O Dragoscópio e o seu anacoreta residente têm a honra de apresentar, em primeiríssima mão, para todo o blogúrbio e arredores, a "Nova cartilha de João de Deus", futura sebenta das nossas escolas primárias e respectivas instituições prévias.
Atentemos numa breve passagem de tão transcendente obra, para aquilatarmos, em subtil relance, dos suculentos primores e guloseimas espirituais que aguardam os pequerruchos...
«Eugénia, (palpando os testículos de Dolmancé) -Oh!, minha boa amiga, como me irrita a resistência que opões aos meus desejos!...E estas bolas, para que servem, e como lhes chamam?
Senhora de Saint-Ange - O termo técnico é colhões...artísticamente, denominam-se testículos. Estas bolas encerram o reservatório da semente profícua de que te falei, e cuja ejaculação na matriz da mulher produz a espécie humana; mas deter-nos-emos pouco nestes pormenores, Eugénia, mais dependentes da medicina que da libertinagem. Uma rapariga bonita só deve preocupar-se em foder, nunca em engendrar. Deixemos tudo quanto se relaciona com o insípido mecanismo da população, e detenhamo-nos principal e unicamente nas voluptuosidades libertinas, cujo intento não é, de modo algum, povoador.
Eugénia - Mas, querida amiga, quando este membro enorme, que mal cabe na minha mão, penetra, pois que me asseguras que o pode fazer, num buraco tão pequeno como o do teu traseiro, isso deve provocar uma dor muito grande à mulher.
Senhora de Saint-Ange - Faça-se a introdução pela frente, ou por detrás, quando uma mulher ainda não está acostumada, experimenta sempre dor. Quis a natureza que só atingissemos a felicidade através de sofrimentos; mas, uma vez vencida, nada pode dar prazeres mais intensos, e aquilo que se experimenta quando este membro se introduz nos nossos cus é incontestávelmente preferível ao que resulta dessa mesma introdução, pela frente. Além disso, quantos perigos não são, deste modo, evitados à mulher? A sua saúde corre menos riscos e não há o menor perigo de gravidez. Não me alongo acerca desta voluptuosidade; o nosso mestre, Eugénia, analisá-la-á em breve amplamente e, juntando a prática à teoria, convencer-te-á, espero, minha muito querida, de que, de todos os prazeres de gozo, é aquele que deves preferir.
Dolmancé - Peço-vos, senhora, que não tardeis as vossas demonstrações; não posso suportar mais; vir-me-ei, ainda que o não queira, e este membro temível, reduzido a nada, deixará de ter utilidade para as vossas lições. (...)»
- Marquês de Sade, "A Filosofia na Alcova"
Convenhamos: se o desígnio nacional, na formação das novas gerações, é -por atacado- treinar putas e larilas, ou onanistas a duas ou quatro mãos, então, já que é a pornosofia que nos norteia, ao menos sejamos originais, bebamos nas fontes, abandalhemo-nos à grande e à francesa (o que neste caso até se aplica literalmente).
De facto, repito e reforço, se o intuito é perverter e conspurcar as criancinhas, se, pelos vistos, isso deveio imperativo categórico, não percamos tempo com réplicas sonsas e liofilizadas, frangos de aviário da sexologia, como o dengoso e murcho Doutor Vaz. Não; em vez destes palradores de alcova, desses micro-escafandristas do grelo, peregrinemos os verdadeiros "santuários", os baluartes imorredouros da sexopatia. É que, quer queiramos quer não, há toda uma diferença entre a sexopatia e a sexorreia.
Os petizes, não duvidem, hão-de persuadir-se na mesma que dar o cu ou o pito será a coisa mais imperiosa desta vida. Mas ao menos, com o Divino Marquês, aprendem a falar um português (assim a tradução o permita) de eleição. Dessa singular forma, ao menos, não se perde tudo: salva-se a gramática e com ela, se bem que ao preço de cunnilingus, annilingus e felatios em catadupa, também a Língua.
Tudo isto, claro está, nunca esquecendo que, assim como noutros tempos, mais obscuros, a educação tinha por propósito habilitar o juvenil para o mundo e a vida, agora, todos sabemos, compete-lhe pré-lavá-lo e desossá-lo para a televisão. Ou vice-versa.
Aliás, num país com obscenidades tão ubíquas como o futebol e a TV, outras tão nauseabundas como a política, e diversas tão pregnantes como a literatura-light e a música pimba, já era altura dos infantários e jardins de infância se adaptarem aos admiráveis tempos novos. Quem já deu novos mundos ao mundo, pode perfeitamente dar também o cu ou a racha. Somos um povo benemérito.
Quanto à prometida educação visual, o livro de pintar recomendado pelos psicólogos do Ministério, replecto de figurinhas para colorir... falarei no Kama Sutra numa próxima oportunidade.
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