quarta-feira, maio 16, 2012

Introdução ao Paradoxo

Como eu aqui expunha há tempos, a propósito de Darwin, esse filho pródigo de Malthus: "depois de introduzir a lei da selva na sociedade humana, o liberalismo materialista exportou-a para o mundo natural. Após varrer a hierarquia do céu e do mundo, tratou de extirpá-la da natureza. E nessa nova natureza igual ao mundo - entregue à pura lei do mais apto/forte, num tempo em que o dinheiro mede a força/aptidão - reimplanta o homem, agora convertido a mera proliferação desarvorada de egos. É nisso que vamos. Pelo caos a fora. "
Porque, de facto, como bem explica Radl: «É impossível compreender como poderia Darwin influir tanto nas teorias sociológicas, se não se admitir que a sua doutrina constitui, na realidade, uma sociologia da natureza, através da qual se limitou a aplicar à natureza as ideias políticas predominantes na Inglaterra do seu tempo.»

Sabe-se como tudo isto culminou, via eugenia e higienismo social, na famigerada obra de Madison Grant, "The Passing of the Great Race" (o livrinho de cabeceira de Adolph Hitler).
Nesta obra notável, onde alterna, a um ritmo constante, o anedótico mais bacoco com o profético mais inquietante, atente-se em dois outrês exemplos...

1. «In the modern and scientific study of race we have long discarded the Adamic theory that man
is descended from a single pair(...)»

Comentário: Claro, todos nós sabemos que, ainda hoje, o homem quando quer reproduzir-se não é através do cruzamento dum homem com uma mulher, ou seja, dum simples par. Nada disso. Impossível extrair um homem dum simples par. No mínimo, é necessária uma horda. De macacos, naturalmente. Reunidos em congresso evolutivo  num laboratório. Depois é só esperar calmamente que  eles, através de leis matemáticas fixas e conhecidas, pelo menos, desde Mendel, produzam um bebézinho humano. Nunca falha.  Mal de nós se não fossem os laboratórios!... Há muito estaríamos extintos.


2. «Onde o altruísmo, a filantropia ou o sentimentalismo intervêm com a melhor das intenções, e proíbem a natureza de penalizar as dasafortunadas vítimas da procriação descuidada, a multiplicação de tipos inferiores é encorajada e promovida. Esforços para preservar indiscriminadamente os bebés entre as classes mais baixas resultam frequentemente em danos sérios para a raça.
Erros no que se acredita serem leis divinas e uma crença sentimental na santidade da vida humana, tendem a impedir a eliminação de crianças deficientes e a esterilização de adultos sem qualquer valor para a comunidade. As leis da natureza requerem a obliteração dos inaptos, e a vida humana é valiosa apenas quando é útil para a comunidade ou a raça. (...)»

Comentário: É perfeitamente lógico, não é? E para que seja plenamente actual basta substituir dois ou três termos pelos seuas avatares do momento. Assim, por exemplo, onde está "adultos sem qualquer valor para a comunidade" leiam  "desempregados  de longa duração". Onde diz "natureza" substituam por "mercado". E onde reza "comunidade ou raça" justaponham "finança" ou "investidores". Vêem? Não ficou ainda mais cristalino?...

3.«Um sistema rígido de selecção através da eliminação daqueles que são fracos ou inaptos –por outras palavras, falhanços sociais -, resolverá todo o problema em cerca de cem anos, ao mesmo tempos que nos possibilitará livrar-nos dos indesejáveis que se acumulam nas prisões, hospitais e manicómios. (...) Esta é uma solução prática, piedosa e inevitável de todo o problema, e pode ser aplicada a um círculo alargado de descartáveis sociais, começando sempre pelos criminosos, os doentes e os loucos; e estendendo-se, gradualmente, aos tipos que podemos classificar mais como fracos do que como defeituosos e, talvez, por fim, às raças imprestáveis.»

Comentário: este dispensa qualquer tipo de ajuste. É duma actualidade atroz. Só aquele conceito "descartável social" é todo um hino programático.

Como eu aqui defini, justa e apropriadamente, em tempos: Malthus está em Darwin, como Darwin e Malthus estão em Grant.


Nota: Os trechos 2 e 3 são traduções minhas da referida obra (§48-49), que pode ser consultada on-line AQUI.

Este postal, mais recapitulante que inaugural, serve de introdução a um assunto que vou abordar proximamente: o Paradoxo evolutivo-decadente do Séc. XIX.







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