segunda-feira, junho 21, 2004

O HOMO-PERSONALIZATUS


«O processo de personalização é um operador de pacificação generalizada; de acordo com o seu registo, as crianças, as mulheres, os animais deixam de ser os alvos tradicionais de violência que continuavam ainda a ser no século XIX e, por vezes, na primeira metade do século XX. Através da valorização sistemática do diálogo, da participação, da escuta do pedido subjectivo, que a sedução pós-moderna põe a funcionar, é o próprio princípio da correcção física, mantido ou até reforçado pela era das disciplinas, que se vê rejeitado pelo processo negativo. O eclipse dos castigos corporais resulta da promoção dse modelos educativos à base de comunicação recíproca, psicologização das relações no momento em que os pais justamente deixam de se reconhecer como modelos e imitar pelos seus filhos. O processo de personalização dilui todas as grandes figuras da autoridade, mina o princípio de exemplo, demasiado tributário de uma era distante e autoritária que sufocava as espontaneidades singulares, dissolve por fim as convicções em matéria de educação: a dessubstancialização narcísica manifestava-se no centro da família nuclear como impotência, desapropriação e demissão educativa. A punição física que, ontem ainda, tinha uma função positiva na aprendizagem e transmissão das normas, já não passa de malogro vergonhoso e culpabilizador da comunicação entre pais e filhos, de um legítimo impulso descontrolado, em desespero de autoridade.»
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Vá, adivinhem lá quem escreveu isto. Não é dos meus preferidos, mas também não é burro de todo. Levanta algumas questões interessantes. Por exemplo, uma que muito me intriga: "porque é que os pais deixaram de se considerar modelos dos filhos?"
Aceito sugestões.
Uma outra tem que ver com este homem sem semelhantes, puro indivíduo, coisa única, calhau precioso e com olhos, que doravante aspira da vida um atendimento personalizado, um guiché só pra si, um gestor de conta pessoal. E o que eu pergunto é simples: donde emergiu tamanha besta, e para onde galopa ela com tanta desenvoltura?...
Se souberem, digam-me. Eu também gostava de saber.

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