sábado, abril 30, 2005

Pelo sim, pelo não...Nada de comentários.


Felizmente, na blogosfera, existem umas espécies de diques primários onde a porcaria mais grosseira encalha. Vagalhões de merda alucinantes, ameaçadores, que de outro modo ficariam por aí à solta, levando o fedor e a ignóbil matéria - de enxurrada - por caixas de mails e de comentários, são assim confinados a tranquilas albufeiras, onde a placidez, a concórdia e o cheiro nauseabundo se concentram...e imperam.
Nunca agradeceremos o suficiente aos "abruptos", "murcões", "ene merdas", "carapaus de corrida" e "queridinhos", todos da paróquia. O serviço que prestam à comunidade, estes paredões altivos, estes filtros colossais, é merecedor de público reconhecimento e justo louvor. Que as câmaras municipais, além de rotundas, mandassem erigir estátuas em sua homenagem não seria de depreciar. E que mesmo o PR lhes distribuísse comendas e o governo subsídios, só teríamos que saudar e aplaudir. De pé! Pedindo bis!...
Sei que podemos confiar neles. Que nunca esmorecerão na atracção fatal que exercem sobre esses exércitos de vil substância. Possuem um je ne sais quoi de irresistível que polariza toda uma providencial convergência desse imenso e inexaurível esgoto sideral (sideral porque sidera). Talvez uma força magnética única, escatotrípeta, sinal duma nova revolução destronadora do velho Copérnico: são, quiçá, a prova viva (ou melhor: zombie), de que afinal nem o sol gira à volta da terra, nem a terra de roda do sol, mas ambos, e tudo, gravitam em redor e adoração da trampa. Deus os abençoe e guarde pois, àqueles beneméritos, assim, utilíssimos, guichés da paloncice e da mentecapção apinocada, por muitos e longos anos!...
Mas não arrisco. Já sou capaz de conviver amenamente com massacres e envenenamentos a conta gotas, com presídios globais e paneleiros infestantes, com vampiragens e roubalheiras instituídas, mas há coisas para as quais ainda me falta estômago. Há náuseas para as quais ainda não me treinei. Nem acho, no tempo que me resta de vida, ter espaço remanescente para me adestrar. A possibilidade (absolutamente remota, eu sei – mas remoto não é impossível) de um belo dia abrir uma caixa de comentários deste blogue e dar de caras (as minhas, claro está) com as fuças (as deles) absolutamente toinas, asquerosas, em nojenta fermentação de cretinices, em bajuladouro desinsofrido, dum tal "Lobices" ou doutro não menos seboso "portocroft", ou a puta que pariu qualquer desses ciber-cucos que se instalam a verter bosta em ninho alheio, confesso: deparar-se-me uma tromba dessas e não a poder partir logo ali, materialmente, com patadas justiceiras, topar com um cabrão desses a fazer-me uma carantonha daquelas e não poder, no mesmo instante, corrê-lo a pontapés no fundo daquilo que não tem, era, proclamo-o sem quaisquer dúvidas, uma violência absolutamente insuportável contra mim e os meus legítimos direitos de ser vivo, erecto e pensante! Instauraria em mim um trauma, uma fúria arrepelante para o resto da vida. Escavacaria eu, em fruste sucedâneo, a mobília, deitaria fogo ao computador, atiraria cadeiras pela janela, dispararia às cegas sobre transeuntes, mas a honra continuaria suja, ignobilmente emporcalhada. Não haveria detergente ao cimo da terra capaz de extrair tão infamante nódoa. É daquelas coisas que não podem deixar de fazer-se, sob pena de perder-se a alma.
Por isso, repito, não estou disposto a correr riscos. Nunca se sabe. Se as limitações são tais e de tal modo cerceadoras da justiça, só me resta uma medida: aqui, no "dragoscópio", acabaram-se as caixas de comentários. Se tiveram alguma emergência, usem o mail. É drástico, mas é assim.
Digam-me que exagero. Digam-me que jamais essa choldra desaguará por aqui (precisamente pelas razões por mim inicialmente apontadas). Sim, sim... Digam-me, até filosoficamente, que a escumalha adora, sobretudo, espelhos. Mesmo assim.
Se bandalhos desses me irrompessem aqui no blogue, a gralhar em bandos, a guinchar em lianas, seria eu que nunca mais conseguiria olhar-me num espelho.
Foda-se!...

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