sexta-feira, março 19, 2004

O PMEC

Ainda me lembro do PREC, quando os jornais relampejavam e trovejavam de fervor panfletário. Marxistas-leninistas súbitos mas veementes, ajuramentados, vociferavam propaganda e juras de amor eterno ao proletariado e à revolução. Eram tempos de balbúrdia e euforia.
Passados trinta anos, alguns desses celebrantes, passaram-se para o outro lado. Convertidos à finança, devotos do mercado e do sacossantíssimo capital, vociferam na mesma, só que agora em tom ressentido e amargurado, contra a juventude e as ilusões perdidas. Epidérmicos da política e do pensamento, como da ideologia, não resistiram ao burilar rugoso da velhice. Como antes reflectiam a intemperança e a desabrura, ostentam agora o rancor e a esclerose.
De tal modo que, no presente, em vez dum PREC (Processo revolucionário em curso), temos, em moldes invertidos, um PMEC , ou seja: um Processo Mentecaptizante em Curso. Ou em "Catadupa", conforme preferirem.
Um desses alquimistas da coisa, um tal Vasco Pulido Valente, com bastante de asco, pouco de polido e nada de valente, sai-se com a seguinte pérola, num dos seus prodígios de emética mascarada de opinião:
"Sem a América a «Europa» fica desarmada e o Islão (o «bom» ou o «mau», como preferirem), mesmo se lhe derem Israel, nunca aceitará o mais ligeiro compromisso."
Mirabolante, não é? Afinal o Delgado tem um rival. (Ou mentor, vá-se lá saber). Todavia, hoje como ontem, a propaganda, como a poética em geral, para ser eficaz convém que seja, ao menos, verosímil. Já estamos a tremer de medo e horror, imaginando hordas islãmicas, armadas até aos dentes, com fisgas e catapultas. Deus (o nosso) nos acuda!
Mas não deixa de ser um argumento digno. Não de análise ou refutação, mas de colete de forças!...E com a maior urgência.

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