quinta-feira, julho 08, 2004

A Bosta


A maior parte da auto-denominada "direita" cá da paróquia toca sinos a rebate pela catástrofe iminente: avizinha-se o grande perigo -a chegada do BE (a Bosta de Esquerda) ao Poder.
É preciso não esquecer que isto, esta amálgama sui generis que se auto-intitula "direita", agremia, num cocktail heteróclito, desde estirpes mutantes como "sociais democratas" e "outros democratas" até "nacionalistas", "neo-salazaristas" ou "beatos avulsos", passando por híbridos de importação como "liberais", "neo-conservadores", "neo-liberais" e o mais que a telha aprouver. Dir-se-ia que contra o BE, por força da necessidade e das circunstâncias arrepiantes, ameaçadoras do Orçamento, se forja uma BD. Quer dizer, contra a Bosta de Esquerda ergue-se em armas, cava trincheiras e monta barricadas uma Banda Desenhada. Nem mais. Olhai à vossa volta, com olhos de ver, e vereis todo um Almanaque Disney em polvorosa: desde adeptos do Rato Mickey, a fãs do Pato Donald, a prosélitos do Tio Patinhas, e nunca esquecendo os adoradores encantados do Pateta.
O seu lema, agora uníssono após um momento inicial de choque e indignação, é: "Tudo menos a Bosta de Esquerda! A Bosta de Esquerda é que não, vade retro!"
Por conseguinte, segundo eles, tudo é preferível à Bosta de Esquerda. Até a Bosta de Direita. Porque, em sua opinião, sendo de Direita, a bosta é menos bosta que a de esquerda. Fede menos (alguns asseveram mesmo, a pés juntos, que é inodora), não atrai tantas moscas (ou mesmo moscas nenhumas), é biodegradável e não contamina os solos. Antes pelo contrário: fertiliza-os.
Tenho as minhas dúvidas. Desculpem lá. Até porque um exemplo simples, do senso comum, vem em meu reforço: a bosta, seja de que lado for, tanto mais emporcalha e tanto pior cheira, quanto mais se pisa.
E depois, se o sufrágio insigne, mais uma vez, for optar entre duas bostas, é de todo contraproducente alardear que a deles é mais que a vossa. Pode induzir em equívocos. Pelo sim, pelo não, era preferível apregoar que a vossa é maior que a deles. Para o eleitor enfastiado, formalista, tamanho e quantidade é que interessam. Entre o pequeno e o grande merdas, preferirá sempre o maior.
E eu, que sou imparcial, espectador afastado, posso, desde já, afiançar-vos: A vossa, no mínimo, é tão grande como a deles. Não é o Paulo irmão do Miguel?
Por isso, cada vez mais me surpreende menos a abstenção galopante. Não votar começa a ser uma questão de higiene. E olfacto.

6 comentários:

zazie disse...

resta saber se o BE tenciona levar apenas a tralha habitual que todos levam quando vão para o poleiro ou se leva o programa revolucionário da utopia mais o folclore do mundo às avessas. E a diferença, meu caro, está aí toda. Inteirinha...
Não teria grande importância se tivesemos um país rico e com longa tradição nestes folclores, claro. Mas não temos. E só quem não conhece um Rosas, por exemplo, é capaz de achar graça à perspectiva...é que a lado dele até o Cunhal é uma cordeirinho...

zazie disse...

some things do never change...

zazie disse...

mas claro, totalmente de acordo: não votar começa a ser uma questão de higiene e de olfato...

zazie disse...

de qualquer forma tenho dúvidas que o povo vote nessa coligação por muito descontente que esteja... É certo que também não acredito que vote por questões morais nem contra. Vota sempre por interesses. Qualquer que seja o cenário o único interesse que vejo está na possibildidade de levar à queda dos actuais líderes dos dois grandes partidos. Resta saber qual cai primeiro. O ideal era caírem os dois antes ":O)))

dragão disse...

Ah-Ah, o Rosas é um cromo. Um Pol Phot do Restelo!... Mas ele e o Durão não foram camaradas no MRPP?
Temos que ser honestos, ó Zazie. Bosta é bosta. O resto é disfarce.
A direita está tão ou mais desacreditada que a esquerda. Graças aos últimos dois anos, consegue estar ainda mais.
Se houver eleições, a actual cu-ligação vai levar uma corrida tão épica quanto merecida. Não me admiro nada que, mesmo com o Ferro, mesmo com o Santana a travestir-se de Sá Carneiro (e a absorver o resquício gay do PP), o PS chegue á maioria absoluta. O Zé Povinho tem umas belas contas a ajustar com a Drª Manuela.
Quanto ao BE, é anedótico: se crescer mais do que o que já é, rebenta. Rebenta pelo ego dos dirigentes.

zazie disse...

pois... não te esqueças que há quem nasça para revolucionário de gabinete. Que eu saiba o mais velho ditava ordens na "clandestinidade" e a garotada fazia de carne para canhão. Mas adiante que para o que interessa não vejo nada maioria absoluta do PS... nem pouco mais ou menos e actual direcção é mesmo uma grande bosta.
Quanto à actual nem sei em que projecto político se baseia. Sinceramente que desconheço totalmente a teoria política do PP ou da ND e mesmo do PSD se não fosse a blogosfera...
ehehehe
E acredita, tinhamos melhor governo virtual, fosse ele qual fosse ":O)))