Os dilectos masturbadores de números e amantes extremosos das estatística não têm dúvidas: o Progresso é uma coisa maravilhosa. A ciência e a indústria, -sem nunca esquecer o comércio (ah, o comércio, o comércio...) -, não se cansam de bater recordes e parir milagres. Assistimos, deslumbrados, a uma verdadeira empreitada de prodígios e avanços mirabolantes.
Só para citar um dos exemplos mais imperiais, a esperança de vida (dum modo geral da espécie humana, mas sobretudo nos países mais industrializados) aumentou extraordinariamente. As estatísticas revelam-no. É um argumento contundente. Prostra qualquer um, desarma o mais céptico dos filósofos.
Isto, claro está, se camuflarmos um pequenino detalhe, uma insignificante bagatela:
É que a esperança de vida do planeta também tem diminuído ainda mais extraordinariamente. Numa proporção diametralmente oposta, senão mesmo uniformemente acelerada.
Já não falando, claro está, naqueles engraçadíssimos anexos que têm vindo a reboque da tão proclamada esperança de vida:
- A esperança de contrair cancro
- A esperança de contrair SIDA
- A esperança de ter filhos impotentes (onanistas ou gays)
- A esperança de corrupção
- A esperança de ser obeso
- A esperança de morrer estupidamente na estrada
- A esperança de desemprego
- A esperança de explodir à bomba
- A esperança de depressão
- A esperança de inaugurar uma síndrome de nome esquisitíssimo
- A esperança de ser cada vez mais estúpido
- A esperança de ser uma mix (mais um termo moderno, directamente importado dos disc-jockey, os verdadeiros filósofos da Nova ordem) de robot e formiguinha
- A esperança de abortar
- A esperança de desesperar
- A esperança de ser toxicodepente (álcool, tabaco, drogas, fármacos, televisão, enfim, o leque de escolha é variado)
- A esperança de não ter água potável
- A esperança de respirar dióxido de carbono
Etc, etc, etc
Realmente, a esperança de vida tem aumentado. Convinha é que, em arrepiante paralelo, a qualidade de vida não diminuísse.
Ou dito de outra maneira: quanto mais longe chega o caminho, mais minas e armadilhas disseminam nele.
Afinal, sem as máscaras da propaganda triunfante, o que é que tem mesmo aumentado: a esperança de vida?...Ou a esperança de morte?
Que é feito das máquinas que nos iam libertar? E da ciência que nos daria o Céu?
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