Em Portugal, há excesso de função pública e um défice crescente, a desmesurar-se, de serviço público. O "funcionário", regra geral, não tem em mente servir o público, mas servir-se dele. E se isto se passa a jusante, a montante cumpre-se o exactíssimo reflexo no espelho: basta substituir a palavra "público" pela palavra "Estado".
Não julgo que seja um fenómeno exclusivo do nosso país. Toda uma Europa burocratizada vive este mal-estar intestino, este conflito nas vísceras entre "Função" e "Serviço", ou melhor dizendo, entre o verbo "funcionar" e o verbo "servir". Quer dizer, aumentam quotidianamente as realizações e reinvenções peregrinas que vão funcionando, mas diante das quais, o cidadão minimamente desperto se coloca uma interrogação inevitável: Para que é que isto serve?
É mesmo uma pergunta que assombra cada vez mais o nosso mundo. Destrambelhado mundo que, quanto mais se complica, se "moderniza" e reforma, mais absurdo parece. Como o labirinto, dentro do qual perdemos há muito toda a orientação e zanzamos dementes, irremediavelmente perdidos, sem memória da entrada nem, tão pouco, a mínima noção ou fé na saída. Escutando apenas, cada vez mais próximo, o resfolegar lúgubre da Besta que lá reina. Os gregos chamavam-lhe Minotauro. Nós havemos de chamar-lhe o quê?...
Porque quando o mundo deixa de ser construído para o homem, passa o homem a ser criado para o labirinto.
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