Um leitor -que visivelmente me conhece - deixou aí, mais abaixo, um opíparo comentário. Por isso mesmo, leva honras de primeira página. Diz ele:
«Caro Vlad Drakul,
Chama aos jornalistas açougueiros mentais das massas, mas não seria simpático se de facto o fossem? Porque isso significaria duas coisas: que as massas têm mente, coisa que duvido, e que elas existem, coisa que também duvido.
Eu acho que esses tais de açougueiros ceifam em matéria morta, em vinha granizada, em cestos velhos e além disso, de resto, as massas, se é que existem, para lá dos cérebros soviéticos, merecem os jornalistas que têm.
Se quiser eu não vejo remédio social para as coisas que são sociais, porque a própria sociedade é coisa absurda, doentia, erguida contra o destino, o kairos, de quem o tem. No entanto, gostava de estar enganado, se bem que terão que mo provar com muita claridade, pois não gosto da inexactidão.
Eu desde há muitos anos estou contra a massa e contra as massas, que mesmo não tendo vitalidade têm um peso morto de inércia incalculável. Gostava de poder viver, mas verifico que só estou a sobreviver, o que já não é mau, convenhamos, em tempos de pior do que demência, de amência televiseira generalizada.
Quanto às terapias a aplicar a este país cheguei à conclusão que não só não as há, como se as houvesse, não as aplicaria. Se em algo tivemos alguma grandeza (periodo das Descobertas, por exemplo) foi apenas devido a rasgos individuais, com apoio minimo, ou com contradição feroz erguida contra eles desde o primeiro instante.
Depois das descobertas só descobrimos que não tínhamos descoberto mais nada, nem sequer a nossa inépcia.
Por isso chamem-me pessimista ou pirandelliano mas já levo aqui umas boas décadas na Lusiputânia, como lhe chama o Drummond de Castro, e não vejo redenção para a Autarquia Inóspita e Piranheira em que este país se transformou.
As coisas, como sabe, não só vêm deste governo, que já veio escarrado do anterior, que por seu turno...
Talvez Thot e Thor me tenham posto aqui nesta falência colectiva e cognitiva para servir de Pólo de pessimismo Tónico e completo. Que se resume assim: desde a Cruz Vermelha às Filhas de Maria, desde o Futebol ao Procurador geral da República, desde a Comuna soviética ao Sebastianismo, desde a queca fraca colectiva ao solipsismo monástico, não acredito em nada disto. Por isso, vivo só com uma centena de garrafas de rum à frente, cada uma delas emoldurada com pele de almirante. Belos tempos, outrora! Talvez ainda voltem, pelo menos tonifico a energia que me resta para isso.
À sua saúde,
Pelo Sul no centro de tudo!
Vidor Viking»
«Caro Vlad Drakul,
Chama aos jornalistas açougueiros mentais das massas, mas não seria simpático se de facto o fossem? Porque isso significaria duas coisas: que as massas têm mente, coisa que duvido, e que elas existem, coisa que também duvido.
Eu acho que esses tais de açougueiros ceifam em matéria morta, em vinha granizada, em cestos velhos e além disso, de resto, as massas, se é que existem, para lá dos cérebros soviéticos, merecem os jornalistas que têm.
Se quiser eu não vejo remédio social para as coisas que são sociais, porque a própria sociedade é coisa absurda, doentia, erguida contra o destino, o kairos, de quem o tem. No entanto, gostava de estar enganado, se bem que terão que mo provar com muita claridade, pois não gosto da inexactidão.
Eu desde há muitos anos estou contra a massa e contra as massas, que mesmo não tendo vitalidade têm um peso morto de inércia incalculável. Gostava de poder viver, mas verifico que só estou a sobreviver, o que já não é mau, convenhamos, em tempos de pior do que demência, de amência televiseira generalizada.
Quanto às terapias a aplicar a este país cheguei à conclusão que não só não as há, como se as houvesse, não as aplicaria. Se em algo tivemos alguma grandeza (periodo das Descobertas, por exemplo) foi apenas devido a rasgos individuais, com apoio minimo, ou com contradição feroz erguida contra eles desde o primeiro instante.
Depois das descobertas só descobrimos que não tínhamos descoberto mais nada, nem sequer a nossa inépcia.
Por isso chamem-me pessimista ou pirandelliano mas já levo aqui umas boas décadas na Lusiputânia, como lhe chama o Drummond de Castro, e não vejo redenção para a Autarquia Inóspita e Piranheira em que este país se transformou.
As coisas, como sabe, não só vêm deste governo, que já veio escarrado do anterior, que por seu turno...
Talvez Thot e Thor me tenham posto aqui nesta falência colectiva e cognitiva para servir de Pólo de pessimismo Tónico e completo. Que se resume assim: desde a Cruz Vermelha às Filhas de Maria, desde o Futebol ao Procurador geral da República, desde a Comuna soviética ao Sebastianismo, desde a queca fraca colectiva ao solipsismo monástico, não acredito em nada disto. Por isso, vivo só com uma centena de garrafas de rum à frente, cada uma delas emoldurada com pele de almirante. Belos tempos, outrora! Talvez ainda voltem, pelo menos tonifico a energia que me resta para isso.
À sua saúde,
Pelo Sul no centro de tudo!
Vidor Viking»
Cumpre-me dizer o seguinte (e é uma coisa muito smples): começo a ficar lixado com os meus leitores. Suplantam-me constantemente!
E afinal a nacinha já tinha nome: Lusiputânia. Ergam uma estátua ao Drummond de Castro.
6 comentários:
De facto..., muito bom. Digno de um Dragão.
Ainda não, Dragao. Talvez um dia possam suplantar-te, mas a próxima década não será ainda a véspera desse dia.
Abraço.
joao de miranda m.
Esta escrita é, absoluta e definitivamente, digna de alter ego.
No espírito e na forma, cospe fogo por todos as letras. Nas expressões particulares é um rematado plágio. Ninguém escreve "açougueiros mentais de massas", noutro lado. Ou, "o kairos, de quem o tem". Ou ainda, "cada uma delas emoldurada com pele de almirante".
Vidor Viking? O tanas!
Vidor Pirate.
Ou antes, Vidor and the pirates. Como em Terry and...
Pois, ó Zé. Mas não é. E isso é que me encanta.
Também me parece que desta vez não é rábula, mas quem é o Drummond de Castro?
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