Certifica, o reverendo Malthus, no seu Essay on the Principle of Population as it Affects the Future Improvement of Society:
«Convém para a felicidade de cada um diferir o seu casamento até que à custa de trabalho e de economia esteja em estado de prover às necessidades da sua família».
Por conseguinte, os pobres não devem casar nem procriar. Todavia, impulsionados pelo amor, pela natureza que lhe impregna as hormonas ou seja lá pelo que for, teimam. Reproduzem-se, os infames, os insensatos!... Consequência lógica e inexorável:
«Entreguemos pois este homem culpado ao castigo pronunciado pela natureza. Agiu contra o caminho da razão que lhe foi claramente apontado, não podendo acusar ninguém e deve haver-se consigo próprio se a acção que cometeu tiver resultados desagradáveis. O acesso à assistência das paróquias deve ser-lhe vedado. E se a benemerância privada lhe prestar algum socorro, o interesse da humanidade requer imperiosamente que esse auxílio não seja demasiado abundante. É preciso que saiba que as leis da natureza, quer dizer as leis de Deus, condenaram-no a viver penosamente, como castigo por as ter violado(...) Parecerá talvez muito duro que uma mãe e crianças que não tem nada a reprovar-se sejam chamadas a sofrer pela má conduta do chefe de família. Mas isso é ainda uma lei imutável da natureza.»
Como é bom de ver, o ternurento reverendo chama Leis da Natureza e Leis de Deus àquilo que outros, menos líricos e mais prosaicos, chamarão "leis do Mercado".
Posteriormente, na primeira edição do seu An Essay on The Principle of Population, o asqueroso indivíduo atinge um climáx poético deveras notável:
«Um homem que nasceu num mundo já partilhado, se não pode obter dos seus pais a subsistência que justamente lhes pode pedir, e se a sociedade não tem necessidade do seu trabalho, não tem nenhum direito de reclamar a mais pequena porção de alimento, e, de facto, está a mais. No grande banquete da natureza não lugar para ele. Manda-o ir-se embora, e executará prontamente as suas ordens, se ele não puder recorrer à compaixão de alguns convivas.»
Ora, isto da "compaixão", como refere, logo de enfiada, o presuroso reverendo, é o pior dos crimes contra a harmonia "natural"! Note-se que é suposto estarmos perante as opiniões dum "pastor cristão"... Mas prossegue ele: «O rumor de que há alimentos para todos que chegarem enche a sala de numerosos reclamantes. A ordem e a harmonia da festa são perturbadas, a abundância que até aí reinava transforma-se em escassez, e a felicidade dos convivas é destruída pelo espectáculo da miséria e do embaraço que reinam em toda a sala, e pelo clamor importuno dos que estão justamente furiosos por não encontrarem os alimentoscom que contavam. Os convivas reconhecem demasiado tarde o erro que cometeram ao contrariarem as ordens estritas a respeito dos intrusos, dadas pela grande senhora do banquete.»
A "grande senhora do banquete", que é como quem diz, a Natureza, aliás, o Mercado.
Traduzindo: a esmola e a caridade conduzem ao caos e à ruína. Os devoradores de ossos e migalhas instalam fatalmente a desordem no banquete, prejudicando o sossego e o regalo dos convivas. Qual o imperativo categórico de Malthus: a pobreza é culpa dos pobres. Erradicando estes, extinguir-se-ia aquela.
Estais a ver, ó famintos, onde vos conduzem?
1 comentário:
Malthus?!
Um NOJO essa besta....
(mas ainda há muita ESCUMALHA que gosta de ler livralhada parida por biltres imundos deste jaez)
Conduzem?!
Até um dia destes.
Agora está próximo o..."repicar do sino"
Enviar um comentário