«A miséria russa que tão bem observei é inimaginável, asiática, dostoievskiana; um inferno bolorento, arenques fumados, pepinos e bufaria... O russo é um carcereiro de nascença, um chinês falhado, torcionário; o judeu enquadra-se-lhe na perfeição. Escória da Ásia, escória de África... foram feitos para casar... é o mais belo casamento que alguma vez terá saído dos infernos... não me aflige nada dizê-lo... depois de uma semana de passeios tenho as minhas opiniões bem formadas... Natalie tentou, era o seu dever, fazer com que eu mudasse de opinião, doutrinar-me amavelmente... depois, enfureceu-se... quando verificou a resistência... Não conseguiu mudar nada... repeti-o a todos, a Leninegrado, à minha volta, a todos os russos que me falavam, a todos os turistas; que era um país atroz, que até para os porcos seria penoso viver em semelhante chiqueiro... e, depois, como a minha Natalie se me opunha, me tentava convencer... bom, decidi então escrevê-lo para todos, em cartões-postais, para que vissem bem nos correios, já que são tão curiosos, os russos, com que linhas me coso... porque eu não tenho nada para renegar!... não uso falinhas mansas... penso como quero, como posso... em voz alta...»
- Céline, "Bagatelas para um Massacre" (Tradução livre)
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