Eu já fui um daqueles optimistas que pensavam que pior que o Guterres não era possível. Pois não só era como foi. E logo ao virar da esquina..
Agora não me apanham noutra. Sei que a seguir ao Durão, poderá perfeitamente irromper um desqualificado ainda pior, um troca-tintas ainda mais descarado.
Por isso, e é mais que suficiente, não me surpreenderá nada que o Santana seja o próximo PM.
Mas quero deixar bem claro o seguinte: Quando tipos do jaez dum Durão Barroso conseguem ascender ao segundo mais alto cargo da nação, estamos conversados: Qualquer um pode (desde que não possua princípios, escrúpulos, ideias, ou vértebras, bem entendido). Se se tratasse de escolher um cidadão competente, um tipo sério, honrado, bem mais interessado em servir o país do que servir-se dele, isso, acredito, seria difícil. Requereria, no mínimo, mérito, inteligência, responsabilidade, cultura. E, sobretudo, empatia entre governantes e governados. Mas como é o contrário disso, como a lógica vai de patas pró ar, nada mais simples: peguem no Santana, na Ferreira Leite, no Portas, no Pacheco, peguem na pandilha partidária toda, esquerdas e direitas (a merda só varia na cor e teor gasoso), peguem até nos Delgados, Vascos - rotos e ratos-, ou qualquer outra prostituta de jornal, enfiem essa tralha invertebrada e viscosa toda num balde, um grande balde, um penico bem espaçoso (não se esqueçam que a porcaria é muita), agitem com energia, misturem bem a mixórdia, e tirem à sorte. Convoquem uma peixeira ou um trolha para extrair o feliz contemplado, sempre dá colorido à coisa, confere - senão solenidade - pelo menos pitoresco ao acto, e pronto, aí tendes. Seja quem for, é irrelevante e ficareis bem servidos. Cagar-se-á para vós, tanto quanto vós vos estareis cagando para ele. Incomoda-vos o vocabulário? Mas a substância não. Devia ser o contrário.
Em Portugal chegou-se a um estado de putrefacção tal, que o burburinho dos vermes já se confunde com a agitação das massas. Ora, as massas, poderão ser alarves, mas não são parvas. Já perceberam que tem mais conteúdo o futebol que a política. E tem. Tanto que é esta que imita aquele, e não o inverso.
De não ser governado, o país viciou-se no desgoverno. Vai à deriva. Entregue ao salve-se quem puder. A clamar por rebocadores, por balsas e bálsamos salva-vidas. A enviar SOS desesperados e apitos lancinantes ao nevoeiro. A invocar Nossa Senhora dos Aflitos e a Providência Divina. E, o que é pior que o resto, a tomar por faróis meros fogaréus de afundadores.
Cada qual agarra-se ao destroço que a vaga destribui e, uma vez montado nele, trata de demover a concorrência. Cada qual chafurda nas ondas o mais que pode, escoicinha, esbraceja, e convence-se que nada, que lá vai resistindo, o melhor que pode, opondo o proverbial instinto de cortiça ao chamamento abissal do fundo.
Governantes e governados execram-se mutuamente. Odeiam-se, sem trégua nem quartel. Não havendo resquício de empatia que os una, tiram desforço empaturrando-se numa antipatia recíproca e inoxidável. As eleições equivalem a ajustes de contas; as urnas a esquifes de facto. O povo sempre estimou, mais que arenas, cadafalsos. Assim, anda quatro anos a reunir provas, a recolher denúncias, a compilar testemunhos, para no fim ter o prazer de vê-los rastejar, aos bandalhos arguidos, uns em penitência, outros em sanha justiceira ou delíquio dengoso, mas todos de roda do patíbulo, vassalos da sua saliva, do seu voto, do seu escárnio e veredicto triunfante. Os eleitos, por seu turno, traumatizados por este martírio cíclico, garantido, nos intervalos dos sufrágios, nos interlúdios dos calvários, vingam-se e fazem pagar com juros a prerrogativa dos carrascos. E, com isso, lá vão juntando lenha para o seu próprio auto. Mais que um projecto comum, é, pois, um jogo, uma joint-desventure. Tudo está bem quando acaba mal. E para que o gáudio se maximize convém que o mal seja cada vez maior. Que exorbite e transvase sem parar. O prazer, a volúpia capital, não está em eleger, mas em deitar abaixo, em arrear, em arrastar pela lama e pelos cabelos, até à guilhotina apoteótica. Desta lógica retorcida, resulta um paradoxo mirabolante: um governo é tão mais divertido, entertainer, quanto pior for. Um governo péssimo, como o actual, na hora do acerto, é garante dum gozo superlativo. Não é por acaso que a multidão escolhe governos cada vez piores. Já Esopo referia o requinte.
Portanto, meus amigos, se não houver eleições, vai ser o Santana. E se houver, vai ser outro qualquer, no mínimo, tão recreativo quanto ele. Isto, pelo menos, eu sei.
Fartai-vos nele e fartai-vos dele. É o costume. Bom apetite! E bom proveito!...
Peço desculpa por esta interrupção, Aristóteles segue dentro de momentos.
Prever o futuro é difícil. Ao contrário da ausência dele, como acabei de demonstrar.
Quem esquece o passado, mata o futuro.
Agora não me apanham noutra. Sei que a seguir ao Durão, poderá perfeitamente irromper um desqualificado ainda pior, um troca-tintas ainda mais descarado.
Por isso, e é mais que suficiente, não me surpreenderá nada que o Santana seja o próximo PM.
Mas quero deixar bem claro o seguinte: Quando tipos do jaez dum Durão Barroso conseguem ascender ao segundo mais alto cargo da nação, estamos conversados: Qualquer um pode (desde que não possua princípios, escrúpulos, ideias, ou vértebras, bem entendido). Se se tratasse de escolher um cidadão competente, um tipo sério, honrado, bem mais interessado em servir o país do que servir-se dele, isso, acredito, seria difícil. Requereria, no mínimo, mérito, inteligência, responsabilidade, cultura. E, sobretudo, empatia entre governantes e governados. Mas como é o contrário disso, como a lógica vai de patas pró ar, nada mais simples: peguem no Santana, na Ferreira Leite, no Portas, no Pacheco, peguem na pandilha partidária toda, esquerdas e direitas (a merda só varia na cor e teor gasoso), peguem até nos Delgados, Vascos - rotos e ratos-, ou qualquer outra prostituta de jornal, enfiem essa tralha invertebrada e viscosa toda num balde, um grande balde, um penico bem espaçoso (não se esqueçam que a porcaria é muita), agitem com energia, misturem bem a mixórdia, e tirem à sorte. Convoquem uma peixeira ou um trolha para extrair o feliz contemplado, sempre dá colorido à coisa, confere - senão solenidade - pelo menos pitoresco ao acto, e pronto, aí tendes. Seja quem for, é irrelevante e ficareis bem servidos. Cagar-se-á para vós, tanto quanto vós vos estareis cagando para ele. Incomoda-vos o vocabulário? Mas a substância não. Devia ser o contrário.
Em Portugal chegou-se a um estado de putrefacção tal, que o burburinho dos vermes já se confunde com a agitação das massas. Ora, as massas, poderão ser alarves, mas não são parvas. Já perceberam que tem mais conteúdo o futebol que a política. E tem. Tanto que é esta que imita aquele, e não o inverso.
De não ser governado, o país viciou-se no desgoverno. Vai à deriva. Entregue ao salve-se quem puder. A clamar por rebocadores, por balsas e bálsamos salva-vidas. A enviar SOS desesperados e apitos lancinantes ao nevoeiro. A invocar Nossa Senhora dos Aflitos e a Providência Divina. E, o que é pior que o resto, a tomar por faróis meros fogaréus de afundadores.
Cada qual agarra-se ao destroço que a vaga destribui e, uma vez montado nele, trata de demover a concorrência. Cada qual chafurda nas ondas o mais que pode, escoicinha, esbraceja, e convence-se que nada, que lá vai resistindo, o melhor que pode, opondo o proverbial instinto de cortiça ao chamamento abissal do fundo.
Governantes e governados execram-se mutuamente. Odeiam-se, sem trégua nem quartel. Não havendo resquício de empatia que os una, tiram desforço empaturrando-se numa antipatia recíproca e inoxidável. As eleições equivalem a ajustes de contas; as urnas a esquifes de facto. O povo sempre estimou, mais que arenas, cadafalsos. Assim, anda quatro anos a reunir provas, a recolher denúncias, a compilar testemunhos, para no fim ter o prazer de vê-los rastejar, aos bandalhos arguidos, uns em penitência, outros em sanha justiceira ou delíquio dengoso, mas todos de roda do patíbulo, vassalos da sua saliva, do seu voto, do seu escárnio e veredicto triunfante. Os eleitos, por seu turno, traumatizados por este martírio cíclico, garantido, nos intervalos dos sufrágios, nos interlúdios dos calvários, vingam-se e fazem pagar com juros a prerrogativa dos carrascos. E, com isso, lá vão juntando lenha para o seu próprio auto. Mais que um projecto comum, é, pois, um jogo, uma joint-desventure. Tudo está bem quando acaba mal. E para que o gáudio se maximize convém que o mal seja cada vez maior. Que exorbite e transvase sem parar. O prazer, a volúpia capital, não está em eleger, mas em deitar abaixo, em arrear, em arrastar pela lama e pelos cabelos, até à guilhotina apoteótica. Desta lógica retorcida, resulta um paradoxo mirabolante: um governo é tão mais divertido, entertainer, quanto pior for. Um governo péssimo, como o actual, na hora do acerto, é garante dum gozo superlativo. Não é por acaso que a multidão escolhe governos cada vez piores. Já Esopo referia o requinte.
Portanto, meus amigos, se não houver eleições, vai ser o Santana. E se houver, vai ser outro qualquer, no mínimo, tão recreativo quanto ele. Isto, pelo menos, eu sei.
Fartai-vos nele e fartai-vos dele. É o costume. Bom apetite! E bom proveito!...
Peço desculpa por esta interrupção, Aristóteles segue dentro de momentos.
Prever o futuro é difícil. Ao contrário da ausência dele, como acabei de demonstrar.
Quem esquece o passado, mata o futuro.
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