domingo, outubro 23, 2005

A Pluto-anóia, ou o Carácter dos Ricos


«Os caracteres que decorrem da riqueza estão à vista de todos. Os que os possuem são soberbos e orgulhosos, porque de certa maneira estão afectados pela posse das riquezas (estão na mesma disposição daqueles que possuem todos os bens; a riqueza, com efeito, funciona como uma medida de valor das outras coisas, porque tudo parece poder comprar-se com dinheiro). São também efeminados e petulantes; efeminados, porque vivem no luxo e fazem ostentação da sua felicidade; petulantes e até grosseiros porque estão habituados a que toda a gente se ocupe dos seus desejos e os admirem, e também porque crêem que os outros desejam o que eles têm. (...)
Também se acham dignos de governar, porque julgam possuir tudo aquilo por que vale a pena governar. Em suma, o carácter de um rico é o de um idiota* felizardo.
Os caracteres dos novos-ricos diferem dos antigos no seguinte: os novos-ricos além de terem todos os vícios dos outros, ainda os têm em maior grau e com maiores defeitos (é que no novo-rico há como que uma ausência de educação no tocante à riqueza).»

Aristóteles, "Retórica"

* Aristóteles usa, no original grego, a expressão: "Anohéton eudaimonos". "Anohetón", traduz a negação ou privação de "noesis", ou seja, "a-noesis". Ora, se noesis" significa "inteligência", tal qual "nous" significa "espírito", este "a-nohéton" pode traduzir-se por "sem inteligência", ou "sem espírito", donde que existem várias opções ao "idiota" por mim empregue. Cito algumas: "doido", "débil mental", "imbecil", mentecapto", "demente", etc, etc. O leitor use aquela que mais lhe agradar. Todas elas preservam fidelidade ao texto e àquilo que o autor nos quis legar.

3 comentários:

josé disse...

Ricardo Salgado entra no retrato?

No outro dia, vi-o na tv, por um instante, entalado...

E o palerma do Sousa Tavares que está ligado a essa gente por laços de parentesco?

zazie disse...

há coisas que nunca mudam...

dragão disse...

A questão do parentesco é interessante. O próprio Aristóteles tem ideias muito realistas sobre isso, quer dizer, sobre as "linhagens". Num próximo postal, talvez venha a propósito expô-las.