Vossa Excelência tem ar de quem percebe do assunto, pelo menos mais que eu, que não percebo patavina. Por isso quando afirma, com toda a segurança, que "os problemas ambientais derivados das nossas necessidades energéticas resolvem-se com investimentos no CONHECIMENTO e na TECNOLOGIA", sinto-me quase inclinado a segui-lo cheio de fé. Não obstante, tropeço no quase. Tanto quanto a ignorância, é a casmurrice a trabalhar-me, bem vê. Finco-me, pois, que nem lapa, dum modo talvez simplório mas pertinaz, a rochedos e falésias milenares, omnipresentes, imarcescíveis, cuja origem remonta à inspiração de artistas como Caim e, desde então, não mais deixou de operar prodígios edificantes, bem como influenciar profetas e estadistas. Vejo-me assim constrangido a confessar-lhe, com mágoa: bem gostaria de segui-lo nessa sua tecno-utopia futura, mas todo este passado obtuso, rochoso, feito de sedimentos e cristalizações, impede-mo, o grande filho da puta! Refém das suas (dele, cabrão de passado) artimanhas, não me resta outra alternativa senão continuar a achar, até prova em contrário, que "os problemas ambientais derivados das nossas necessidades energéticas", esses bandalhos, só têm resolução possível, senão mesmo urgente, através de uns simpáticos, beneméritos e despreconceituados extraterrestres que apareçam por aí, num belo dia destes, armados até aos dentes (ou o que quer que faça neles as vezes da dentadura) de raios da morte, megarazorlaserbombs (ou equivalente), canhões de antimatéria Zeta, buracos negros telecomandados e demais arsenal alienígena de reconciliação (pelo menos com o Criador) acelerada e transgaláctica, e acabem duma vez por todas com elas (as nossas necessidadedes energéticas e os problemas daí derivados, pois claro). É mesmo a isto, a um fenómeno supino e benigno desta envergadura, que eu chamo, com propriedade, parece-me, "Conhecimento e tecnologia". Decorre o mesmo duma verdade fundamental: Qualquer espécie mais avançada que a nossa logo que nos conheça não hesita em usar em nós toda a sua tecnologia. E nós, que passamos a vida a experimentar, sem dó nem piedade, o nosso conhecimento e tecnologia uns nos outros, não nos podemos queixar, pois não? Pelo contrário, será da mais elementar justiça que agradeçamos (de antemão, porque a posteriori será difícil), tão gentil agasalho. Afinal, sempre nos prestam um serviço gratuito, urgente, limpo e, ainda por cima, poupam-nos um ror de investimentos.
Ou dito por outras palavras: os nossos problemas ambientais derivados das nossas necessidades energéticas" resolver-se-ão automaticamente no dia em que surgir algo ou alguém com necessidades energéticas substancialmente maiores que as nossas.
Bem, e tudo isto pesado, depois de muitas voltas, parece-me que, afinal, até concordamos no essencial: ambos apostamos no Conhecimento & Tecnologia, essa excelente empresa. A diferença é que enquanto Vª Excª receita que se invista - ou seja, que se malbarate o dinheiro dos contribuintes otários – no Conhecimento e Tecnologia humanos, eu, para lhe ser sincero, tenho mais fé na isenção e - sobretudo!- na pontaria dos extraterrestres. Há-de, Vª Excª, com toda a sua ciência esotérica, perdoar-me este meu obstinado exotismo .
Deste seu leitor atento,
Dragão
Sem comentários:
Enviar um comentário