«Um coveiro tinha amigos a cear. Cearam. beberam. Havia um vinho mordente e duro da taberna.
As estrelas estavam frias. Saíram para o cemitério inconsolável. Cambaleavam ferozes. Amontoaram a ramaria de um cipreste e acenderam uma fogueira. Cantavam à viola e dançavam como saltimbacos.
Um deles gritou:- Mulheres! Venham mulheres!
- Há-de-as haver por aí - disse com largos risos o coveiro.
E todos começaram procurando uma cova onde estivesse fresco e são um corpo de mulher: tinha sido enterrada uma rapariga naquela madrugada. Vinha atrás do caixão um rapaz todo amarelo, com grandes cabelos caídos. Tiraram a terra. Apareceu o caixão. Ela tinha o vestido despregado no seio e via-se a carne branca.
- Archotes! Archotes!Trouxeram ramos acesos.
- Quem há-de ser o primeiro? que ela está a preceito!
Desceu um, bêbedo, desapertado, galhofeiro e obsceno. Estendeu a mão dura e meteu-a pela abertura despregada do vestido entre os seios da morta.
Deu um grito. Tinha sido mordido. Era o bicho das covas. O bicho era o último amante daquele corpo branco; o bicho das covas tinha ciúmes.»
- Eça de Queiroz, "Prosas Bárbaras"
Adivinhem lá de que é que isto me parece a alegoria...
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