Criar desenfreadamente a pobreza é criar as condições efectivas para a erupção de movimentos e géneses comunistas ou socializantes. E quanto mais indigente e desesperada for essa pobreza, pior. Uma vez destituído, despojado de direitos e bens, qualquer ser humano se sente subitamente inundado de vocações fraternas. Se odeia partilhar a riqueza, em contrapartida, anseia por partilhar a desgraça e o despojo. É um facto que tudo isso é muito epidérmico: passa-lhe logo que experimenta, caso experimente, as poltronas do poder. Mas, no entretanto, muita coisa pode acontecer. Alguma coisa geralmente acontece. Quase nunca pacífica. Ora, quando os Neoconas, na senda dos neoliberais, se ensaiam de criar uma indigência de massas à escala mundial, estão a conseguir aquilo que os movimentos de esquerda, sobretudo sovietizantes, nunca conseguiram através dos seus esforços proselitistas. Estão a criar as condições objectivas para que a profecia marxista corra sérios riscos de, finalmente, se realizar: o capitalismo cairá fruto das próprias contradições; a Revolução só resultará à escala mundial. Resumindo: globalizar a pobreza, a exploração furiosa e a injustiça é globalizar a revolução.
Por conseguinte, apostar no neoconismo a curto e médio prazo é, necessariamente, apostar no neocomunismo a longo. Não é que não haja uma certa justiça irónica nisso tudo: de facto, uma variante comunista particularmente virulenta (ao estilo camboja dos gloriosos tempos de Pol Phot) seria o local ideal para uma estadia vitalícia por parte de gentalha da estirpe dos neoconas norte-americanos e, sobretudo, dos seus sequazes por esse mundo fora. Mas apenas para eles, como seu campo de trabalho exclusivo, seu parque privado, bem fardados e dedicados a uma perpétua e extenuante vida agrícola nos arrozais. O resto das pessoas, claro está, apenas lá deviam ir de visita, uma vez por ano, regalar-se com a paisagem e com o regime sadio dos internados. Era pitoresco e pedagógico. Se pudesse ser enxertado na coisa o cavalo-marinho do velho regime colonial, tanto melhor. Sabemos que certos serviços carecem de estímulo apropriado e que certas bestas só lá vão à força de chicote. Convenhamos até que era uma excelente oportunidade para ambas as aberrações (o comunismo e o colonialismo) darem as mão e se redimiram de tantos pecadilhos de outrora. Eram só vantagens.
Seriam, melhor dizendo; se a História e a Prudência nada nos ensinassem. Uma nuvem, de facto, deveras negra, ensombra o horizonte: é que provavelmente o tipo de gentalha que constitui actuamente a “nomenclatura neoconas” – todos esses “think tanks” da puta que os pariu –, transferir-se-á de armas e bagagens para o bando -só em tese- teoricamente oposto e, em larvar metamorfose, virá desempenhar também a “nomenclatura neocomunista” do amanhã. Será mesmo o passo lógico, o desencasular-se. Uma vez criada a massa global e única, é sabido que o método comunista é o melhor para lidar com ela, aquele que tem não só a teoria como também a prática.
E de tanto espiar o monstro soviético, a “inteligência” americana acabou por se apaixonar por ele. E vice-versa.
Quanto à beleza desse neocomunismo futuro, mas cada vez menos longínquo, resume-se a dois conceitos: uma nomenclatura para partilhar os lucros, o poder e a ciência; e uma massa bruta, amorfa e lobotomizada, para partilhar o trabalho, as despesas e a ignorância.
Agora prestem atenção: nada de confundir este “animals farm por vir” com uma “aristocracia” que, em tese e etimologicamente, significa o “poder pelos melhores”. Se quiserem cunhar o novo modelo, tal qual se adivinha, será, ao invés, uma “Quirocracia”, ou seja, o “poder dos piores”. Ou dos “porcos”, se preferirem - para ficar mais de acordo com a alegoria orwelliana.
Do largo excedente de mão de obra e do destino que lhe está reservado, é melhor nem falar.
Por conseguinte, apostar no neoconismo a curto e médio prazo é, necessariamente, apostar no neocomunismo a longo. Não é que não haja uma certa justiça irónica nisso tudo: de facto, uma variante comunista particularmente virulenta (ao estilo camboja dos gloriosos tempos de Pol Phot) seria o local ideal para uma estadia vitalícia por parte de gentalha da estirpe dos neoconas norte-americanos e, sobretudo, dos seus sequazes por esse mundo fora. Mas apenas para eles, como seu campo de trabalho exclusivo, seu parque privado, bem fardados e dedicados a uma perpétua e extenuante vida agrícola nos arrozais. O resto das pessoas, claro está, apenas lá deviam ir de visita, uma vez por ano, regalar-se com a paisagem e com o regime sadio dos internados. Era pitoresco e pedagógico. Se pudesse ser enxertado na coisa o cavalo-marinho do velho regime colonial, tanto melhor. Sabemos que certos serviços carecem de estímulo apropriado e que certas bestas só lá vão à força de chicote. Convenhamos até que era uma excelente oportunidade para ambas as aberrações (o comunismo e o colonialismo) darem as mão e se redimiram de tantos pecadilhos de outrora. Eram só vantagens.
Seriam, melhor dizendo; se a História e a Prudência nada nos ensinassem. Uma nuvem, de facto, deveras negra, ensombra o horizonte: é que provavelmente o tipo de gentalha que constitui actuamente a “nomenclatura neoconas” – todos esses “think tanks” da puta que os pariu –, transferir-se-á de armas e bagagens para o bando -só em tese- teoricamente oposto e, em larvar metamorfose, virá desempenhar também a “nomenclatura neocomunista” do amanhã. Será mesmo o passo lógico, o desencasular-se. Uma vez criada a massa global e única, é sabido que o método comunista é o melhor para lidar com ela, aquele que tem não só a teoria como também a prática.
E de tanto espiar o monstro soviético, a “inteligência” americana acabou por se apaixonar por ele. E vice-versa.
Quanto à beleza desse neocomunismo futuro, mas cada vez menos longínquo, resume-se a dois conceitos: uma nomenclatura para partilhar os lucros, o poder e a ciência; e uma massa bruta, amorfa e lobotomizada, para partilhar o trabalho, as despesas e a ignorância.
Agora prestem atenção: nada de confundir este “animals farm por vir” com uma “aristocracia” que, em tese e etimologicamente, significa o “poder pelos melhores”. Se quiserem cunhar o novo modelo, tal qual se adivinha, será, ao invés, uma “Quirocracia”, ou seja, o “poder dos piores”. Ou dos “porcos”, se preferirem - para ficar mais de acordo com a alegoria orwelliana.
Do largo excedente de mão de obra e do destino que lhe está reservado, é melhor nem falar.
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