terça-feira, abril 19, 2005

Fúnebres perspectivas

«Funerárias ameaçam entrar em greve
As associações que representam 85% das agências funerárias do País estão a ponderar a possibilidade de fazer uma greve, devido à publicação de uma nova lei que regulamenta o sector aprovada pelo Governo de Santana Lopes.
De acordo com a edição desta terça-feira do Correio da Manhã, esta lei poderá levar ainda a «uma invasão de Lisboa por carros funerários» ou ao «bloqueio das entradas do cemitério», anunciaram as associações.
Em causas estão as mudanças impostas na nova lei, sobretudo a que permite a diminuição do número mínimo de funcionários das funerárias que de quatro passam a ser obrigadas a ter um.
Com esta lei, além dos cerca de três mil funcionários que vão para o desemprego, fica aberta a porta à clandestinidade, afirmou o presidente da Associação de Agentes Funerários de Portugal (AAFP), João Moura.
Este responsável acrescenta ainda que com este novo regulamento «um dos maiores prejudicados é o consumidor que passará a ser mal servido ao cair nas mãos de agências clandestinas».
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Notem, meus amigos, para além do surreal-macabro da notícia, o sublinhado a vermelho. A pergunta que logicamente nos ocorre é: como é que um gajo sozinho transporta o caixão (ou o féretro, se preferirem)? Leva-o de rojo? Tem que ser um brutamontes, um hércules capaz de carregar com a cangalha às costas? Recorre ao uso dum monta-cargas, como aqueles moços de bata azul nos hipermercados? Pede à família que dê uma ajudinha? Subcontrata pretos ou ucranianos, à tarefa? Faz como?

E a família do "consumidor", ao ver o seu ex-ente querido a ser levado em qualquer dessas formas pouco ortodoxas, o que pensará? E o João Miranda?

Meditemos.

Em todas estas questões pertinentes, enquanto Lisboa não é invadida por carros funerários e as entradas dos cemitérios não são barradas por exaltados abutres aos buzinões.

É o que a Democracia tem de mais genuíno: a ubiquidade da anedota. O grotesco ao virar da esquina.

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