terça-feira, julho 03, 2012

Punhetas ao cadafalso





Em relação à putativa "liberdade de expressão" podemos assim estabelecer o critério diferencial entre os chamados regimes autoritários e os auto-intitulados democráticos: naqueles pretende-se condicionar previamente o seu exercício; nestes procura-se corrigi-lo e puni-lo à posteriori. É a diferença que vai da repressão profiláctica à repressão vindicativa. Ou da instituição da censura ao império da denúncia. Ali tapam-te a boca; aqui  arrastam-te e prendem-te o corpo por inteiro.
Aliás, não é por acaso que, nas sociedades protestantes, onde a palração constitui a essência da fézada (e o parlamentarismo o fetiche da governação) a principal volúpia consiste na "volúpia do castigo". À sua imodesta dimensão, são todos replicazinhas rastejantes do beleguim primordial no éden bíblico, segundo um certo maniqueu caiado: "toma lá o livre-arbítrio, ó criatura! Usaste-o? beleza!,  agora fodo-te o canastro! Ou, por outras palavras: "esta é a lei. Mas a malta vem-se mesmo é quando toca ao castigo... Dos outros."

Resumindo: enquanto as sociedades tradicionais são, tendencialmente, intimidatórias; as auto-proclamadas modernas são, por vocação e cultura compulsiva, persecutórias. Não é por acaso que da guerra tradicional, em que as coisas ficavam resolvidas e derimidas no campo de batalha, se passou, hoje em dia, para a guerra humanitária; em que o inimigo, depois de massacrado no terreno, é levado ainda a tribunal, onde , após um calvário de sevícias legais e prepotências forenses, padece também pelourinho, cadafalso e anátema post-mortem.

Ou não fosse esse o móbil capital e principal do frenesim protestante: fazer de todo o Adão um perfeito Cristo. Expulsão sabe sempre a pouco: suplício, flagelação, cuspinhanço público e crucificação são imprescindíveis e fundamentais. De resto, não é por acaso que os maiores fundamentalistas do planeta são igualmente os mais desvairadamente exclusivistas. Só o seu fundamentalismo é autorizado.





27 comentários:

zazie disse...

ehehehe

E eu, lá na tasca do Brigolino, a falar do livre-arbítrio como forma de criar culpados.

Claro que é mesmo isso- é perversidade prot

dragão disse...

A "Civitas Dei" do Agostinho é plenamente sugestiva e padroeira dessa malta: o paraíso serve de miradouro aos eternamente gratificados para contemplarem os eternamente danados a arderem no Inferno. E a felicidade eterna consiste nisso: nesse regozijo com a suma desgraça alheia. A recompensa espelha-se abissalmente no castigo. Em meu entender, Agostinho nunca deixou de ser maniqueu.

zazie disse...

ehehehe

Eles gostam muito do Santo Agostinho.

Mas o cabrão do Lutero fez pior. Lá achou que quem nos monta é o demo mas, no que toca a livre arbítrio terreno- o burguês rico tem meio caminho andado.

Mas olha que este é um aspecto que me encanita a sério. Porque esta tara da flagelação dos culpados transitou intacta da religião para o jacobinismo.

Anónimo disse...

Isso será assim se nós quisermos aceitar.

JOSÉ LUIZ FERREIRA disse...

Em termos bem mais terrenos que os de Agostinho, cabe então dizer que ser rico só dá tesão se os pobres forem muitos, e muito pobres. Animemo-nos, então: o Paraíso Terrestre está aí ao virar da esquina.

dragão disse...

Em parte. "Em termos bem mais terrenos" chama-se calvinismo em acção. Embora o principal litígio dos ricos (leia-se: duma certa espécie de ricos) até nem seja com os pobres: é mais com os remediados.
A ideia de remédio é um pouco como a ideia de purgatório: choca frontalmente com os frenesins dualistas e catárcticos destas ultra-hienas.

JOSÉ LUIZ FERREIRA disse...

Claro que é com os remediados. Pelo supremo atrevimento de não serem pobres como Deus manda.

zazie disse...

Não é por isso, é por serem maniqueus.

Têm pó ao meio-termo.

JOSÉ LUIZ FERREIRA disse...

Zazie, parece-me que é a mesma coisa.

JOSÉ LUIZ FERREIRA disse...

PS.: Gostei da palavra "encanita". Vou tentar passar a usá-la.

dragão disse...

Segundo eles, não são os pobres que têm mandato de Deus: são os ricos. A riqueza é já um sinal de eleição divina e de predestinação na terra ao paraíso. É estar já na antecãmara. Da mesma forma, os pobres adestram-se também na Terra naquilo que os espera pela eternidade.

dragão disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
zazie disse...

O Dragão já explicou.

O catolicismo não tem nada a ver com estes tarados.

Estes tipos são armagedónicos.

Mas, só por causa das coisas, eu insisto- os ateuzinhos não têm de que ser rir.

Porque hoje em dia esta trampa de inventar culpados e de os perseguir é totalmente laica.

É jacobina. E o Dragão deu aqui exemplos disso. É a linha da denúncia.

São os processos kafkianos dos novos inquisidores sob o manto do politicamente correcto.

zazie disse...

Aliás, não existe alguma doutrina onde os pobres sejam mais protegidos do que no catolicismo.

A menos que ainda haja tolinhos que acreditem que é com o comunismo.

zazie disse...

Estes tipos não são cristãos. São "cristões armagedónicos".

Estão mais interessados com a "última vinda" do que com a primeira.

zazie disse...

"interessados na".

JOSÉ LUIZ FERREIRA disse...

De acordo, zazie. De resto, um ateu calvinista tem muito pouco a ver com um ateu judeu, e este muito pouco a ver com um ateu católico.

zazie disse...

Um ateu judeu é um marrano de tradição católica, como o nosso ministro da cultura

ahjahahaha

São todos iguais entre prots. É coisa da judiaria.
Eles só estão interessados no Armagedão e o resto é carcanhol terreno.

Um ateu católico é aquele que se casa pela igreja e tem filhos em colégio católico mas depois diz que nem acredita em Deus.

Se não for isso, é comuna e aí os ídolos do materialismo não admitem concorrência-

dragão disse...

Sim, diz que não acredita em algumas partes de Deus porque algumas prerrogativas deste colidem com as verdades científicas transmitidas pela televisão. O Big-bang, por exemplo.

:O)))

A sério. Já me foi dado presenciar ao vivo consequências das modernas catequeses destas.

dragão disse...

De resto, o católico portugês típico aos domingos vai à missa e ás quartas vai à bruxa.

zazie disse...

ehehehehe

Mas já assististe a cientóinice dessa?

Eu pagava para ver. São cá uma coisa.

Quanto ao católico típico português, não só vai à bruxa, como não perde uma boa festarola semi-pagã, semi-católica.

JOSÉ LUIZ FERREIRA disse...

Só semi-pagã? Mais do que semi, seguramente. O que me leva a pensar que em Portugal os únicos bons católicos são ateus - desde que não vão à bruxa nem leiam o Paulo Coelho, porque também há destes.

zazie disse...

Não são nada ateus. Os ateus são cagotaria órfã do bode.

Mas enfim, como o Dragão diz, agora têm a mãezinha científica e lá lhes ajuda a suportar a falta do chifrudo.

dragão disse...

Aqui há dias tive um conversa engraçadíssima com uma jovem católica. Dizia-me ela que ia encetar os preparativos para o crisma. Tive que lhe perguntar que raio era isso. Lá me explicou. Ouvia-a muito sério. Quando acabou, comuniquei-lhe que, por meu lado, me tinha ficado pelo baptismo. E disse-lho com um ar de tal modo angélico, que ela se sentiu no dever de me perguntar se eu não gostava de experimentar outras coisas (suponho que se referia a comunhões, crismas, etc). Após um silêncio meditabundo, respondi-lhe que sim. O quê?; perguntou ela, cheia de curiosidade. Cruzadas, respondi eu,com a cara mais sincera deste mundo. "pena que já não se organizem; seria voluntário com todo o gosto!"
Não há dinheiro neste mundo que pague a cara (hilariante) que a nossa jovem fez.

:O)))

JOSÉ LUIZ FERREIRA disse...

Só faltou o S. Jorge para resgatar a (presumível)donzela das garra cruéis do dragão.

zazie disse...

ahahahahaha

Estás tramado; agora só se te inscreveres num grupo de excursionistas

lusitânea disse...

Com estes vigilantes internacionalistas para a concretização de "o mundo é um só" e por nossa conta, apesar de ontem terem sido amigos dos "nacionalistas" descolonizadores pouco internacionalistas na prática,o preferido é o "paredão".Tal como o famoso CHE aquele serviço monótono servia para criar apetite...