Comecem por tentar identificar o autor do que abaixo se transcreve...
«Não há nada que torne um príncipe tão estimado como concluir com êxito grandes e magníficas empresas e dar exemplos dignos de ficarem na memória. No nosso tempo, temos Fernando de Aragão, presentemente rei de Espanha, ao qual se pode chamar príncipe novo, pois de pequeno rei se transformou, por glória e fama, no primeiro rei da cristandade. Se analisarmos os seus feitos, achá-los-emos a todos grandes e a alguns, até extraordinários. (...) Por outro lado, enquanto se preparava para maiores empreendimentos, e a fim de se servir sempre da religião, começou a praticar uma santa crueldade, ao expulsar os marranos do seu país e ao despovoá-lo deles: não se poderia encontrar exemplo de piedade mais digno nem mais singular.»
“Marrano” –oriundo do castelhano, onde significa “suíno”, “porco” –, no português designava, antiga e injuriosamente, os árabes e judeus que viviam na Península Ibérica. Eis, portanto, com todas as letras, uma declaração anti-semita. Ao facto, certamente pouco carinhoso, de “expulsar” e “despovoar” de semitas um país, o autor classifica mesmo como “santa crueldade”.
Entretanto, o que não deixa de ser curioso é que esse mesmo autor, Nicolau Maquiavel, (na sua idolatrada e famigerada obra – donde provém a passagem em epígrafe- “O Príncipe”), constitui, por regra, literatura de cabeceira da grande maioria dos filo-semitas da nossa praça. Distingue-os, pelos vistos, ao mestre dos discípulos, uma espécie de refinamento: para aquele, com sinistra coerência, todos os semitas são “marranos”, merecedores de “santa crueldade”; para estes, por torcionário capricho, há os semitas maus e os semitas bons. Naturalmente, só os primeiros devem ser sujeitos à “santa crueldade”.
É, claramente, um maquiavelismo sintético. Destilado. Extraído por condensação da amálgama mal fervida do mosto e da zurrapa.
3 comentários:
É mais o sarro, caro Bafo! O sarro das ideias adquiridas a pataco, na leitura profícua dos questionários de verão. Não há meia-leca que não debite conhecimentos do nível daquele que afiançava gostar dos concertos para violino de um certo Chopin...
Sobre o Maquiavel que não li, podia dizer que li, pois já folheei e...li. Contudo, a leitura implica compreensão do discurso. E quanto a isso, alguns marranos insistem no estudo kabala. Os outros que comstumam ler questionários, usam a cabala para designações espúrias, com o mesmo sentido que citam o maquiavel. É a chamada semiótica de cavalgadura.
mas voc~es sabem que história é essa do filo e do anti-semitismo? eu nunca tinha ouvido nada disso... deve ser mais um distintivo para os ideólogos não se enganarem naqueles valentes combates frente ao monitor... ":O.
Penso que isso se insere na tal "dialéctica" esquerdo/direito op-dois. Mas essa dos "valentes combates frente ao monitor" foi boa!...:O)))
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