Aproveitemos o céu cinzento e chuvoso lá fora, e voltemos às depressões...
A FDA (Food and Drugs Administration), agência americana de controlo da alimentação e medicamentos, descobriu que o consumo de antidepressivos aumenta significativamente o risco de suicídio.
Ora, «Em Portugal, o consumo de medicamentos para combater o stress (antidepressivos, ansiolíticos, hipnóticos, psicotrópicos e tranquilizantes) mais do que duplicou entre 1995 e 2001. Segundo um estudo de Sofia Mac Bride, uma psicopedagoga portuguesa que investigou o consumo de medicamentos para combater o stresse no nosso país, só em 2001 os portugueses consumiram 4,5 milhões de embalagens.»
Deveremos preocupar-nos? Estaremos a um passo do abismo, do suicídio colectivo e generalizado?... Como se já não bastassem as eleições legislativas...
Povo de kamikazes, não é que isto nos perturbe. Não parece que o suicídio constitua risco capaz de nos afligir: basta ver a forma como conduzimos na estrada... E também não é o facto de tomarmos drogas e porcarias que promovem o contrario do que suposta e teoricamente deviam tratar, que nos vai incomodar: basta pensar nos políticos que elegemos, nas pseudo-elites que macaqueamos ou nas pastilhas televisivas que mascamos sem critério nem interrupção.
Mas, então, porque diabo emborcam os portugueses tal quantidade de antidepressivos? Estarão deprimidos?...
Vamos por partes. Alguns dados incontestáveis: 1. a depressão, no português não constitui doença mas feitio; 2. para se suicidar o português, regra geral, despreza o antidepressivo e prefere o herbicida -605 forte, segundo as estatísticas; 3. o português, como hipocondríaco empedernido, é um farmacofago e farmacofilo consumado, ou seja, adora peregrinar médicos e ingerir drogas (como foi um papa-hóstias durante séculos, substitui e transfere agora sendo um papa-remédios).
Por conseguinte, eis a minha tese: se o português emborca antidepressivos que nem um doido, não é porque esteja doido ou a bater válvulas. Não, a minha teoria é que o faz como uma espécie de "gurosan" pós-cardina, quer dizer, como uma espécie de anti-tóxico. Isto, claro está, porque, o que ele, efectivamente, passa a vida a ingerir que nem um pantagruel são depressivos. Depressivos e mais depressivos, e até hiper-depressivos! Para onde quer que se vire, a cada canto e a cada esquina, lá estão eles, prontos a enfiarem-se-lhe pela boca abaixo. São bebedeiras de caixão à cova; intoxicações quase comatosas. A música é depressiva; a literatura é depressiva; a economia é depressiva; a informação é depressiva; a política é depressiva; o desporto é depressivo; a sociedade é depressiva; enfim: na forma de disco, livro, salário, reportagem, entrevista, eleição, votação, é um supositório, uma cápsula ou injecção que não o larga. Inultrapassável junkie da depressão, está mais agarrado a ela que arrumador ao pó branco. Precisa apenas de tomar os antidepressivos como recuo estratégico de saltador campeão, como espaço de respiração e balanço, para ir a correr atirar-se ainda com mais ganas e empenho à depressão olímpica.
Garanto-vos: tinha que ingerir antidepressivos em cargas industriais, diluvianas, para que pudesse sequer pensar, um momento que fosse, em abandonar a mórbida carreira em que, voluptuosamente, se aninha e espreguiça.
Entretanto, o estudo científico menciona fármacos como bupropion, citalpram, fluoxetina, fluvoxamina, mirtazapine, nefazodone, paroxetina, sertralina, escitalopram e venlafaxina, como agentes de potenciais riscos.
Rimo-nos disso. Enquanto houver "manuelina", "duranbarrosina", "catarina", "bagofelixina", "sampaína" e tantos outros hiper-depressivos à disposição, não há antidepressivos que nos afectem. Nem nos metam medo. Ah, isso é garantido!...
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