Longe vão os tempos em que o Miguel, aturdido pelo canto das sereias e por visões febris típicas das latitudes panglossianas, padecia as minhas selváticas abordagens. Bateu-se sempre com galhardia, devo reconhecê-lo, coisa rara nestes tempos como naqueles e merecedora, sobre qualquer outra, da minha consideração. Não valerá muito a consideração dum velho pirata, mas não é coisa que se conquiste facilmente. O facto é que o Combustões e o seu digníssimo e talentoso autor estão de parabéns. E penso que a Cultura Portuguesa também. Sim, porque, embora proscrita e espezinhada, ainda existe uma Cultura Portuguesa.
Eu tenho uma tese, pela qual estou disposto a bater-me até à morte, de sabre nos dentes e pistolão em punho se preciso for: não existe saber onde não arde a paixão. Só sabe aquele que ama. Até porque a sabedoria só se entrega a amantes devotos. A fria objectividade é coisa de eunucos, proxenetas, burrocratas, medíocres e, sobretudo, mentirosos. De máquinas digestivas, de maridos cornúpetos, enfim. Ora, no assunto em questão, duvido que exista neste país alguém mais apaixonado que o Miguel. Dos Thais, do respectivo país e da história que tem em comum com o nosso, sei quase nada (como de tudo, aliás). Mas no dia em que eu me interessar por essa questão, uma coisa é certa: é ao Miguel Castelo-Branco que irei perguntar.
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Quanto ao resto, às nossas lendárias e fragorosas batalhas, é com algum pesar e nostalgia que as mal vislumbro perdidas para sempre na névoa do tempo, tremeluzindo já distantes, esvaídas, fantasmagóricas, encalhadas num passado remoto e, pressinto, irrecuperável. Pois a verdade é que, ao Miguel, que acompanho com a regularidade possível, já o vi mais longe - imensamente mais! - de içar, ele próprio, o pavilhão negro.
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