O Caguinchas, é meu dever informar, encontra-se, há cerca duma semana, na triste situação de desempregado. Precisamente, desde o dia em que o resto da quadrilha foi presa. Desde essa data fatídia, há que reconhecê-lo, encheu-se de melancolias e cuidados sobressalentes. Queixa-se até que o artista, a solo, não é respeitado e fica-se pela tasca, de volta dos jornais e das cuscuvilhices do bairro.
Foi nessa inusitada ocupação que o encontrei. Mirava, algo vagamente, o tecto e duas moscas que nele copulavam, ao mesmo tempo que escutava de esguelha, pareceu-me, as últimas da filha do merceeiro arguida em baldas diversas. Mas o mais extraordinário aconteceu quando me sentei à mesa e o saudei:
-"Então, Caguinchas, isso vai?..."
Encarou-me, com um olhar esquisito e assim, à queima-roupa, sem deixar sequer a bola bater no chão, disparou:
-"Ouve lá, ó Dragão, tu que és um gajo com miolos, achas que há vida inteligente noutros planetas?..."
Não escancarei a cremalheira, mas quase. Mas, depois de enfiar um trotil bem atestado no bucho, até lhe achei piada. Atirei-lhe com a resposta às ventas, numa defesa quase instintiva:
-"Espero bem que sim, ó Caguinchas! Porque neste já quase não há nenhuma!..."
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