Depois de várias peripécias e contrariedades, o GANDULO (Gabinete de Alarme Neutralização e Denúncia das Urdiduras do Lobby Ogre) lá conseguiu retomar os trabalhos. O principal problema prendia-se com a falta de quórum e, simultaneamente, secretário das atas. Refiro-me, em suma, ao Batnavó. Como se lembrarão os leitores da primeira hora (os outros, é conferirem os arquivos), aquando da primeira sessão, quando consultávamos as fontes no Além, o Batnavó, médium de serviço, encorporou o D.Afonso Henriques, nosso Fundador, socorreu-se dum cutelo, e saíu, desvairado, atrás da maralha, bradando por S.Jorge e morte aos mouros!...
O Batnavó, há que reconhecê-lo, nunca foi própriamente um cidadão exemplar, mas aquilo até a nós nos surpreendeu. Andou desaparecido um ror de tempo. A mãe dos filhos, a páginas tantas, compareceu desesperada na tasca -aliás, Ciber-tasca-, clamando que não o via há mais duma semana e começava a faltar a ração prás crias. Lá lhe acudimos como pudémos, através de peditório e rifas, mas do D. Afonso Henriques, a galope no Batnavó, nem sinal. Já estava mesmo a cair no esquecimento e ponderávamos a substituição do vogal desertor, quando rumores de desacatos lá pra Guimarães nos puseram com a pulga atrás da orelha. Onde é que já tínhamos visto aquilo?...
-"Eh pá, se não era o Batnavó a dar c'uma cadeira ali nos cornos dum bimbo, era o diabo por ele!" - Bradou, a certa altura da reportagem televisiva, o Caguinchas, em sobressalto.
Ficámos na dúvida. O Armindo, que é um somítico, lá aproveitou pra voltar à ladainha das saudadas do cutelo. "Era um cutelo que já estava há mais de três gerações na família, tinha-o herdado do meu pai, que o herdara do meu avô, bla-bla-bla, frito-cozido..."
Que até o Caguinchas, amigo do peito do desaparecido, desbroncou:
-"Foda-se, ó Armindo!, essa conversa do cutelo já mete nojo! Nós aqui preocupados com o Batnavó, e tu a dares-lhe com essa choraminguice de merda!..."
Bem, hoje repetia-se a cena. O Armindo a dar no cutelo e o Caguinchas a dar-lhe por causa do cutelo, e a malta toda, eu e o Dinossauro, de ar circunspecto, a corroborar o Caguinchas, quando, o Armindo, de fronte prá porta por inerência das funções balconistas, se calou de repente e adquiriu um semblante, primeiro estupefacto e depois maravilhado...
-"O meu cutelo!..." - Bramou, delirante.
-"Queres ver que lhe vai dar um treco!..." - ainda comentou o Caguinchas, entendendo mal a expressão do outro.
Nós, eu e o Dinossauro, é que, quase instintivamente, olhámos para trás, na direcção da porta...E lá estava ele, em carne e osso, e cutelo: o Batnavó.
O que se seguiu era pra ser simples, mas acabou por ser complicado. Muito complicado.
Isto, porque, por um lado, nós, eufóricos, queriamos celebrar o regresso do nosso secretário de atas; mas, por outro, o cutelo e D.Afonso Henriques ao volante do cutelo, não pareciam pelos ajustes.
Poupo-vos os detalhes e as tribulações, que não foram pequenas. Importa registar é que, ao fim dum bom bocado, e muita diplomacia, o Batnavó lá condescendou em sentar-se à mesa e retomar os trabalhos.
A diferença, agora, é que o tratamos por Vossa Majestade e tivemos que jurar vassalagem. O gajo com o cutelo não brinca!...
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