domingo, julho 04, 2004
DISSOLVER OU NÃO, EIS A QUESTÃO.
O PR (seja lá o que isso for) esteve a protelar, a engonhar de propósito (e também por feitio, mas desta vez juntou o inútil ao desagradável), à espera da ocasião mais oportuna. Não lhe convinha, sob pena de irrelevância redobrada, tomar uma atitude numa altura em que ninguém lhe iria ligar pevas, ou seja, em pleno auge da "Gloriosa Campanha futebolística" e em cima da "Ascensão do Barroso ao Sétimo Céu".
Não vale a pena estafar muito a mioleira. Não há com quê. Neste país, o futebol é mais importante que a política. Assumamo-lo duma vez por todas. O Destino da nação depende mais de se acertar com a baliza inimiga do que acertar com o Primeiro Ministro e respectiva terapia nacional. Os políticos, mais que os outros, são tão estúpidos, emanações tão perfeitas das bases, que eles próprios já acreditam naquilo que começou por ser uma patranha para entreter o pagode. Quer dizer, são eles os primeiros a acreditar nas suas próprias aldrabices. Começam por se vigarizar a si próprios e vão depois, em missão evangelizante, vigarizar os outros. É o método da seita. Isso, claro está, não os absolve: apenas duplica o seu malefício.
Quanto à bendita Democracia, por cá, há muito que degenerou em oclocracia. E, para o efeito, já qualquer multidão serve. Aliás, tudo é multidão, cumprindo os caprichos da turba. Dos comícios aos Conselhos, das Marchas Populares aos Grupos Parlamentares, dos Mega-concertos aos Congressos, nada escapa. A despersonalização, a indiferenciação, a amálgama, o unanimismo à voz do demagogo - rapidamente promovido a dono, estão instalados. Onde quer que mais de três alminhas se juntem, logo balem e farejam à procura dum pastor. O último Conselho do PSD transformou-se instantaneamente no primeiro coro do PSL. No PS não seria diferente. Qualquer ideia estará sempre a mais: a malta contenta-se com ícones, pop-stars, vedetas. Alguém que sirva de modelo ao penteado, às ferragens, à albarda.
Entretanto, quis a fortuna que hoje Portugal tenha a possibilidade de ser campeão Europeu. A verificar-se, não é uma nova Descoberta do Caminho Marítimo para a Índia, mas quase. Anuncia uma onda quase do tamanho dum Tsunami. Os políticos, todos eles, surfistas encartados, tentarão montá-la. A crise, como é óbvio, acabará, mal o capitão dos imortais cromos erga a Taça apoteótica; as feridas da economia sararão no mesmo instante; a hemorragia social estancar-se-á, maravilhosamente; o cancro da corrupção benignizará por Obra e Graça; a gangrena da cultura metamorfosear-se-á em músculo cardíaco; etc, etc. Uma vitória, ninguém duvide, será uma espécie de Grande Milagre Nacional, de Panaceia purificadora em aspersão colectiva, de emersão baptismal redentora que nos escancarará as portas do Paraíso.
Ora, tendo-se suicidado o Governo por escafedura do primeiro Ministro, quem resta para o banho e laureio solene no evento glorioso?
Naturalmente, o Presidente da República (logo a seguir ao Seleccionador e ao Gilberto). Basta atentar nos símbolos: o Hino, as bandeiras.... o Presidente. Será, pois, ele a capitalizar, ou a euforia (caso Portugal vença) - e dissolve imperialmente o parlamento; ou a depressão pós-derrota, e investe o Santana (neste caso, transferindo para ele toda a frustração resultante do grande naufrágio à boca do cais, da obstrução castigadora à porta do Novo-Éden). O Freud explica bem estas coisas.
Em resumo: Sampaio, quintessência da maralha, aguarda, também ele, numa martirizante espectativa, pela Boa ou Má Nova: se Scolari é ou não o Messias que nos vem salvar da Ferreira Leite.
Esta análise, nunca o esqueçam, é absolutamente tresloucada, mirabolante e sarcástica. Mas, como por estas bandas a racionalidade há muito que foi de férias, se calhar até nem andará longe da realidade.
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4 comentários:
olha, o abrupto diz que é tal ponto sem retorno ";O))
mas parece que não se faz aos cruzados ...
O JPP lembra-me cada vez mais o padre que oficia numa missa e na homilia, só diz mal de outros padres.
E contudo, aprenderam todos na mesma cartilha, oficiam do mesmo modo, escolhem os sacristãos da mesma forma, cumprem os mesmos rituais e obedecem ao bispo do momento, segundo a lealdade curricular.
O JPP é um padreca da política que em vez de se demitir e começar a fazer alguma coisa de jeito, de acordo com as ideias que transmite, fica pela transmissão das críticas, no perfeito exemplo daqueles de quem se diz: quem sabem faz; quem não sabe, ensina.
Tenho a ideia, do JPP, que agora desatou aos tiros. Mas é pólvora seca. São fulminantes de Carnaval. JPP é um PSL que leu livros. Leu-os formalmente, bem entendido. Usou-os -e usa-os-, à maneira kafkiana dos burocratas: não exactamente para escorar secretárias oscilantes, mas apenas para se pôr em cima deles, para parecer mais alto. Dada a sua estatura e usual posição, precisa de muitos. Apenas para não parecer anão.
também penso algo idêntico mas espanta-me que o próprio não repare. Quanto a largar a política e fazer outra coisa ... se calhar aí é que a porca torce o rabo...
Ele tem o rei na barriga mas nem é tanto à custa do que sabe ler ou do que saberá fazer com o que leu...
Que diabo, assim é que não faz sentido. Pois então que venha à luta.
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