«A economia da Europa pós-napoleónica estava em grande parte centralizada nos esforços de vários países para fazerem sangrar os recursos financeiros internos; isto é, pôrem a flutuar empréstimos nacionais. Aqui os Rothschild, com o seu imenso capital novo, encontravam-se sem um ponto de apoio.
Só a minúscula Prússia os deixou negociar um empréstimo. A Áustria, a taluda, preferia companhia mais elegante. A sua corte antiquada alimentava-se de precedentes e formalidades.(...)
Em França a situação parecia ainda pior. Aqui, Luis XVIII tinha literalmente pedido emprestado o esplendor da restauração dos Bourbon, a Nathan e James Rothschild. Tinham-lhe adiantado saques britânicos para financiar a sua imponente entrada em Paris. Mas isso passara-se em 1814, quando os tiros de canhão eram ainda uma recordação palpável. Agora, três anos depois, os velhos banqueiros aristocráticos tinham regressado, dando ordens dos seus salões. Comparado com eles, qualquer gesto dos Rothschilds parecia um ruído muito impertinente.
O novo governo francês preparava um grande empréstimo, de 350 milhões de francos, e confiou-o a Ouvrard, um distinto nome financeiro francês, e aos irmãos Baring, banqueiros ingleses da moda. Para eles os filhos de Mayer eram "simples troc-moedas". O empréstimo, sem os Rothschild, foi um grande êxito.
Em 1818 começaram as negociações para uma emissão adicional de 270 milhões de francos. De novo Ouvrard e Baring iam à frente; os Rothschilds continuavam a frequentar inutilmente o Ministério das Finanças. Este empréstimo, contudo, era para liquidar a indemnização de guerra francesa. A sua disposição final realizar-se-ia numa conferência com os países vitoriosos em Aix-la-Chapelle.
Na história da família, o esquecido congresso de Aix é um ponto mais importante do que o ainda notável exclusivo de Waterloo. Aix marcou a primeira acareação social entre o grande mundo e os recentemente grandes Rothschilds. Começou com uma roda de banquetes e "soirées" à moda do Congresso de Viena, com os Rothschilds fascinados e gelados lá fora, como crianças pobres diante de uma montra de Natal iluminada. Atingiu o seu auge com um trovão furioso. E quando o estrondo diminuiu, as "crianças" tinham-se apoderado da loja.
Ninguém previu este resultado durante a primeira semana, possivelmente nem mesmo Salomão e Kalmann, que estavam presentes como representantes da família. Para começar, a Inglaterra enviara Lord Castlereagh, em vez de John Herries, o seu velho amigo. Salomão e Kalmann deviam ter-se sentido perdidos num mundo tão sobrecarregado de protocolo antiquado, com elogios tão enviesados. O seu "habitat" natural era a Bolsa, e não a sala de baile.
No entanto os alfaiates mais caros tinham-lhes fornecido coletes e gravatas dos melhores tecidos. As suas carruagens brilhavam. Os cavalos reluziam. Que importância tinha o facto de a sua gramática ser um pouco primitiva? Além disso Kalmann acabara de casar com Adelheid Herz, da família hebraica mais soignée da Alemanha. A noiva encabeçaria o "bon ton" da família.
Porém não serviu de nada. Sempre que os irmãos queriam falar com o Príncipe Metternich, este estava a ser recebido pelo Duque de Richelieu. Lord e Lady Castlereagh não se encontravam em lugar nenhum, pois andavam sempre a passear com o Príncipe Hardenberg. Os Rothschilds não eram incluídos em nenhuma destas reuniões. Baring e Ouvart, os seus rivais, pareciam tomar parte em tudo.
Só os secretários estavam disponíveis, e os secretários sorriam com frieza: Sim, as negociações com Baring e Ouvrard encaminhavam-se para uma conclusão. Para quê mudar de parceiro a meio da valsa? As obrigações do empréstimo de 1817 não estavam naquele momento a subir na Bolsa de Paris?
Os Rothschilds decidiram tentar mais uma vez. Completaram a compra de Friedrich von Gentz, um brilhante publicista, amigo de Metternich, e peralvilho do congresso. Compraram David Parish, um jovem banqueiro elegante, que se gabava de boas relações com Baring. Compraram todas as graças sociais vendáveis. verificaram e tornaram a verificar se as suas calças e sobrecasacas e as librés dos criados estavam impecáveis. Tudo estava em ordem.
Nada deu resultado. Nos salões as pessoas divertiam-se com o aspecto intrigado de Kalmann, com as expressões carrancudas de Salomão. No meio do divertimento geral passou despercebida outra circunstância: os correios que entravam e saiam da residência dos irmãos, com frequência crescente.Todo o mês de Outubro de 1818 Aix fez salamaleques, pulou, passeou e ignorou a existência daqueles tolos dos Rothschilds. A 5 de Novembro aconteceu uma coisa estranha. As obrigações do governo francês, o famosos empréstimo de 1817, começaram a descer, depois de subirem continuamente durante um ano. Dia após dia desciam cada vez mais. E não era apenas isso - outros papéis também oscilavam. Do céu azul rebentavam tempestades. Estava à vista um "crash", não só em Paris, mas nas Bolsas de toda a Europa.
A música parou em Aix. Os cavalheiros nobres estavam como que encadeados no esplendor subitamente interrompido. É que, no fim de contas, tinham-se feito uns empregozitos de capital.
Os príncipes é que mostravam agora expressões carrancudas, ao passo que - caso curioso! - Kalmann e Salomão sorriam. Um rumor fez estremecer os salões. Teriam aqueles Rothschilds...
Aqueles Rothschilds tinham... Com as suas reservas ilimitadas tinham comprado durante semanas, as obrigações emitidas pelos rivais, especulando com o papel, comprando secretamente em grandes quantidades. E depois, num gesto impiedoso, tinham lançado no mercado tudo o que tinham adquirido. Através de todo o continente os alicerces das finanças gemiam. A alta sociedade sabia agora o que significava recusarem reconhecer um Rothschild.
Metternich, o Duque de Richelieu, o Príncipe Hardenberg fizeram o que havia a fazer. Seguiu-se uma entrevista séria entre eles e Ouvrard e Baring, em cujo novo empréstimo (ainda por nascer), eles tinham já reservado quantias por sua conta própria. Falaram; separaram-se; o empréstimo projectado desfez-se em nada.
Então, Salomão e Kalmann foram convocados e -pasmai! - os seus trajos eram agora a última moda, o seu dinheiro o mais precioso para quem o pedia emprestado.»
- Frederic Morton, "Os Rothschilds"
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