Começo por dizer que não simpatizo minimamente com esbirros. As polícias são instituições modernas prometidas aos mais lúgubres experimentalismos e instrumentalizações. Isto não invalida o reconhecimento da função social destas coorporações. Se não existisse a polícia, provavelmente, o canibalismo já teria descido da economia aos restaurantes. Por enquanto só ainda vai nos mercados. Mas é manifesto: perdido o medo ao inferno e às respectivas penas resta o medo à polícia e aos tribunais. Aquele, aliás, veio, sistematicamente, sendo substituído por este. Se repararmos com atenção, os terroristas do nosso tempo, para efeitos concretos, fazem as vezes dos súcubos, íncubos, bruxas, judeus e demais hostes satânicas da Idade Média. E a Nova Igreja a que chamam Estado - o Ídolo Frio de que falava Nietzsche -, aposta num policiamento cada vez mais concentracionário e intrusivo das multidões, dos indivíduos e, por herança preciosa, das consciências. A pretexto, como é da praxe, duma luta contra a intrusão de entidades invariavelmente híbridas, misto de demoníaco e fantasmagórico.
Resumindo, o alienígena tenebroso continua à solta, à espreita, e neste parque infantil onde nos apascentam, para efeitos de vigilância, o esbirro de Deus cedeu a vez ao esbirro do Estado. Quer dizer, para o que dantes desempenhava o pastor humano, agora basta o cão polícia. Não abona muito da saga mental cá da rapaziada, pois não. E para agravar a vergonha, calcula-se que em breve o cão será substituído por um robot (ou drone, que é assim uma espécie de robot alado). Chamamos progresso à desumanização. Certo é que a máquina sairá ainda mais barata que o animal. E o medo, suspeito bem, é o lubrificante dos ogres que por aqui se abastecem.
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