domingo, abril 23, 2006

As asas do despejo


Mas mesmo no voyeurismo coprófilo, Pacheco Pereira, como não podia deixar de ser, distingue-se. Alcandora-se. Emerge, olímpico, acima do vulgo, da ralé. Sobretudo quando o que está em causa é espreitar o traseiro à própria ralé, não quer deixar os seus guardanap...digo, pergaminhos, por mãos alheias. Nunca! Dá-se ares, devassa sobre a bosta, altaneiro, de monco empertigado e entoando glu-glus. Um requintado –gebo, mas requintado, sem dúvida. Um sobreperverso. Um Necas-plus-ultra, como diria o Caguinchas (que, a esta hora, se não estou em erro, já deve ter saído em liberdade da penitenciária de Lisboa). Compenetremo-nos: O trivial não o satisfaz, ao Pacheco. É algo acima da banalidade o que o obceca. Não espreita apenas pelos sanitários, à coca dos despejos mais transbordantes. Não; regista também, meticulosamente, as horas das visitas. O tempo médio. Estabelece gráficos, estatísticas, livros de ponto. Sopesa e analisa. Vigia fermentações e mede velocidades de sedimentação. Nomadiza, enfim, com a ubiquidade inefável do anjo da guarda republicana e a gulodice intrépida do sociólogo beija-flor.

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