segunda-feira, dezembro 19, 2005

Artigos de Fé

Através do "Eclético", tomo conhecimento de um grupo de cidadãos empenhados em que se discuta "A Verdade sobre a descolonização".

Acho muitíssimo bem, aplaudo a mãos ambas. Permitam-me, não obstante, um preciosismo: a verdade não se discute, apura-se. Busca-se. O que se debate, procurando desmascará-las, são as mentiras. E aí, desde já aviso: têm muito que discutir!...
Mas, por amor de Deus, congreguem gente séria e asseada para o efeito. Não se contentem com os pantomineiros, vígaros e trafulhas do costume. Os peritos da treta e os especialistas da gamela, tudo moços de frete, mainatos e sipaios. Caso contrário, garanto que vão acabar com o dobro das mentiras com que começaram. Em vez de se dissipar, a neblina, sairá reforçada com castelos de fumo denso.
E tal qual o debate não deve ser abandonado a tais almocreves e sicofantas, partindo do princípio que essa utopia é possível, também as conclusões convinha que se não confinassem a outros lascarins da mesma igualha, meros serviçais e marionetes de ocultas potestades, que a palraria, por regra, não faz mais que camuflar. E absolver.
Não vos trancafieis no erro antigo de culpar o punhal pelo assassínio, a ferramenta pelo trabalho. Como se a guiar o utensílio não houvesse a mão, detrás desta a mente e, a orquestrar toda a cavilosa sinfonia, uma premeditada urdidura que a oportunidade desencadeou e a insídia alienígena foi burilando.
Por fim, espero que esta nobre iniciativa não constitua, nem se esgote como mero fait-divers eleitoral, a cumprir serviço de arma de arremesso contra o caixeiro-viajante do Império. Gostaria de crer que não. Que, mais uma vez, não se amesquinha e vilipendia a nossa maior chaga dos últimos 100 anos a troco de patacas. A ver vamos.
No entretanto, aqui fica o meu apoio e votos de coragem para uma tarefa que se adivinha temerária. Porque, ninguém duvide, discutir entre nós a descolonização é o mesmo que investigar o lendário holocausto por essa Europa logofóbica: não nos confrontamos, em qualquer dos casos, com matéria histórica, mas com puros e inquestionáveis Artigos de Fé!...

6 comentários:

takitali disse...

(...)um grupo de cidadãos empenhados em que se discuta "A Verdade sobre a descolonização".
(...) "inquestionáveis Artigos de Fé!..." (...)
.
Está visto que desta vez o Dragão deixou o Caguinchas ir às Putas sózinho.
"Adeste fidelis..." Feliz Natal!

josé disse...

O Adeste Fidelis é da autoria de D. João IV?!
Segundo o maestro Ivo Cruz, talvez.

Isto é só para dizer que venho aqui desejar votos de Boa quadra natalícia.

Quanto ao resto, não fui à guerra. Escapei por dois ou três anos. Se o 25A fosse em 76 ou 77, tinha lá ido parar...quase de certeza.
Apesar disso, as questões da descolonização parecem-me complexas quanto às causas e simples quanto aos efeitos.
Quem não percebeu as causas, assimila-as aos efeitos.

josé disse...

Melhor dizendo: tende a assimilá-las aos efeitos, perdendo objectividade e distância racional das questões.

MP disse...

Caro Dragão,

Esta é de facto uma questão complexa, e a sua defesa: temerária.
Agradecida pela nota.
Numa "barca" nunca estão apenas os "melhores", mas todos aqueles que querem participar dessa'jornada'.

Esta conta também com as Associações do Espoliados de Angola e Moçambique.

Uma nota relativamente ao comentário do José:

é bem possível que aqueles que foram sujeitos à abjecta humilhação de verem os seus bens roubados, e a sua condição de pessoa vilipendiada, maltrada, absolutamente desrespeitada pelas pseudo autoridades, não consigam ter "objectividade e distância racional".
Uma tempestade só a conhece, de facto, quem está ou esteve no meio de uma.

Cumprimentos

Anónimo disse...

Foi a maior traição feita pelos maiores traidores que este País teve a infelicidade de ver nascer no seu solo, alguma vez perpetrada contra o Povo Português nos quase 900 anos que levamos de História e pelos milhões de mortos provocados jamais serão perdoados. Porém, intrìnsecamente traidores e criminosos como eles são, pouco se importam. Mas importamo-nos nós e não esquecemos! Porque como criminosos (e nunca como heróis, que é o que eles pensam que são) ficarão inscritos na História de Portugal e como tal serão recordados para todo o sempre e enquanto exista Portugal.

Maria.

Anónimo disse...

Maria estás a falar de quê?
Já correram com Peseiro e tudo de que te queixas assim?
rui.david@gmail.com