«E o povo?», dir-se-á. O pensador ou o historiador que usar este termo sem ironia ficará desqualificado. O «Povo» - sabemos demasiado bem a que está destinado o povo: sofrer os acontecimentos, e as fantasias dos governantes, prestando-se a desígnios que o afectam e oprimem. Toda a experiência política, por “avançada” que seja, se desenrola a expensas suas, dirigindo-se contra ele: o povo carrega os estigmas da escravidão por mandamento divino ou diabólico. Inútil apiedarmo-nos da sua sorte: a causa não tem remédio. As nações e impérios formam-se graças à complacência do povo diante das iniquidades de que é alvo. Não há chefe de Estado nem conquistador que o não despreze; mas ele aceita esse desprezo, e dele vive. Deixasse o povo de ser apático ou vítima, deixasse de assistir simplesmente aos seus destinos, que a sociedade se dissiparia, e, com ela, a história sem mais. Não sejamos demasiado optimistas: nada da sua parte permite que encaremos uma tão bela eventualidade. Tal como é, representa um convite ao despotismo. Suporta as suas provações, por vezes solicita-as, e só se revolta contra elas para se precipitar noutras novas, mais atrozes do que as antigas.»
- E.M. Cioran, "Na Escola dos Tiranos"
Sem comentários:
Enviar um comentário