Se me perguntassem pelo contrário de “Homem”, eu responderia, sem hesitar: “Formigueiro”. E, não obstante, vamo-nos aproximando cada vez mais dele, do formigueiro. À medida que nos afastamos cada vez mais dele, do Homem.
Mas o mais curioso é que o formigueiro, aos poucos, lá se vai construindo em Nome do Homem, como o Inferno, geralmente, sempre se edificou em Nome de Deus. Os construtores de formigueiros são, regra geral, os mesmos que edificam infernos. Os Procuradores do Homem (também auto-denominados “humanistas”) são herdeiros dos Procuradores de Deus (ou Teófilos). Para todos eles, invariavelmente, os seus aterros são locais pré-paradisíacos, ou, pelo menos, miradouros com vista para o éden. Na maior parte do tempo, porém, não passam de antecâmaras, purgatórios, parques de suplício mascarado de diversão.
De caminho, estes operadores filantrópicos, vão crucificando o homem, vão-no agrilhoando a Cáucasos, vão-no, em suma, adiando sine die. Lá, no fundo da sua ciência epidérmica, uma certeza os anima: Mundo e Homem são incompatíveis. Não adianta, pois, tentar construir mundos para o homem, belos e refinados mundos, porque ele estraga-os e escaqueira-os a todos. Não adianta vesti-lo no melhor traje domingueiro, porque ele, pândego inveterado, cisma de ir saltar para a rua e rebolar-se na terra, enlamear-se à chuva, com os bichos e as árvores. Não adianta encher-lhe a cabeça de coisas sérias, deveres e proibições, porque ele teima em brincar, em rir e divertir-se, e, pior um pouco, em cometer toda a ordem de tropelias e disparates. De pouco serve tentar protegê-lo com redomas, porque ele adora o risco, o perigo, a guerra e enturma-se com eles como um míudo presidindo a cordéis e a todos os cães vadios da sua rua. Fatal, portanto, a conclusão: Não basta construir um Mundo para o Homem; sobretudo, há que moldar um homem para o mundo. Melhor: há que forjar e inventar um. Sem formigas não há formigueiro. Elementar, também, a tarefa destes novos demiurgos: já que a natureza não presta e produziu um homem imprestável, há que obrar contra a natureza e fabricar um homem artificial. Um homúnculo que caiba no Mundo deles; um homúnculo, como esses antigos nanoprodígios da alquimia ou da cabala, reflexo do espírito deles; um homem livre da natureza e escravo dessa sua liberdade. Livre de sentimentos, de angústias, de dúvidas, de pensamentos, enfim: livre das suas grandezas e infâmias; mas servo vitalício da sua utilidade e do seu lugar na engrenagem perfeita, imarcescível. Um homem micróbio, para viver ao microscópio.
Essa gente de cara a transbordar de boas intenções, arrumadores de planetas do universo, desconfiai deles! Esses bufarinheiros que passam na rua apregoando panaceias para todos os males e que vos vendem os males junto com a banha, mandai-os pró Diabo que os descarregou!
À entrada deste Admirável Formigueiro Novo, há uma placa severa, peremptória, que determina:
Mas o mais curioso é que o formigueiro, aos poucos, lá se vai construindo em Nome do Homem, como o Inferno, geralmente, sempre se edificou em Nome de Deus. Os construtores de formigueiros são, regra geral, os mesmos que edificam infernos. Os Procuradores do Homem (também auto-denominados “humanistas”) são herdeiros dos Procuradores de Deus (ou Teófilos). Para todos eles, invariavelmente, os seus aterros são locais pré-paradisíacos, ou, pelo menos, miradouros com vista para o éden. Na maior parte do tempo, porém, não passam de antecâmaras, purgatórios, parques de suplício mascarado de diversão.
De caminho, estes operadores filantrópicos, vão crucificando o homem, vão-no agrilhoando a Cáucasos, vão-no, em suma, adiando sine die. Lá, no fundo da sua ciência epidérmica, uma certeza os anima: Mundo e Homem são incompatíveis. Não adianta, pois, tentar construir mundos para o homem, belos e refinados mundos, porque ele estraga-os e escaqueira-os a todos. Não adianta vesti-lo no melhor traje domingueiro, porque ele, pândego inveterado, cisma de ir saltar para a rua e rebolar-se na terra, enlamear-se à chuva, com os bichos e as árvores. Não adianta encher-lhe a cabeça de coisas sérias, deveres e proibições, porque ele teima em brincar, em rir e divertir-se, e, pior um pouco, em cometer toda a ordem de tropelias e disparates. De pouco serve tentar protegê-lo com redomas, porque ele adora o risco, o perigo, a guerra e enturma-se com eles como um míudo presidindo a cordéis e a todos os cães vadios da sua rua. Fatal, portanto, a conclusão: Não basta construir um Mundo para o Homem; sobretudo, há que moldar um homem para o mundo. Melhor: há que forjar e inventar um. Sem formigas não há formigueiro. Elementar, também, a tarefa destes novos demiurgos: já que a natureza não presta e produziu um homem imprestável, há que obrar contra a natureza e fabricar um homem artificial. Um homúnculo que caiba no Mundo deles; um homúnculo, como esses antigos nanoprodígios da alquimia ou da cabala, reflexo do espírito deles; um homem livre da natureza e escravo dessa sua liberdade. Livre de sentimentos, de angústias, de dúvidas, de pensamentos, enfim: livre das suas grandezas e infâmias; mas servo vitalício da sua utilidade e do seu lugar na engrenagem perfeita, imarcescível. Um homem micróbio, para viver ao microscópio.
Essa gente de cara a transbordar de boas intenções, arrumadores de planetas do universo, desconfiai deles! Esses bufarinheiros que passam na rua apregoando panaceias para todos os males e que vos vendem os males junto com a banha, mandai-os pró Diabo que os descarregou!
À entrada deste Admirável Formigueiro Novo, há uma placa severa, peremptória, que determina:
”Proibida a entrada a Deuses e a Homens.”
Está certa, a placa. Afinal, num formigueiro, deuses e homens são ideias sem o mínimo cabimento.
1 comentário:
Já estou a armazenar o Baygon, Dum Dum, etc.
;)
A
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