Parece que, segundo fórmula conhecida, Salazar "queria levar os portugueses a viver habitualmente". Ora, se bem que a sabedoria popular ensine que o "hábito faz o monge", entre nós não fez. Entre nós, a tendência sempre foi mais para fazer o frade. O feijão-frade. O bifronte. O que se traduz, por exemplo, em várias duplicidades singulares e maravilhosas: frequentar a missa e o bordel; confessar-se ao prior e à bruxa; pedir a Deus e comprar ao Diabo; vestir do direito e fardar do avesso; comer à mesa e debaixo dela. Tudo isto e muito mais, bem como vice-versa, com a mesmíssima cara ambivalente e bífida.
Poderá parecer contradição atávica apenas a quem não entenda a evidência elementar: um povo destituído de profundidade é imune à contradição. Ao nível da rama, por onde sistematicamente colibriza, pasta e delibera, a necessidade e a possibilidade geminam-se, fluindo ambas ao sabor da aragem. Cumulando que, em matéria de ventos da História, qualquer flato mais estrepitoso, em prenúncio de romarigante foguetório, lhe serve.
Não lembrava ao Diabo impor o monasticismo a uma gente que, claramente, está viciada - até à medula, até à oitava geração, até à segunda natureza! - no meteorismo. Lembrou ao Salazar.
Ciclicamente, com o sentido de humor que só a liberdade verdadeira e absoluta permite, os Deuses, sensibilizados pelo clamor dos batráquios bem pensantes, enviam uma cegonha. Portugal, é certo, merecia outra gente. Mas isso não é só Portugal, é o planeta inteiro. Esta gente que somos, por lei eterna, merece o que semeia e colhe o que cultiva. Abro apenas uma excepção: a nossa esquerda. Essa, sobretodos angélica e insaciável matilha, não merecia, nem hoje nem nunca, um Salazar: merecia um Vlad. O Empalador.
Sem comentários:
Enviar um comentário