Na Grécia Antiga, tida por berço da civilização ocidental, o herói geralmente celebrado era Hércules. A excepção à regra morava em Atenas, onde o predilecto da cidade era Teseu, o vencedor do labirinto. Há diferenças idiossincráticas significativas entre ambos, um era mais homérico, o outro era mais lógico, mas tinham em comum aquilo que animava e dava consistência a um herói: eram benfeitores da humanidade, forças civilizadoras, tipos que se sacrificavam pelos outros. Nessa exacta medida, eram reconhecidos e emulados: porque combatiam a monstruosidade, a imundície, a perversão, a antropofagia, o banditismo, a desmesura, contribuindo assim para tornar a terra um local menos inóspito. O heroísmo era então, primeiro que tudo, um altruísmo.
Passados estes milénios, quando lemos que um escritor mexicano -para mero exercício da sua requintada coolness - esquartejou e cozinhou a noiva, entrevemos os heróis da "civilização parocidental"- não apenas os novos gladiadores desportivos, mas também, e sobremaneira, os ícones "made in hollywwod" de exportação global. José Zepeda, nosso bizarro contemporâneo, surpreendido em flagrante quando frigia um naco bem temperado da desafortunada Alejandra, não emulava Hércules, nem Teseu, nem qualquer derivado ou descendente seus, triunfadores de monstros ou aberrações. Pelo contrário, imitava Hannibal Lecter, o psicopata canibal, triunfador de bilheteiras e óscares pela melhor interpretação.
Passados estes milénios, quando lemos que um escritor mexicano -para mero exercício da sua requintada coolness - esquartejou e cozinhou a noiva, entrevemos os heróis da "civilização parocidental"- não apenas os novos gladiadores desportivos, mas também, e sobremaneira, os ícones "made in hollywwod" de exportação global. José Zepeda, nosso bizarro contemporâneo, surpreendido em flagrante quando frigia um naco bem temperado da desafortunada Alejandra, não emulava Hércules, nem Teseu, nem qualquer derivado ou descendente seus, triunfadores de monstros ou aberrações. Pelo contrário, imitava Hannibal Lecter, o psicopata canibal, triunfador de bilheteiras e óscares pela melhor interpretação.
Poupo-vos a considerandos de ordem moral que tanto enfadam os gigaumbigos hodiernos, bem como enumerações fastidiosas de episódios catitas de idêntico jaez edificante (e podia aqui ficar o resto do dia). Saliento apenas o mais que evidente: o heroísmo é agora um egoísmo levado às últimas e mais extremas consequências. A sociopatia adquire estatuto de coisa santa e vértice sublime. A civilização parocidental é uma anti-civilização. O Mal já não anda só à rédea solta: barricou-se no cockpit.
Quem tiver ouvidos que oiça, quem tiver olhos que chore.
6 comentários:
O intelectual deve ter confundido o "comer" a noiva, o que todos os machos sem mácula gostam, com o "comer" emental dum qualquer chefe de cozinha...
Ainda por cima o tipo contraria duplamente a natureza.É que são normalmente as fêmeas a "comer" o macho...
E quem tiver alma que lute.
Estebes Moscatel
Caro dragão- este postal tem material que nunca mais acaba para se falar, e digo já que não concordo com o termo''ocidental''aqui neste contexto. :) : O primeiro a fazer uma coisa assim ''do tipo'' (entre aspas, considerando a diferença entre o seu próprio braço e o de outrém) - à ''artista a sério'', foi um chinês que cortou o seu próprio braço, como acto artístico por excelência. Na esfera dos ''artistas'' que acham ''que contam''* (americanos, germânicos e&) já se discute este estilo de coisa à tempos...
Mas por agora pergunto-me o seguinte a respeito do artigo no jornal:
''o alemão Armin Weiwes, que assassinou um homem e comeu o seu pénis com o consentimento deste.''
Este ''deste'' ... digamos que a ordem dos acontecimentos, é intrigante como o resto... Também não é totalmente desinteressante (enfim pelo menos para quem gosta destas coisas...) saber como é que se sabe que o - é assim que interpreto - assassinado deu o seu consentimento anteriormente ao assassínio (terá sido por escrito?)...ou são as palavras do assassino?
Ou digamos que o pénis deu o consentimento para ser comido... e ... olha, já nada me surpreende! Quem sabe!
* - Com o apoio de grande parte das Universidades de Belas-Artes, ou das consideradas melhores e mais avançadas... assim como as direcções dos Museus Contemporâneos...etc.
O Hércules não era um filho protegido do maior dos deuses que redundava num brutamontes? As únicas coisas que fez de bom foi a mando da deusa, mulher de seu pai, de que ele era a prova da sua infidelidade? E não foi ele mesmo morto por ter enganado a mulher na única vez que não o fez?
O Teseu não foi o gajo que conseguiu deixar morrer todos os mitológicos Heróis da Grécia antiga sob o seu comando? Não foi ele o gajo que só consegui ser bem sucedido por se ter casado com uma feiticeira de passado questionável (Para ser simpático)? Não morreu ele em desgraça quando já só contava a história de como conseguiu só fazer porcaria assassinado pelo seu próprio barco a cair de podre?
Os gregos e as suas tragédias eram engraçados. Escreviam histórias de como imbecis conseguem fazer grandes imbecilidades. E o povinho embicava de fazer dos imbecis, Heróis.
Quanto ao imbecil que comeu a noiva...Não acho que a culpa seja de quem quer que seja senão dele. Não me parece que seja imputável a Hollywood a sua culpa. Claro que duvido que Hollywood, como a grande devoradora de cadáveres do nosso tempo, deixe de tragar semelhante repasto...
Será que vejo aqui uma linha de continuidade ou será que estou enganado?...ROFL
Está a confundir o Teseu com o Jasão. Decididamente a Grécia Antiga não é o seu forte. (Para ser simpático).
Obrigado pela correcção...
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