«Ucranianos são gente estranha: Idolatram Europeus, trabalham para Judeus, morrem pelos Americanos, e por causa disso tudo odeiam Russos.»
- Vladimir Zhirinovsky
É sem dúvida a mais justa definição da actual Ucrânia. Apenas digna dum reparo: por "ucranianos" entenda-se os "ucranistões", ou ucranianos de oeste/noroeste; porque os ucranianos de sul/leste são basicamente o contrário, ou seja, são russos. O problema do presente sarrabulho é a manta de retalhos que aquela grande região corporiza. Exactamente a mesma questão, transfronteiriça ou transregional que a saída do colonialismo europeu legou em África. Ódios tribais que, uma vez ausente a força congregante e manutenente das fronteiras, se desencadeiam e transportam a guerras "fracticidas", que, na verdade, de "fracticídio" não têm nada, uma vez que aqueles povos, artificialmente congregados numa "nação", jamais alimentaram qualquer fraternidade uns pelos outros. Guerrearam-se e caçaram-se durante séculos, e uma vez desaparecido o travão/inibidor colonial, voltam aos costumes ancestrais.
Deixados à sua sorte, como geralmente acontece em África, a coisa decorre em lume brando: matam-se numa razoável quantidade, mas sem grande espectáculo. Até porque os noticiários oxidentais não passam especial cartão. Mas se uma grande potência investe numa das partes, ou vai mesmo ao requinte de reavivá-la e municiá-la, então a coisa atinge proporções avantajadas, ganha foros de telejornal e, quase sempre, acarreta um desequilíbrio que tende a ser colmatado pela outra parte com recurso a apoios no contra-quadrante geopolítico. Transpondo para a Ucrânia, em 2014, uma grande potência investiu fortemente num assalto ao poder e na ignição imediata do tribalismo latente e antigo. O resultado foi o previsto e fomentado: a Ucrânia de Sul/Leste entrou em colisão com a Ucrânia Oxidental. Instalou-se uma guerra civil, com o Oxidente a dar à bomba pelos seus títeres, e os outros a tentarem colmatar o desequilíbrio instalado com recurso ao apoio do contra-quadrante ali mesmo ao lado: a Rússia. Após oito anos de armamento, treinamento e lavagem ao cérebro acelerados por parte dos oxidentais (e tudo na maior descrição, sem ponta de cobertura pelos mass-media devidamente açaimados), atingiu-se o ponto de explosão. Na iminência da ofensiva final dos Kievitas contra os Donbassianos, ou seja, da Nato contra as milícias, os russos, ou assistiam de braços cruzados ao massacre final, ou chegavam-se à frente. O resto é história. Geralmente mal contada, enviesada e falsificada, mas num detalhe todos concordamos: a intervenção russa. Curiosamente, a intervenção da (última) potência colonial europeia contra a potência neocolonial alógena.
PS: E o que é mais arrepiante nisto tudo é que as restantes potências coloniais europeias de outrora estão agora integradas no esquema neocolonial americano. Ou seja, passaram de potências colonizadoras para neocolónias da superpotência. Andam a reboque. Ou pegam por empurrão.
1 comentário:
Que antologia de post!
Está cá tudo.
Aquele abraço e um obrigado, estimado Dragão!
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