Hoje, para variar, venho aqui tecer encómios. Desembasbacai e tomai atenção: trata-se duma publicação semanal digna de registo. Acaba de me cair um exemplar nas garras, acompanhado dum remoque depreciativo da senhora Dragão, e eu, como é costume, deleito-me...
Este nobre pasquim diz-me tudo o que preciso saber – que um terço das crianças do mundo são obesas; que a Sonda Cassini-Huygens (puta que a pariu) descobriu duas novas luas de Saturno; que uma nova molécula poderá ser uma arma mais barata contra o paludismo; que a Joana Lemos (quem é esta gaja?...) faz revelações marcantes da sua vida; que Paulo Coelho (suponho que é um emérito Chef de cuisine) está de volta com três novos títulos (novas receitas, certamente); que há ténis robustos a €19.99, Cueca/String “Barriga lisa” a €4.99, Brioche fatiado com pepitas de chocolate a €2.99, Conjunto de iscas e anzóis a €9.99, trolley a €11.99, etc, etc, um mundo de utilidades que nunca mais acaba –, e ainda uma série de dicas e conselhos afáveis sobre dismenorreia (fui a correr mostrar à senhora Dragão), segurança rodoviária e cruzeiros no rio Douro. Fico também a saber, com desgosto, que a Björk não só não foi atropelada por um camião Tir desembestado, como continua a produzir melopeias de gosto mais que duvidoso que terei o maior cuidado em não escutar, nem nesta, nem nas próximas vinte reencarnações. Djavan é outro que tal; da “dance Floor Vol.2”, uma colectánea de “house” comercial (como se houvesse outro tipo senão esse), então, nem vos falo; mas já dá perfeitamente para todos percebermos como esta publicação também suculeja de belas merdas que muito devem interessar aos incontáveis anormais que – para grande azar deste provecto e venerável rincão – cismam, todos os anos, de cá vir nascer. Em resumo: um verdadeiro “Expresso” em versão “compact-paper”, se assim podemos dizer. Mas um “Expresso” digno, que toma banho pelo menos uma vez por semana e não transmite doenças venéreas nem herpes labial. Que não é tóxico nem provoca alergias, pelo menos graves ou incuráveis, e que, acima de tudo, é honesto: não nos pretende impingir nem vender porcarias encapotadas, disfarçadas sob o ouropel de artigo, reportagem ou entrevista. Os produtos à venda estão ali, bem descritos e catalogados, sem subterfúgios, com preços apelativos, já com Iva e tudo. Coisas, algumas delas, até utéis, que dão um jeitaço quando nos acometem ganas de bricolages. Nada de insinuações sonsas nem louvaminhas por encomenda; nada de promoções aberrantes e subreptícias de tipos e produtos completamente imprestáveis, insalubres, de qualidade mais que duvidosa, com a mioleira em adiantado estado de putrefacção e a moral com o prazo expirado há décadas. E como se todas estas vantagens não bastassem, este prodigioso pasquim minimalista ainda culmina com o facto de ser distribuído gratuitamente, ao domicílio, com uma pontualidade religiosa. Um fenómeno, é o que vos digo. Ao contrário do tal “Expresso”, refira-se, que além de nos vender abomináveis merdas, ainda se faz cobrar regiamente por isso. Quando o que devia era indemnizar-nos, por efeitos colaterais e publicidade enganosa. Quem diz o “Expresso”, diz o “Público”, o “DN”, o “24 Horas”, a “Bola”, a "Maria" ou o que quer que seja.
Acresce a tudo isto, que já não é pouco, que folheia-se num minuto, o digno pasquim, deita-se pró lixo em dois e é magnífico para cobrir o chão em dia de pinturas ou embrulhar copos e pratos por alturas de mudanças. Eu não quero outra coisa. Recomendo-o vivamente. É quase terapêutico. Chama-se, como já devem ter adivinhado, “Dica da Semana”, e é um must. Além disso, é o único jornal que deixo entrar cá em casa. Isto, apesar dos protestos da Senhora Dragão que, por ela, não deixava entrar nenhum.
E tem mais um detalhe sensacional: a directora –do formidável pasquim – chama-se Madalena Bettencourt e Silveira. Já viram? Não é uma foleirada qualquer, nada de pinderiquices...É uma Bettencourt e Silveira, que diabo! Coisa fina!... Já havia para aí malta na galhofa, mas agora calaram-se. É bem feito! Quanto a redactores (jornalistas, enfim), nem sinal deles. O que é óptimo. Deve ser escrita automática, como já aconselhavam os surrealistas, esses pândegos. Apenas detectei, de raspão, um mamífero que terminava uma longa apologia dum qualquer criador de cães, amigo ou padrinho dele, com a chancela “M.J.F”.
Aposto que tem um blogue.
Eu também não disse que o pasquim era perfeito.
Este nobre pasquim diz-me tudo o que preciso saber – que um terço das crianças do mundo são obesas; que a Sonda Cassini-Huygens (puta que a pariu) descobriu duas novas luas de Saturno; que uma nova molécula poderá ser uma arma mais barata contra o paludismo; que a Joana Lemos (quem é esta gaja?...) faz revelações marcantes da sua vida; que Paulo Coelho (suponho que é um emérito Chef de cuisine) está de volta com três novos títulos (novas receitas, certamente); que há ténis robustos a €19.99, Cueca/String “Barriga lisa” a €4.99, Brioche fatiado com pepitas de chocolate a €2.99, Conjunto de iscas e anzóis a €9.99, trolley a €11.99, etc, etc, um mundo de utilidades que nunca mais acaba –, e ainda uma série de dicas e conselhos afáveis sobre dismenorreia (fui a correr mostrar à senhora Dragão), segurança rodoviária e cruzeiros no rio Douro. Fico também a saber, com desgosto, que a Björk não só não foi atropelada por um camião Tir desembestado, como continua a produzir melopeias de gosto mais que duvidoso que terei o maior cuidado em não escutar, nem nesta, nem nas próximas vinte reencarnações. Djavan é outro que tal; da “dance Floor Vol.2”, uma colectánea de “house” comercial (como se houvesse outro tipo senão esse), então, nem vos falo; mas já dá perfeitamente para todos percebermos como esta publicação também suculeja de belas merdas que muito devem interessar aos incontáveis anormais que – para grande azar deste provecto e venerável rincão – cismam, todos os anos, de cá vir nascer. Em resumo: um verdadeiro “Expresso” em versão “compact-paper”, se assim podemos dizer. Mas um “Expresso” digno, que toma banho pelo menos uma vez por semana e não transmite doenças venéreas nem herpes labial. Que não é tóxico nem provoca alergias, pelo menos graves ou incuráveis, e que, acima de tudo, é honesto: não nos pretende impingir nem vender porcarias encapotadas, disfarçadas sob o ouropel de artigo, reportagem ou entrevista. Os produtos à venda estão ali, bem descritos e catalogados, sem subterfúgios, com preços apelativos, já com Iva e tudo. Coisas, algumas delas, até utéis, que dão um jeitaço quando nos acometem ganas de bricolages. Nada de insinuações sonsas nem louvaminhas por encomenda; nada de promoções aberrantes e subreptícias de tipos e produtos completamente imprestáveis, insalubres, de qualidade mais que duvidosa, com a mioleira em adiantado estado de putrefacção e a moral com o prazo expirado há décadas. E como se todas estas vantagens não bastassem, este prodigioso pasquim minimalista ainda culmina com o facto de ser distribuído gratuitamente, ao domicílio, com uma pontualidade religiosa. Um fenómeno, é o que vos digo. Ao contrário do tal “Expresso”, refira-se, que além de nos vender abomináveis merdas, ainda se faz cobrar regiamente por isso. Quando o que devia era indemnizar-nos, por efeitos colaterais e publicidade enganosa. Quem diz o “Expresso”, diz o “Público”, o “DN”, o “24 Horas”, a “Bola”, a "Maria" ou o que quer que seja.
Acresce a tudo isto, que já não é pouco, que folheia-se num minuto, o digno pasquim, deita-se pró lixo em dois e é magnífico para cobrir o chão em dia de pinturas ou embrulhar copos e pratos por alturas de mudanças. Eu não quero outra coisa. Recomendo-o vivamente. É quase terapêutico. Chama-se, como já devem ter adivinhado, “Dica da Semana”, e é um must. Além disso, é o único jornal que deixo entrar cá em casa. Isto, apesar dos protestos da Senhora Dragão que, por ela, não deixava entrar nenhum.
E tem mais um detalhe sensacional: a directora –do formidável pasquim – chama-se Madalena Bettencourt e Silveira. Já viram? Não é uma foleirada qualquer, nada de pinderiquices...É uma Bettencourt e Silveira, que diabo! Coisa fina!... Já havia para aí malta na galhofa, mas agora calaram-se. É bem feito! Quanto a redactores (jornalistas, enfim), nem sinal deles. O que é óptimo. Deve ser escrita automática, como já aconselhavam os surrealistas, esses pândegos. Apenas detectei, de raspão, um mamífero que terminava uma longa apologia dum qualquer criador de cães, amigo ou padrinho dele, com a chancela “M.J.F”.
Aposto que tem um blogue.
Eu também não disse que o pasquim era perfeito.
3 comentários:
O Dica da Semana é também um dos pasquins com mais receptividade lá em casa. Uso-o para forrar o caixote da areia das gatas, finalidade para a qual tem a espessura e tamanho perfeitos. Confesso que me dá algum prazer ver quem é a celebridade que vai ser soterrada pela areia. Diogo Infante, Paula Bobone, Banda Eva - tanta gente ali ficou...
galinhola, epicentro.blogs.sapo.pt
Esta foi mesmo um fartote de risos
Isto, sem esquecer da delicadeza com que é feita a entrega do mesmo. Somos brindados com um 'suave' fechar de porta do edifício, tanto à entrada como à saída. Talvez seja como modo de agradecimento de termos aberto a porta.
Enviar um comentário