É uma 1ª edição de 1963 e encontrei-a numa das minhas voltas pelas alfarraburas. Refiro-me à tradução portuguesa de "Os Rothschilds", de Frederic Morton. A história é escrita em tom apologético, sob o beneplácito da Família, mas não está mal escrita, a tradução recomenda-se, e lê-se com bastante agrado. Deve ainda realçar que, em meu entender, são geralmente mais esclarecedoras e sugestivas estas obras apologéticas, laudatórias, até triunfais, que os seus inversos.
Em homenagem a esta crise actual, beirabunda de sabe Deus o quê, que, dizem, a economia planetária atravessa, julgo da maior pertinência postar algumas passagens desta feérica e fulminante saga. Farei apenas transcrições, sem quaisquer comentários meus. Limitar-me-ei ao título da série: "Do Ghetto ao Globo", porque descreve exactamente a ascensão. Mas vamos ao que interessa...
«A batalha de Waterloo estabeleceu a Inglaterra como a maior força europeia. Para os Rothschild, seus principais agentes financeiros, Waterloo representou uma "caixa" no valor de muitos milhões de libras. A fama desse golpe enfeitou-a, em anos posteriores, com pombos correios e outros acessórios lendários. Mas, como a maioria dos feitos da família, baseou-se em trabalho muito árduo e em astúcia muito fria.
O trabalho começara há muito tempo. Logo que os rapazes saíram de Francfort e se espalharam pela Europa, tinham começado a enviar uns aos outros, afadigadamente, interminavelmente, tópicos de interesse comercial ou geral. Não tardou que surgisse um serviço de notícias privado. (Na Casa de Londres manteve-se até à 2ª guerra Mundial, sob a forma de uma dúzia de Correios vestidos de azul, prontos a partirem, de um momento para o outro, para o Rio, Melbourne ou Nairobi).
As carruagens dos Rothschild corriam pelas estradas; os barcos dos Rothschild atravessavam o Canal da Mancha; os mensageiros dos Rothschild eram sombras ligeiras que deslizavam pelas ruas. Transportavam dinheiro, títulos, cartas e notícias. Principalmente notícias - as últimas notícias exclusivas que iam ser vigorosamente processadas nas Bolsas de Títulos e de Mercadorias.
E não havia notícia mais preciosa do que o resultado de Waterloo. Durante dias e dias a Bolsa de Londres tinha arrebitado as orelhas. Se Napoleão ganhasse, as consolidadas inglesas sofreriam uma grande baixa. Se perdesse, o império inimigo despedaaçar-se-ia e as consolidadas subiriam.
Durante trinta horas o destino da Europa esteve pendente, envolto em fumo de canhão. A 19 de Junho de 1815, ao fim da tarde, um agente dos Rothschild saltou para um barco em Ostende. Na mão levava uma gazeta holandesa ainda húmida de tinta. Ao alvorecer de 20 de Junho, Nathan Rothschild, no porto de Folkstone, percorria com os olhos os primeiros parágrafos das notícias. Um momento mais tarde ia a caminho de Londres (batendo o mensageiro de Wellington por muitas horas de avanço), para dizer ao governo que Napoleão fora aniquilado. Depois dirigiu-se para a Bolsa.
Outro homem na sua posição teria convertido todo o seu dinheiro em consolidadas. Mas este homem era Nathan Rothschild. Encostou-se à "sua coluna". Não investiu. Vendeu. Vendeu a preços muito baixos.
O seu nome era tal que um único gesto substancial da sua parte era o suficiente para fazer descer ou subir uma emissão. As consolidadas desceram. Nathan continuava encostado, e vendia e tornava a vender. As consolidadas desceram ainda mais. - O Rothschild lá sabe, - murmurava-se pela Bolsa- Waterloo está perdido.
Nathan continuava a vender, o rosto redondo, imóvel e severo, os seus dedos grossos afundando o mercado em dezenas de milhares de libras, a cada sinal de venda que faziam. As consolidadas iam a pique, as consolidadas iam ao fundo - até que, um segundo antes de ser demasiado tarde, Nathan de repente comprou uma quantidade gigantesca por dez réis de mel coado. Passados uns momentos estalava a grande notícia, que fazia com que as consolidadas subissem muito alto.
Não podemos adivinhar o número de esperanças e pecúlios desfeitos com este pânico preparado. Não podemos calcular quantos criados de libré, quantos Watteaux e Rembrandts, quantos cavalos puro-sangue dos estábulos dos seus descendentes, foram ganhos pelo homem encostado à coluna da Bolsa, nesse dia.»
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