Refrão dos mais cantados no nosso país é "atrair investimento". Subitamente, esta é a fórmula de todas as panaceias. Quaisquer problemas que aflijam, onde quer que seja, não há que enganar, a solução é fácil: atrair investimento. De franceses, alemães, japoneses, esquimós, não há por onde enganar: atrai-se investimento e pronto...é melhor que o totoloto: é fácil, é barato e dá milhões. Criou-se mesmo uma agência com essa finalidade específica: atrair investimento. No meio da pior borrasca, basta entoar-se essa runa e o mar encapelado acalma-se como que por milagre – a frase abençoada é verdadeiro azeite sobre as águas. O povo geme, os usurários apertam, a nação periclita...Mas eis que o político remendado, ao volante dum novo governo eleito, recauchutado, sobe à tribuna. E o que é que ele diz? O que é que ele profere em tom sibilino? O que é que deixa sair pelo cerro dos dentes, em rasgo sublime, qual demiurgo retumbante? –Temos que atrair investimento! É a solução. É a saída. E é um mistério. Um grande mistério, se querem a minha opinião. Exactamente em que consiste, começo a desconfiar que ninguém sabe. Nem, tão pouco, para o que serve. Balbuciam uns quantos chavões enigmáticos, na quase forma de hieróglifos inefáveis –como "emprego", "riqueza", "modernização" – e pouco mais.
Mas também ninguém se interroga: temos que atrair investimento porquê? Essa, verdade seja dita, é higiene básica que a ninguém ocorre. Fora o ser o "abre-te Sésamo" destes novos Ali Babás, a coisa permanece envolta numa penumbra esotérica de segredo cabalístico. Todavia, atrevo-me à aventura e dou comigo a intuir que, senão pela razão avulsa, talvez pela analogia se lá consiga chegar. Ocorre-me mesmo, sem grande esforço, um portal descriptante:
Aquelas meninas, em trajes diminutos e apelativos, que se oferecem pela beira das estradas, na orla de encruzilhadas e pinhais, não estarão elas, stricto sensu, a "atrair investimento"?...
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