«O mais importante efeito indirecto da presidência de Reagan foi a absolvição das desigualdades económicas nos Estados Unidos e o surgimento de uma cultura empresarial capaz de ignorar os custos sociais da sua actividade com a consciência tranquila. Como escreveu Godfrey Hodgson, “A estaganação dos rendimentos americanos e o crescimento das desigualdades foram essencialmente consequência das acções dos gestores das grandes empresas, tanto directamente nas empresas industriais, como indirectamente no sector financeiro, devido a modas intelectuais por este adoptadas. A desregulamentação política libertou os braços dos gestores. O clima político encorajou-os a prestar menos atenção às considerações não económicas. Os negócios impuseram maior desigualdade. A doutrina conservadora racionalizou tudo isto.”
As liberdades dos executivos numa economia desregulamentada –para contratar e despedir, para contrair e adiar, para se auto-atribuírem opções de acções e bónus magnânimas – não eram encaradas como privilégios numa variante peculiar de capitalismo. Eram o exercício de direitos humanos inalienáveis. O capitalismo americano era a liberdade em acção. A estrutura do mercado livre americano coincidia com os imperativos dos direitos humanos. Quem ousa condenar as crescentes desigualdades e o colapso social que os mercados livres provocam, quando os mercados livres não são senão a expressão económica do direito à liberdade individual? (...)
Nos Estados Unidos, após o aumento da influência do poder neoconservador, a autoridade dos direitos tem sido usada para proteger o funcionamento do mercado livre do escrutínio público e do desafio político. A ideologia dos direitos tem sido usada para legitimar este recente sucessor do capitalismo liberal americano.
Ao moldar uma cultura política na qual os imperativos do mercado livre, os interesses dos negócios e as exigências da liberdade humana deixaram de se distinguir, a presidência americana traçou o quadro não apenas para George Bush, mas também para Bill Clinton.(...)
Como outras ideologias do iluminismo, a utopia do mercado inspira nos seus seguidores um menosprezo sobranceiro pela história. Nunca se cansam de nos dizer que as ideias têm consequências. Não repararam que essas consequências raramente são as esperadas; e nunca são só essas.»
- John Gray, “False dawn”
Os utopistas do Mercado são a espécie mais serôdia, rasteira e frustre de utopistas. O seu é um mundo afunilado, liliputizado à balbúrdia duma feira de nabos e chicharros. Até a sua argumentação lembra o grazinar de peixeiras, tentando camuflar o fedor do peixe estragado sob o vau da algazarra. Para estratégia, convenhamos, tem as suas vulnerabilidades: nada garante que a dor e a inflamação dos ouvidos inibam ou distraiam fatalmente o olfacto do passante.
Resta-lhes, para desfastio, o reconforto da velha receita stalinista: repetir uma mentira muitas vezes até que pareça verdade.
A oeste, por conseguinte, nada de novo: é só mais um grupo excursionista ao caos.
As liberdades dos executivos numa economia desregulamentada –para contratar e despedir, para contrair e adiar, para se auto-atribuírem opções de acções e bónus magnânimas – não eram encaradas como privilégios numa variante peculiar de capitalismo. Eram o exercício de direitos humanos inalienáveis. O capitalismo americano era a liberdade em acção. A estrutura do mercado livre americano coincidia com os imperativos dos direitos humanos. Quem ousa condenar as crescentes desigualdades e o colapso social que os mercados livres provocam, quando os mercados livres não são senão a expressão económica do direito à liberdade individual? (...)
Nos Estados Unidos, após o aumento da influência do poder neoconservador, a autoridade dos direitos tem sido usada para proteger o funcionamento do mercado livre do escrutínio público e do desafio político. A ideologia dos direitos tem sido usada para legitimar este recente sucessor do capitalismo liberal americano.
Ao moldar uma cultura política na qual os imperativos do mercado livre, os interesses dos negócios e as exigências da liberdade humana deixaram de se distinguir, a presidência americana traçou o quadro não apenas para George Bush, mas também para Bill Clinton.(...)
Como outras ideologias do iluminismo, a utopia do mercado inspira nos seus seguidores um menosprezo sobranceiro pela história. Nunca se cansam de nos dizer que as ideias têm consequências. Não repararam que essas consequências raramente são as esperadas; e nunca são só essas.»
- John Gray, “False dawn”
Os utopistas do Mercado são a espécie mais serôdia, rasteira e frustre de utopistas. O seu é um mundo afunilado, liliputizado à balbúrdia duma feira de nabos e chicharros. Até a sua argumentação lembra o grazinar de peixeiras, tentando camuflar o fedor do peixe estragado sob o vau da algazarra. Para estratégia, convenhamos, tem as suas vulnerabilidades: nada garante que a dor e a inflamação dos ouvidos inibam ou distraiam fatalmente o olfacto do passante.
Resta-lhes, para desfastio, o reconforto da velha receita stalinista: repetir uma mentira muitas vezes até que pareça verdade.
A oeste, por conseguinte, nada de novo: é só mais um grupo excursionista ao caos.
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