Em resumo: após trinta e tal anos de "salvação nacional" e de marchas forçadas para fugir à pobreza salazarista e ao obscurantismo não sei das quantas, o país está falido, a crise moral (como lhe competia) deveio crise económica e o "estado português", após engordar porcina e desmesuradamente, degenerou em puro junkie do crédito. Agora, à torpe semelhança de qualquer agarrado ao vício, a solução é vender ao desbarato todo o património da família, herdado, emprestado ou surripiado, findo o que, se recorre à prostituição, à venda de órgãos e, finalmente, depreende-se, ao parqueamento improvisado de automóveis. Talvez uma vasta auto-europa, quem sabe. Sempre é uma promoção: de retrete (como dizia Mestre Almada) a parking-car.
No meio de toda esta crise de fundo, estão agora preocupados com uma crise na maquilhagem, digo crise política? Se demos nisto, e nada mais que isto, se os nosso filhos e netos já estão fadados e prometidos a isto, ok, tudo bem. Não vamos agora acobardar-nos. Tragam lá o cálice colectivo. Se Cristo aguentou, porque é que nós não havemos de aguentar?... A nossa cruz chama-se agora "dívida soberana". Muito bem, alombemo-la encosta acima. O chicote romano está em mãos germanas, mas vai dar ao mesmo. A judiaria internacional (e seus derivados domésticos) cospe-nos e renega-nos, agora que já não fazemos milagres nem hidrobulismos, mas isso é mesmo assim, faz parte do pacote. Em frente, irmãos! Antes do galo cantar, não sei quantos pedrados, pedreiros e pedrosos hão-se dizer que nos desconhecem e nunca nos viram mais gordos. O que, em boa parte, até tem os seus laivos de verdade. Deus lhes perdoe a todos, porque não sabem o que dizem, nem dizem o que fazem. Mas se, afinal, é só isto, esta tarefa tão básica e inequívoca, mais que sabida , prometida e ensaiada, então, sinceramente, porque raio se discute ou disputa o governo? Competente, incompetente?... Qual quẽ!, nem uma coisa nem outra: redundante, isso sim. Completamente supérfluo e redundante. Já nos basta a "dívida" por cruz. Dispensa-se, de todo o coração, um pseudo-Simão Cireneu cujo entendimente de ajuda é montar a cavalo no madeiro. Como se para curar-nos da exaustão, nos submetesse, em impiedosa cavalgada, ao derreamento.
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