Estava eu, Dragão, posto em sossego e solene recolhimento no meu tenebroso antro, como, de resto, é costume ancestral na minha família.
Eis senão quando me irrompe pela caverna um Dâmasozinho, daqueles tão típicos – verdadeiramente endémicos – ao luso rincão.
Mirei a criaturinha peregrina com algum tédio e concluí:
-"Olha, um Dâmasozinho!..."
Para que servem os Dâmasozinhos?, pergunto-vos eu. Desde o Eça que se sabe, respondereis vocês: para levarem bengaladas, ora essa. Aprende-se na escola. Ou, pelo menos, aprendia-se. Para tão útil e pedagógico efeito, até compensam a mioleira atrofiada com a excelência e abundância de costados.
Vai daí, ao deparar-se-me tal espécime, perfeito e escarrado, dei-lhe uma bengalada. Uma senhora bengalada, muito bem dada. Tão bem dada que até, lá do céu, Deus e os anjos certamente abençoaram e o sol que nos alumia festejou.
São as leis da vida. Que, ao contrário das do mundo, são justas e santas, senão mesmo um dos raros imperativos categóricos que reconheço. Nós, diante de tais energúmenos, não temos alternativa senão largar-lhes a bengala, sem dó. Eles, em contrapartida, têm (alternativa, quero eu dizer): ou são masculinos e aguentam o brinde merecido a pé firme, em silêncio reverente, com estoicismo; ou nem tanto e desatam em escarcéus, ruídos e ganidos próprios de mercado de peixe e hortaliças. Pois bem, no caso vertente, nem tanto.
Sinal dos tempos, certamente. Antigamente, aí há cem anos, faziam, no essencial, como os poltrões. Agora fazem como as mulheres.
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