domingo, agosto 20, 2006

Ulisses Portugal, desempregado do Império



(A vós, senhora. Com a devida vénia.)

Foi ter escutado o canto das sereias,
foi ter fitado os olhos de Medusa.
Fez de mim pedra, estátua confusa
náufrago irrecuperável de Odisseias.

Foi ter interrogado Esfinges e Oráculos,
foi ter percorrido, curioso, o labirinto;
Fez de mim a vítima com que brinco
cercando-me de muros e obstáculos.

Foi ter partido para muito longe, foi
Ter ficado prisioneiro da Cadeira Sem Memória;
-fez de mim aquilo que mais dói:

Um Ulisses que já não cabe na história,
um velho mais réprobo que herói,
Sem Penélope, nem Ítaca, nem glória.

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