Está aberta a audiência. Preside o meritíssimo Dragão!...
É verdade, em parceria com a revista "Maria", agora a sério, em directo para todo o blogocosmos, passamos a emitir a primeira sessão do "Consultório Íntimo do Dragão".
Como podereis constatar no número desta semana, página 59, da revista mais vendida em Portugal, pergunta-me a A.G., do Porto:
P.- "Como estava sozinha em casa, resolvi ver um canal de filmes porno e senti vontade de me masturbar. Como não tinha nenhum objecto, utilizei o comando de televisão. Serei estranha?"
R.- Cara amiga, estranha não direi, mas certamente impetuosa. Impaciente, também. Calculamos que não tivesse a vassoura a jeito, nem uma garrafa qualquer à mão de semear. E as cadeiras, se bem que disponibilizem quatro pernas lascivas, não são facilmente manipuláveis. Vai daí, a cara amiga...
É claro que não nos fornece informações pormenorizadas sobre o perfil vulvodinâmico do aparelho de controlo remoto em questão. Convinha que o fizesse, senão deixa-nos para aqui um tanto ou quanto perplexos, senão mesmo intrigados. A fazer fé nos modelos usuais, somos levados a imaginá-la sob o efeito dum entusiasmo paranormal. Não terá confundido masturbação com possessão? Tem a certeza que era um filme porno e não o "Exorcista" 1? Reparou se, por alturas do transporte, a cabeça lhe andava à roda, num carrocel frenético, à medida que estrebuchava e esperneava no sofá? Por acaso não notou uma mudança drástica e cavernosa no timbre de voz, à medida que gemia e arfava? Lembra-se de urrar, de entoar roncos medonhos e horripilantes, de vociferar blasfémias inauditas e vomitar uma substância verde com um teor gosmoso e pestilento?
Se não registou nenhum destes singulares fenómenos, então temos que partir do princípio que se masturbou de facto com o telecomando. Repito: isso não faz de si uma pessoa estranha. Nem por sombras. Tranquilize-se. Quando muito indicia um carácter exigente, superlativamente fogozo: somos levados a supor que o telemóvel não a satisfez. Ou que o deixou cair lá dentro e, perturbada com o turbilhão de emoções inauditas, afogueada, empunhou o telecomando e prosseguiu a todo o vapor. Um desvario imperioso, esse, perfeitamente inofensivo.
Mentiriamos, não obstante, se não dissessemos que nos surpreende um pouco um certo estouvamento imprevidente da sua parte: caramba, não se resvala assim para um passatempo desses sem uma reserva de legumes apropriados, de piquete e prevenção. No mínimo, uns vegetais oblongos, que sei eu, uma courgette ou um pepino, a limite, uma banana, uma pera abacate, talvez não destoassem dessa sua vernissage. O rolo da massa, porque não? Ou será que a cozinha fica muito longe da sala, e o estado de urgência que de si se apoderou não lhe permitiria, em qualquer dos casos, o percurso, o preâmbulo, ou sequer o desvio?...
Em contrapartida, há que reconhecer-lhe uma certa prudência: nem o tubo do aspirador ou o secador de cabelo, qualquer deles a pleno sopro ou sucção, a seduziram. Talvez numa próxima oportunidade, se os apanhar ou predispuser a jeito, quem sabe. Longe de mim pensar, sequer, em desencorajá-la de tão trepidante aventura. Pelo contrário, aguardarei, em voluptuosa espectativa, pelo inolvidável desenlace e posterior relato (quiçá, no telejornal), de tão épica jornada. O mesmo, já agora, direi da jarra de flores ou do candeeiro da sala, claro está, sem o abajur. Mas...tem a certeza que a varinha mágica é uma boa ideia?...
Todavia, durma, durma descansada, cara amiga, porque quanto ao essencial bem pode descansar indemne às tensões e angústias: estranha é que não é. Nem bizarra. Apenas singular, tremendamente original. E - pela elastecidade vaginal veteraníssima que se depreende da sua breve mas reveladora missiva (já que durante o seu frenesim de êmbolo, ao contrário do que seria de esperar, da parte do vaivém nenhum zapping desaustinado resultou e o canal -como o seu bombear expedito e ininterrupto nos leva a pressupor - prosseguiu na sua emissão imperturbável e excitante) -também nada virgem ou sequer inexperiente. Nem, tão pouco, penaliza-nos intui-lo, nada pudibunda. Já viu se os seus netos a surpreendem num desarvoro desses?...
2 comentários:
Espero que a senhora tenha, pelo menos, passado um paninho húmido no tele dispositivo, após tão apasiguadora sessão, para o libertar de futuras ictiosicas emanações.Cumprimentos.
Macacos me mordam se não rebento a rir.
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