Rescaldo do postal anterior, onde aprendi umas coisas... Passo, em breve síntese, a enumerá-las:
Naturalmente, o Marenches é um mitómano, um delirante e um mentiroso relapso e contumaz.
Nas universidades portuguesas, ao tempo de Abril redentor, não existiam professores comunistas porque a Zazie nunca os lá viu. Dá-se o deplorável caso que, ao contrário de hoje, naquele tempo os ditos cujos não desfilavam com foices e martelos à lapela, nem coletes reflectores ao anoitecer. Os comunistas que eventualmente houvessem, como toda a gente sabe, ou estavam exilados na União Soviética ou desterrados no Tarrafal, a ser brutalizados e a resistir heroicamente às sevícias. Da mesma forma, todas aqueles milhares de comunistas e afins que, a partir do dia 26 de Abril de 1974 trataram de tomar conta do país, saneando liceus e faculdades, repartições, jornais e ministérios a seu bel-prazer, eram comunistas instântaneos, com a inefável bênção e patrocínio da Farinha Amparo, e nada tinham que ver com os comunistas de cristal, os tais da clandestinidade, os fantasmagóricos, os míticos.
O mesmo se passa com os oficiais milicianos. O José e a Zazie, profundos conhecedores da Instituição militar, derivado a várias comissões no Ultramar, garantem que jamais comunistas por lá clandestinizaram. Muito menos com frequência universitária. Até porque, como é público e notório, o Partido Comunista não dispõe de quaisquer quadros ou intelectuais e resume-se a um chusma heteróclita e iletrada de serralheiros, trolhas e campónios alentejanos. Nem hoje, nem nunca. Aliás, o PCP não passou dum mito urbano.
Por outro lado, temos que agradecer a profunda perspicácia do Manuel Maria Múrias que, em três penadas, arruinou com a reputação profissional da antiga Polícia de Defesa do Estado. Cruzando-se com eles na pildra, achou-os fraquíssimos. Provavelmente era da alimentação e do room service. Já ele, indómito e sereno, permanecia, apesar das vicissitudes, um promontório de isenção, cultura e presença de espírito. Eu, para ser franco, no lugar deles, também tentava parecer o mais desgraçado e insignificante possível. É claro que o Múrias, compreensivelmente, esperava deles façanhas mirabolantes, roncos inolvidáveis, histórias do arco-da-velha: que saíssem a voar, envoltos em capas cintilantes, ou escavassem túneis à velocidade da luz, quem sabe. Ou que discutissem com ele noções sublimes e peregrinas de geopolítica esotérica. Imperdoável, de facto! Uns trastes!... nem sequer eram uns doutores, imagine-se! Faltava-lhes chá. E berço para tomarem a ínclita beberagem mais os respectivos scones. Sei dum sítio perfeito para o Múrias enfiar as lamúrias...
Em contrapartida, os comunistas ainda hoje os consideram perigosíssimos, eficientérrimos, diabólicos, aos PIDES. Qualquer coisa entre o drácula e o lobisomem. Uma gestapo infernal, ubíqua, torcionaríssima. Por isso, por terem defrontado tamanha fera iracunda, eles, esses mártires revolucionários, foram tão bravos, tão heróicos, tão campeões do antifascismo. Em suma, isto, a tese, a verdadezinha, é ao gosto do freguês.
É escolherem a que mais vos convém. E irem para o diabo mais ela!...
3 comentários:
Dragão:
Não sei se o Marenches será isso ou muito mais ou menos. Nem me interessa, agora.
Sei o seguinte:
Em 22.4.1994, o Público fazia referência ao papel de Barbieri Cardoso, escrevendo:
" Conhecedor de várias línguas, foi sempre o homem de confiança de Salazar e o homem forte da PIDE. Provavelmente informado, estava me Paris há alguns dias quando se deu a Revolução de Abril. SOube do golpe às nove da manhã, quando foi informado pelo chefe da secreta francesa , Alexandre de Marencehes, em cujo gabinete se encontrava. Viveu sempre em Paris desde então."
Sobre Silva Pais, o mesmo jornalista, Fernando Semedo, escrevia que (...) também Silva Pais é sujeito a rigorosa vigilância, montada por Barbieri Cardoso(...)" O jornalista liga o facto à circunstância de o Director da DGS ter um filha casada com Raul Castro, cubano, irmão de Fidel.
SObre Óscar Cardoso, Inspector adjunto da Direcção de Serviços de Informação da DGS, escreve o mesmo que em 25.4.74, Óscar Cardoso estava na sede da António Maria Cardoso e terá sido ele quem distribuiu armas pelos funcionários e deu ordem para disparar para o ar...provocando mesmo assim 4 mortos nessa manhã.
Há dez anos, Óscar Cardoso vivia no Alentejo e lembro de ler uma ou outra entrevista.Duas,salvo erro e nunca disse que a DGS sabia ou previa o que se estava a passar...o que parece óbvio, no caso dele. Lembro que nas entrevistas o tipo assumia um ar de profissional com desdém para com os actuais do SIS e de outras forças de segurança...o que só mostra uma de duas coisas: profunda estupidez ou genuina ignorância. Vou por esta última.
No mesmo artigo do Público, César Camacho, escreve sobre as ligações entre a PIDE ( DGS) e as Forças Armadas. Para falar dos Flechas e de Costa GOmes.
Em 23.4.1994, o mesmo Público trazia uma reportagem sobre "A revolução que abalou o equilíbrio mundial", assinada por Teresa de Sousa.
A fls.6, há uma entrevista com Vadim Zagladine, conduzida por José Milhazes em Moscovo.
A primeira pergunta é esta:
- O 25 de Abril foi uma surpresa total para Moscovo?
- VZ: Sabíamos da existência de movimentações, mas a revolução foi para nós uma surpresa total. Devo dizer, contudo, que, quando Álvaro Cunhal esteve cá, se não me angano em 1973, falou de que parecia estar a aproximar-se o fim da ditadura. Dentro de um ano, dois anos? Ninguém savia dizer."
Há depois uma outra pergunta interessante:
"- Nos arquivos do PCUS em Moscovo há um documento datado de 2.4.1974 em que o Comité Central autoriza a realização de um plenário do CC do PCP na URSS marcado para Setembro desse ano. Isso não é significativo?
VZ- Claro que sim".
Em 18.10.2003, no Expresso ( Actual), o número dois da embaixada dos Eua em Lisboa no período revolucionário, Herbert S. Okun, diz ao ser-lhe perguntado se a Aministração dos EUA fora apanhada completamente de surpresa pelo golpe do 25 de Abril:
"Absolutamente! Tal como o dr. Caetano ( risos). Na verdade a PIDe fora apanhada de surpresa- enão se podia esperar que nós americanos, soubéssemos mais do que a própria PIDE...O mesmo sucedeu com o derrube do Xá da Pérsia, em 1979."
Para concluir esta pequena resenha, cito uma entrevista de João Abel Manta, um grande artista do desenho, em 24.4.1999, ao mesmo Público.
À pergunta, "sabia ou pressentia que ia haver alguma coisa? Respondeu:
-Tive uma informação de uma pessoa em quem não tinha qualquer espécie de confiança, mas que acertou nessa ocasião, o Júlio Pereira, também conhecido como Júlio Maluco ou Júlio Caldeireiro; ele vinha cá aos sábados e disse-me que ia haver alguma coisa "para a semana". Disse-lhe: Eh pá, cala-te com essas coisas!" Porque ele já andava a dizer-me isto há cinco anos; só que desta vez acertou. Eu soube do golpe através da rádio."
O Otelo em Abril de 2004 deu uma entrevista á Visão sobre os preparativos do golpe:
"Primeiro aintervenção do capitão Jorge Golias, em Agosto de 1973, ainda na Guiné, quando disse:
´Nós não vamos lá com papéis e burocracia, temos é que fazer uma revolução armada e derrubar o governo pela força.`Eu aplaudi, mas as expressões gerais foram de espanto e incredulidade, do tipo ´que loucura é esta. não pode ser! `
E depois fala do 16 de Março, à revelia do movimento e que Melo Antunes lhe teria dito que "aquilo não podia ter acontecido e assim não alinhava."
Estas passagens, com relatos históricos contados na primeira pessoa, em cinunto com alguns outros que disponho, como sejam os depoimentos de Silva Cunha, permitem-me dizer o que disse- e mantenho!
Ainda não vi escrito da tua parte, nada mais do que afirmações singelas de grandes novidades!
Ondes páram os factos?!
Estou morto por ler.
"
ahahahaa és muito doidinho
é claro que haveria profs mais ou menos a dar para o comunas- o Barata Moura até foi meu prof mas daí a doutirnarem os alunos é que vai muito! muitíssimo até e disso garanto-te que sei porque bem meti a narigueta em tudo o que foi movimento estudantil antes do 25 de Abril. O Barata Moura não me lembro de ter passado de uns jogos de falas de bébé quando não estava a recomendar o livro dele que se vendia na Católica e os outros o mais que faziam era fechar os olhos quando havia greve ou pancadaria.
Se me dissesses que havia UECs é claro que sim mas, por acaso, até penso que a extrema-esquerda estava a dominar o movimente estudantil. Os UECS mandavam no Técnico mas nem eram a maioria e um bocado em Económicas no movimento pró- associativo e também não eram maioria. De resto o que faziam era abaixo-assinados. Eram mesmo conhecidos pelos cortões dos abaixo-assinados. E não creio que com abaixo assinados se tenham formado muitos militares mulicianos para fazerem o 25 de Abril com a ajuda do Partido Comunista Português ":O)))
é só isto. Esse tipo diz uma banalidade que é comum em muitos estrangeiros que é imaginar que a esquerda ou oposição em Portugal era toda comuna. É mentira! pura mentira e muito mais disparatado imaginar-se que daí a termos universidades controladas pela doutrina da URSS vai o passo do disparate.
Se queres saber, o meu irmão garante-me que o Arnaldo de Matos sabia do 25 de Abril. E que o sabia pelos velhos contactos que já tinha com militares. E depois, achas que o Rosas também sabia? eu penso que não, apesar de também estar na clandestinidade. Mas o Saldanha Sanches não sabia. Estas coisas a terem existido foram mesmo muito particulares.
E havia o EPC, pois havia, e o que ele doutrinava... uma vez até veio a rolar pelas escadas abaixo com um murro que um gorila lhe deu... a cena estava forte e nesse caso até era com um grupo de uecs (os amigos do Jorge Lemos e Adalberto e mais uma gorda que nem me lembro do nome) e ele foi lá dizer ao gorila: “isso não se faz”” isso não se faz e trás, levou logo uma que veio às cambalhotas até ao átrio
E da parte da tarde deu-lhes aos uecs para fazerem um abaixo assinado, mais um... e o Adalberto ia a entrar e não tinha cartão e levou bruta porrada do gorila. E que doutrinaram os comunas de serviço? Mais um abaixo- assinado. É claro que havia por lá os CCRs que eram mais rijos e vão para o bar para preparar ataque à gorilada. Os tipos vão e dizem que eles têm 10 minutos para abandonar o bar. E o gajo dos CCRs que também já não me lembro do nome vai e diz que eles têm 5 para sair dali. E começam todos a contar os minutos e quando termina o prazo CCR nem te digo nada. Foi a maior pancadaria que me lembro de assistir antes do 25 (acho eu, mas houve mais na rua). E quem é que andou à pancada? Foram os comunas de Moscovo? O tanas! Foram esses CCRs e mais uma malta que nem era nada como era o meu caso. Quem ajudou os feridos a irem para o hospital até foi o Lindley Sintra. Agora os comunas? Bahhhh o Adalberto deve ter ficado a redigir o abaixo-assinado. É certo que os profs depois se reuniram e conseguiu-se que os gorilas fossem expulsos de letras mas para isso não houve a menor das ideologias, era coisa de terrorismo e resposta ao terrorismo oficial, mais nada.
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