terça-feira, maio 31, 2005

Tricofobia para todos


O que é a tricofobia?
Aposto que, ocupados com as fobias da moda, aquelas nefandas que os mixordeiros da propaganda narconazi vos insuflam, a martelo, pela pinha abaixo –a homofobia, a xenofobia, a teofobia, a semitofobia, a melanofobia, etc -, nem tendes tempo para reparar nesta fobia toda catita que por aí anda. Aliás, grassa. Está claro, como pertence à ordem das "fobias bem" não merece reparo. Pelo contrário, merece festejo, romaria, banho de multidão, guarda de honra e fanfarra. Sim, porque também há fobias boas, lindinhas, essenciais ao showbiz e ao autoclismo mental. Não se discute. Só trogloditas ousariam pô-la em causa. Tecer-lhe menoscabo ou desconsideração; nem pensar!...
Mas, do alto desta nossa erudição ribombante, passemos à explicação do que é a "tricofobia"...
Estais preparados? Já tendes o caderninho de apontamentos a jeito? Então registai (mas com cuidado, não se vos parta alguma dessas unhas tão bem tratadas):
Pois significa, nem mais nem menos, "terror dos pêlos". Insere-se no processo de desvirilização em curso e traduz-se, nos homens, pela corrida às depilações, às manicures, aos peidicures e paneleirices congéneres. O ilustríssimo R, com a subtileza elegante que o caracteriza, alertou para a maleita. E eu, com a ferrabraveza militante que me distingue, acorro com a artilharia pesada, em prece ao desmantelamento e ao massacre.
Ocorre-me, para começar, aquele poema do António Botto, esse príncipe dos panascas líricos, que declamava, emocionado, do seguinte jaez:
"Um rapazinho
lavadinho
todo nu
sem pelinhos no cu,
Confesso: até gosto
."
(Da maneira que isto vai, surpreende-me como é que ainda não foram deitar o Botto, nos Jerónimos, ao lado do Pessoa e a fazer olhinhos ao Camões...)
Pois estes gajos modernos, estas florzinhas com pendurezas redundantes, cientes deste capricho dalgumas elites endinheiradas, não se poupam a esforços para cair no goto dum tal mecenas: dos sovacos às orelhas, do nariz à pilinha, dos cascos à peitaça, não dão quartel ao cabelame. Pêlos, cabelos, pintelhos, fora o toutiço, não escapa nenhum: é uma razia, um tricocídio, um massacre! O único local anatómico onde são tolerados é lá no alto, a culminar a mariquice, em forma de trunfa luxuriante, em jeito de popa choupana ou meda de palha. Mesmo as sobrancelhas e as pestanas não escapam incólumes. E se não desatarem a estofar o nalguedo com silicone ou numa devoção pegada à arquitectura de mamas com o mesmo material, já vamos com sorte.
Naturalmente, com os putativos machos a atirarem, assim, com a testosterona borda fora, não surpreende que certa qualidade de fêmeas aproveite e comece a desenvolver músculo, garimpa e voz grossa. Se não montas tu, então monto eu. Ora, para esta nova qualidade de "galos" em ascensão, as opções são óbvias: ou estão ainda em transição mental e, nesse caso, interessam-se por galarós agalinhados; ou convencem-se mesmo que já são galos perfeitos, de crista completa, e avançam sobre galinhas confusas. Da mesma maneira, os galarós agalinhados, consoante o estágio de agalinhamento que tenham alcançado, inclinam-se para galinhas másculas ou galos com tendências. É estranho? Nem por isso: num mundo onde se celebra, com foguetório e algodão doce, a artificialização triunfante, porque não havia de ser artificializado o sexo? De resto, onde se lê "artificialização" pode também ler-se "humanização", isto é, "sofisticação".
Mas não foi o intuito moralista, seja ele qual for, o que aqui me trouxe. Quero que se fodam todos, uns aos outros, se isso os apazigua com a existência! Direi mais: Que fodam muito e se reproduzam cada vez menos, porque, se assim for, é todo um planeta que lucra!...Que abortem, que rebentem, que expludam, é-me indiferente!
Não, a minha jornada é bem menos elevada e bastante mais prosaica. O que vislumbro no meio deste sarrabulho estapafúrdio é, apenas e somente, uma bela oportunidade de negócio. Ainda para mais para um dragão como eu, a quem a natureza - de braço dado com a mitologia- dotou de equipamento a preceito. E se existe procura, tratemos da oferta. Não é esta a lei fundamental da física que rege o mundo actual?
Por conseguinte, estou a pensar abrir um "pelário". Se este galinhedo corre aos solários para se bronzear, e aos ginásios para se encher à bomba ou derreter as banhas, também há-de comparecer no meu "pelário", para eu lhes tratar da penugem. E eu, claro está, trato. Vou lá estar até, pessoalmente, para isso. E a um preço e velocidade imbatíveis, de antemão anuncio. Já estou, inclusivamente, a registar a patente da "fast-depilation". Quanto ao método, não imaginem lasers nem cremes revolucionários. Nada de tratamentos dispendiosos: Vai ser mesmo a maçarico; com labareda firme e constante. Pois não é assim que, ancestralmente, se trata o toucinho?
Com o bónus acrescido e - numa primeira fase promocional - gratuito de, para os mais impacientes, também poderem queimar banhas. Em tempo record. E com a garantia de ficarem pretinhos a rigor. Escarumbas não só por dentro, mas também por fora...já viram que conquista?!
Até podem ir já treinando o vosso hip-hop. Yo!...

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