só dá tesão se os pobres forem muitos, e muito pobres. Animemo-nos, então: o Paraíso Terrestre está aí ao virar da esquina.
Em parte. "Em termos bem mais terrenos" chama-se calvinismo em acção. Embora o principal litígio dos ricos (leia-se: duma certa espécie de ricos) até nem seja com os pobres: é mais com os remediados.
A ideia de remédio é um pouco como a ideia de purgatório: choca frontalmente com os frenesins dualistas e catárcticos destas ultra-hienas.
Claro que é com os remediados. Pelo supremo atrevimento de não serem pobres como Deus manda.
Não é por isso, é por serem maniqueus.
Têm pó ao meio-termo.
Zazie, parece-me que é a mesma coisa.
PS.: Gostei da palavra "encanita". Vou tentar passar a usá-la.
Segundo eles, não são os pobres que têm mandato de Deus: são os ricos. A riqueza é já um sinal de eleição divina e de predestinação na terra ao paraíso. É estar já na antecãmara. Da mesma forma, os pobres adestram-se também na Terra naquilo que os espera pela eternidade.
O Dragão já explicou.
O catolicismo não tem nada a ver com estes tarados.
Estes tipos são armagedónicos.
Mas, só por causa das coisas, eu insisto- os ateuzinhos não têm de que ser rir.
Porque hoje em dia esta trampa de inventar culpados e de os perseguir é totalmente laica.
É jacobina. E o Dragão deu aqui exemplos disso. É a linha da denúncia.
São os processos kafkianos dos novos inquisidores sob o manto do politicamente correcto.
Aliás, não existe alguma doutrina onde os pobres sejam mais protegidos do que no catolicismo.
A menos que ainda haja tolinhos que acreditem que é com o comunismo.
Estes tipos não são cristãos. São "cristões armagedónicos".
Estão mais interessados com a "última vinda" do que com a primeira.
"interessados na".
De acordo, zazie. De resto, um ateu calvinista tem muito pouco a ver com um ateu judeu, e este muito pouco a ver com um ateu católico.
Um ateu judeu é um marrano de tradição católica, como o nosso ministro da cultura
ahjahahaha
São todos iguais entre prots. É coisa da judiaria.
Eles só estão interessados no Armagedão e o resto é carcanhol terreno.
Um ateu católico é aquele que se casa pela igreja e tem filhos em colégio católico mas depois diz que nem acredita em Deus.
Se não for isso, é comuna e aí os ídolos do materialismo não admitem concorrência-
Sim, diz que não acredita em algumas partes de Deus porque algumas prerrogativas deste colidem com as verdades científicas transmitidas pela televisão. O Big-bang, por exemplo.
:O)))
A sério. Já me foi dado presenciar ao vivo consequências das modernas catequeses destas.
De resto, o católico portugês típico aos domingos vai à missa e ás quartas vai à bruxa.
ehehehehe
Mas já assististe a cientóinice dessa?
Eu pagava para ver. São cá uma coisa.
Quanto ao católico típico português, não só vai à bruxa, como não perde uma boa festarola semi-pagã, semi-católica.
Só semi-pagã? Mais do que semi, seguramente. O que me leva a pensar que em Portugal os únicos bons católicos são ateus - desde que não vão à bruxa nem leiam o Paulo Coelho, porque também há destes.
Não são nada ateus. Os ateus são cagotaria órfã do bode.
Mas enfim, como o Dragão diz, agora têm a mãezinha científica e lá lhes ajuda a suportar a falta do chifrudo.
Aqui há dias tive um conversa engraçadíssima com uma jovem católica. Dizia-me ela que ia encetar os preparativos para o crisma. Tive que lhe perguntar que raio era isso. Lá me explicou. Ouvia-a muito sério. Quando acabou, comuniquei-lhe que, por meu lado, me tinha ficado pelo baptismo. E disse-lho com um ar de tal modo angélico, que ela se sentiu no dever de me perguntar se eu não gostava de experimentar outras coisas (suponho que se referia a comunhões, crismas, etc). Após um silêncio meditabundo, respondi-lhe que sim. O quê?; perguntou ela, cheia de curiosidade. Cruzadas, respondi eu,com a cara mais sincera deste mundo. "pena que já não se organizem; seria voluntário com todo o gosto!"
Não há dinheiro neste mundo que pague a cara (hilariante) que a nossa jovem fez.
:O)))
Só faltou o S. Jorge para resgatar a (presumível)donzela das garra cruéis do dragão.
ahahahahaha
Estás tramado; agora só se te inscreveres num grupo de excursionistas
Com estes vigilantes internacionalistas para a concretização de "o mundo é um só" e por nossa conta, apesar de ontem terem sido amigos dos "nacionalistas" descolonizadores pouco internacionalistas na prática,o preferido é o "paredão".Tal como o famoso CHE aquele serviço monótono servia para criar apetite...
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