quarta-feira, janeiro 31, 2024

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Um desafio à perspicácia dos leitores do Dragoscópio. Quem escreveu as citações que se seguem (a negritado) acompanhadas de comentários meus (para agravar o delito)?... 

Aposto que ninguém adivinha  (não vale ir ao google). Mas leiam com atenção, que vale a pena. Uma pequena ajuda: não é Hayek, nem Hobbes, nem Hitler.


«A tomar o termo em rigor da acepção, nunca existiu verdadeira democracia nem nunca existirá. É contra a ordem natural que o grande número governe e que o pequeno seja governado .(...) Acrescentemos que não há governo tão sujeito às guerras civis e agitações intestinas como o democrático ou popular, porque não há nenhum que tenda tão forte e continuamente para mudar de forma (...) «Se houvesse um povo de deuses, governar-se-iam democraticamente. Um governo tão perfeito não convém a homens.» (...)

- Contra-natura e inclinada à zaragata, à peixeirada, a democracia  é, segundo o autor, uma pura e insanável utopia. Até porque, geralmente, tal qual, por exemplo, os últimos 50 anos da nossa história documentam, em nome duma putativa "democracia abstracta (de conto do vigário representativo)", perpetra-se, na realidade, uma cacocracia (o governo pelos piores), cada vez mais baixa e medíocre, que invade e infecta a sociedade a todos os níveis. Centrada num parasitismo estatal segregado a partir duma partidarite devoradora.

«Dado que a liberdade não é um fruto de todos os climas, ela não está ao alcance de todos os povos. (...) Quanto mais se contesta esse princípio, tanto mais se lhe dão novas oportunidades de ser comprovado. Em todos os governos do mundo, a pessoa pública consome e nada produz. Donde lhe vem então a substância  consumida? Do trabalho dos cidadãos. É o supérfluo dos particulares que produz o necessário do público. Donde se segue que o estado civil não pode subsistir senão enquanto o trabalho  dos homens produz  além das suas próprias necessidades.»

- Segundo o autor,  não só a liberdade não é o suco duma panaceia universal (como querem fazer crer os demo-fundamentalistas do momento), como a existência efectiva e funcional dum Estado Civil depende da disponibilidade económica da própria sociedade civil. O Estado é supérfluo,  por definição.

«Por outro lado, nem todos os governos têm a mesma natureza; há-os mais ou menos devoradores, e as diferenças fundam-se neste outro princípio de que quanto mais as contribuições públicas se afastarem da sua fonte mais pesadas se tornam. Não é a partir da quantidade de imposições que se deve medir este encargo, mas no caminho que elas têm de percorrer para voltarem para as mãos de quem saíram; quando esta circulação está completada e bem estabelecida, pouco importa que se pague pouco ou muito: o povo é sempre rico e as finanças estão sempre bem. Pelo contrário, mesmo que o povo dê pouco, quando este pouco não reverte em seu proveito, pelo facto de dar constantemente, em breve se esgotará; o Estado nunca é rico e o povo é sempre miserável. (...) A monarquia, portanto, só convém às nações opulentas, a Aristocracia aos estados medíocres, quer em riqueza, quer em grandeza, a democracia aos estados pequenos e pobres.(...)»

- Quanto menor o excedente orçamental, digamos assim, menor a capacidade de sustentar um estado forte. Assim, a força deste é proporcional, de certa forma, à grandeza e riqueza da nação. Ora a debilidade do estado, tanto quanto a pequenez da nação, suscitam a democracia. Neste sentido, após 50 anos, o Retângulo, pequeno e pobre, está cada vez mais pobre e com um estado cada vez mais impotente e ineficaz, mas apenas devorista. Na maior parte do tempo, por isso mesmo, nem sequer dispôs (ou dispõe) dum estado soberano, mas apenas duma comissão de gestão, ou liquidatária, se quisermos entrar em rigores.

«O povo inglês pensa que é livre; está muito enganado, só o é durante as eleições dos membros do Parlamento; logo que eles estão eleitos, é escravo, não é nada. Nos curtos momentos da sua liberdade, o uso que dela faz merece bem que a perca.(...) Em qualquer circunstância, no instante em que um povo se entrega a representantes, já não é livre; deixa de existir.»

- A democracia representativa não realiza qualquer tipo de liberdade digna desse nome, segundo o autor. Não passa dum completo embuste.

«Segue-se daqui que a censura pode ser útil para conservar os costumes, nunca para os restabelecer. Instituí censores enquanto as leis têm vigor; logo que elas o perderem, deixa de haver remédio possível; tudo o que é legítimo deixa de ter força quando as leis já não a têm.»

- Segundo o autor, a censura é, simultaneamente,  um coadjuvante e uma manifestação da saúde  ética e legal da nação.


Portanto, leitores, renovo o repto: quem foi o proto-fascista que escreveu tudo isto (e na mesma obra, por sinal)?...



7 comentários:

Vivendi disse...

Rosseau.

Anónimo disse...

Não fui ao google.

Carlyle?...

passante disse...

> Carlyle?...

Ou o camarada Hilaire Belloc por ele.

https://en.wikipedia.org/wiki/Hilaire_Belloc

Anónimo disse...

Aldous Huxley, just guessing.

muja disse...

Não sei, mas o meu palpite é Swift.

dragão disse...

Bem, vai o Vivendi a Lapúcia. Mas vai em económica, porque suspeito que foi ao google... :O)

Vivendi disse...

Hehehehehe!

Já sabe que eu sou um corta-atalhos... sempre pronto a desbravar rápido. No entanto também me recordo de posts passados onde o Dragão já havia analisado o Rousseau.

Agradeço a viagem, mas continuo à espera que chegue o 1º homem à lua, para me entusiasmar com viagens do fantástico!